Seis candidatos à Presidência da República se reuniram na noite deste domingo (28) para o debate da Band, o primeiro desde o início da campanha eleitoral, que começou na semana passada. Ao longo dos três blocos do encontro, os presidenciáveis fizeram perguntas entre si e responderam a questionamentos de jornalistas do ‘pool’ de emissoras que organizaram o debate: TV Band e TV Cultura, portal de notícias UOL e o jornal Folha de S. Paulo.
Logo no primeiro bloco, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL) ficaram frente a frente e o petista foi questionado sobre as denúncias de corrupção que marcaram os governos do Partido dos Trabalhadores.
Após a apresentação dos candidatos, Bolsonaro escolheu o petista para responder sobre corrupção e disse que, durante os governo do PT, a Petrobras se endividou em cerca de R$ 900 bilhões, o que daria para realizar obras da transposição do rio São Francisco por 60 vezes. "É para isso que você quer voltar?”, questionou o presidente e candidato à reeleição.
Em sua resposta, Lula chamou de “inverdades” os números citados por Bolsonaro e relembrou ações do seu governo no combate à corrupção.
“As pessoas precisam saber que falar inverdades não vale a pena na TV. Citar números mentirosos, não compensa. Não teve nenhum presidente da República que fez mais investigação do que nós. Fizemos o portal da transparência, a Lei de Acesso à Informação, a Lei contra o Crime Organizado, fizemos o Coaf funcionar”, respondeu.
Em sua réplica, Bolsonaro citou o ex-ministro da Fazenda de Lula, Antonio Pallocci que, em delação premiada, disse que houve aparelhamento do governo durante a gestão do PT.
“Segundo o Palocci, tudo no seu governo foi aparelhado, exceto o Banco Central. Se todo mundo fez malfeitos, só o presidente não sabia? Ele também disse que foi aberta uma conta no exterior de R$ 300 milhões e que você recebia pacotes de R$ 50 mil. Essa roubalheira toda era para conseguir apoio dentro do Parlamento”, afirmou, ao dizer que o governo do petista foi o mais corrupto da história do Brasil.
Em sua tréplica, Lula ignorou a afirmação de Bolsonaro sobre corrupção e listou uma série de ações que atribuiu ao seus dois mandatos como presidente da República.
“Meu governo foi marcado pela maior política de inclusão social, que teve o maior aumento de salário mínimo, maior investimento de agricultura familiar, foi o que mais fez investimentos na educação. Meu governo deveria ser reconhecido exatamente por isso”, respondeu.
Na sequência, Bolsonaro foi criticado pelo candidato Ciro Gomes (PDT) que disse ter ficado “chocado” com uma declaração dele em entrevista na última sexta-feira (29), quando disse que não existe “fome para valer” no Brasil.
“Qualquer pessoa que anda nas ruas, que não tenham trocado o coração por uma pedra, sabe que a fome está no lar de muitos milhões de brasileiros. As mães sabem o que é uma criança dizer: mãe, estou com fome. O senhor não teme que isso seja interpretado como conivência com isso?”
“Cada um interpreta as informações como acha melhor”, respondeu Bolsonaro. Em seguida, o presidente disse que a inflação no país está entre as menores do mundo e que o governo está colaborando com a geração de emprego.
“Fizemos milagre durante a pandemia. Lamentamos as mortes, mas investimos para que empregos não fossem destruídos. Atendemos os mais necessitados”, disse. Em seguida, o presidente afirmou que os que estão passando fome podem se inscrever no Auxílio-Brasil, programa de transferência de renda que repassa R$ 600 por mês até o fim do ano a famílias em pobreza e extrema pobreza.
Segundo bloco
No segundo bloco, o clima esquentou entre os candidatos com a participação de jornalistas dos veículos que organizaram o debate. Eles fizeram perguntas e escolheram os presidenciáveis que iriam responder e comentar os questionamentos.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) se irritou com uma pergunta da jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura. A jornalista pediu que Ciro Gomes respondesse a uma pergunta sobre a queda na cobertura vacinal no país e que o presidente Bolsonaro respondesse.
“Em que medida acha que a desinformação sobre vacinas, difundida inclusive pelo presidente da República pode ter contribuído para agravar também para desacreditar a população brasileira?”
Depois da resposta de Ciro, Bolsonaro disparou contra Vera: “Não podia esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você deve ter alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido em um debate como esse? Fazer acusações mentirosas. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”, atacou.
Após a declaração, candidatos como Ciro Gomes, Simone Tebet e Lula demonstraram solidariedade com a jornalista pelos comentários feitos pelo presidente.
Assim como aconteceu no primeiro bloco, Lula e Bolsonaro foram acionados mais uma vez para que houvesse um embate entre os dois e o tema da pergunta do jornalista Rodolfo Schneider, da Band, foi os programas de transferência de renda, como Auxílio-Brasil e o Bolsa Família.
Bolsonaro criticou este último, que marcou as gestões do governo do PT e disse que elevou o valor dos repasses a famílias em situação de pobreza e extrema pobreza e disse que manterá o benefício no valor de R$ 600 para o ano que vem - mesmo que não esteja previsto no orçamento do governo federal.
