Uma obra do artista mineiro Aleijadinho foi descoberta pelo Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais da Universidade Federal de Minas Gerais (Cecor/UFMG). A imponente escultura de São Francisco Penitente, de quase um metro e meio de altura, fazia parte do acervo da Igreja de São Caetano, em Cipotânea, na Zona da Mata, e foi reconhecida como obra de Aleijadinho.
Moradores da cidade suspeitavam há décadas de que havia um legítimo Aleijadinho escondido entre as esculturas da paróquia. As dúvidas sobre o verdadeiro autor começaram a ser respondidas em 2016, quando a obra foi enviada ao Cecor para ser restaurada. Os reparos fizeram parte do Projeto Extramuros, que realizou a conservação e/ou restauração de 24 esculturas em diversas cidades de Minas.
Após as análises, o órgão concluiu que a imagem foi produzida por Aleijadinho entre os anos de 1790 e 1792, na mesma região em que foi encontrada. Além das técnicas de reconhecimento, documentos comprovam que o artista viveu em Rio Espera neste período, quando trabalhou no retábulo-mor da Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto. Rio da Espera está a 13 quilômetros de Cipotânea e era administrativamente responsável pela cidade no final do século XVIII.
Antes de ser enviada ao Cecor, a escultura estava guardada em uma sala do subsolo da residência paroquial. A imagem não ocupava nenhum lugar de destaque da igreja e não exercia sua função devocional. Mas, depois que a autoria de Aleijadinho foi atestada, a escultura foi recebida com festa pela comunidade.
No dia 19 de abril deste ano, a Igreja de São Caetano realizou uma cerimônia religiosa para celebrar o retorno da imagem para a paróquia. Após a missa, uma edícula foi construída especialmente para abrigar a escultura de São Francisco Penitente. Ela foi colocada no corredor lateral do salão dos fiéis, para reassumir a sua função devocional.
Como autoria foi comprovada?
A autenticidade foi confirmada após um longo trabalho de reconhecimento. De acordo com a diretora do Cecor, Alessandra Rosado, primeiramente os pesquisadores analisam tudo o que já foi escrito e publicado sobre o artista. É o que chamam de revisão de literatura.
O passo seguinte é comparar a imagem minuciosamente e buscar traços em comum com outras obras do mesmo artista. “Nesse trabalho, vamos observar os detalhes: a forma de fazer o cabelo, os olhos, a orelha, o nariz, a boca, a barba”, detalha.
Também são analisadas as técnicas e materiais utilizados, com base nas madeiras e tintas comuns da época. “Exames como a radiografia, por exemplo, permitem examinar a obra em sua estrutura, para que ela possa ser comparada com outras obras documentadas”, explica a diretora.
Após a análise, a instituição reconhece a autoria da obra, afirmação que é sustentada pela credibilidade da instituição e dos profissionais que a realizam. Segundo Alessandra, todos os exames realizados na escultura foram importantes para atestar a originalidade da obra. Foram identificados aspectos materiais e técnicos, e características de obras do fim do século XVIII.