“Até o ano passado, era de R$ 192 em média e passamos para R$ 400, de forma definitiva, contra o voto do PT na Câmara. Ato contínuo, por uma PEC, acrescentamos R$ 200 até o final do ano. Vamos manter esse valor para o ano que vem”, disse o presidente.
Em seguida, Lula lembrou que o aumento no valor do Auxílio-Brasil não está garantido para 2023, já que o projeto não consta na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
“Importante lembrar que a manutenção dos R$ 600 não está na LDO que foi mandada para o Congresso Nacional. Significa que existe uma mentira no ar. Uma outra inverdade é que tem dois anos que o PT reivindica os R$ 600 no Bolsa Família, a bancada do PT votou favorável porque acha que o povo tem que receber efeticamente esse auxílio, mas é preciso que a gente faça essa política concomitante com o crescimento econômico. Coisa que não está pensado em nenhum momento”, criticou.
Na sequência, o presidente Bolsonaro disse que Lula mentia.
“O PT foi contra os R$ 400 lá atrás. Votou contra. Para de mentir. Está no seu DNA mentir e inventar números”, atacou
As críticas de Bolsonaro a Lula marcaram outros momentos do debate e o presidente se referiu a seu adversário como “ex-presidiário” por duas vezes. Em uma delas, Lula teve um direito de resposta concedido a seu favor.
“As razões pelas quais eu fui preso é porque era preciso tirar o Lula da disputa para que ele pudesse ser eleito. Eu, nesse processo todo, estou muito mais limpo que ele ou qualquer parente dele. Fui julgado, considerado inocente”, afirmou.
Lula e Ciro Gomes foram colocados frente a frente após uma pergunta da jornalista Patrícia Campos Mello, que questionou sobre a divisão da esquerda no país e quis saber se um candidato apoiaria o outro mesmo tendo trocado críticas duras.
O petista afirmou que trata Ciro Gomes com deferência, porque ele tem “o coração mais mole do que a língua” e que espera que o pedetista “não vá para Paris” nestas eleições.
“Espero que fique no Brasil, que a gente sente para conversar e que a gente possa construir a verdadeira aliança política, que ele sabe que vai ser construída”, falou arrancando risadas do adversário.
Ciro devolveu, afirmando que o petista é “encantador de serpentes”.
“Eu atribuo a Lula a contradição econômica de Lula, a contradição moral de Lula e do PT, o Bolsonaro. Não acho que Bolsonaro desceu de Marte, foi um protesto absolutamente reconhecido por mim contra a devastadora crise econômica que o PT deixou”, disse.
Terceiro bloco
No terceiro bloco, candidatos voltaram a fazer perguntas entre si, o que gerou novos embates.
Ao se dirigir a Soraya Thronicke (União Brasil) sobre as realizações de seu governo, Lula disse que ela até não poderia saber sobre as melhorias para as classes mais baixas, mas que o “motorista, o jardineiro e a empregada doméstica” dela sabiam.
Thronicke, por sua vez, quando questionada sobre o fundo eleitoral dos partidos pelo candidato Felipe D’Avila (Novo) disse que nem todos os candidatos têm o patrimônio dele e que o fundão ajuda a financiar as candidaturas de mulheres.
“Candidato, nem todos têm o patrimônio que o senhor tem e que muitos doadores de vocês têm para tocar uma campanha, que é cara. Muito cara. Se nós não tivéssemos fundo eleitoral para financiar uma campanha, nós, principalmente nós mulheres, jamais teríamos acesso à política”, criticou.
O ex-presidente Lula (PT) e a senadora Simone Tebet (MDB) fizeram uma dobradinha para criticar o presidente Jair Bolsonaro (PL) na condução da pandemia. O petista abriu a questão elogiando a participação de Tebet na CPI da Covid e perguntou sobre denúncias de corrupção na compra de doses de vacina durante a pandemia. “O que explica o sigilo de 100 anos para ministro da saúde que agiu de forma irresponsável no trato da Covid?”, perguntou.
Tebet criticou a condução de Bolsonaro e disse que saiu indignada da CPI, que o contrato da Covaxin era “escabroso”, mas aproveitou para alfinetar o ex-presidente: “A corrupção não começou agora, vem de governos passados”, afirmou.
Em seguida, os candidatos foram perguntados sobre propostas para questões como a limitação do acesso a armas de fogo, a representatividade de mulheres nos ministérios e a violência de gênero.
“Arma só serve para matar. Bolsonaro foi assaltado em uma motocicleta e o bandido levou a arma dele. No interior do Brasil, onde não tem polícia para chamar, eu concordo você ter uma arma para se defender. Mas essa frouxidão só serve para reforçar a milícia”, disse Ciro Gomes.
Soraya Thronicke disse que sempre votou a favor da flexibilização das armas.
“Nossa segurança pública está sucateada. Vou dar autonomia para a Polícia Federal com mandato de diretor-geral intercalado com o do presidente, para não ter interferência”, disse.
Sobre a participação das mulheres na política, Lula relembrou suas indicações de ministras para o governo federal e para o Supremo Tribunal Federal (STF), mas evitou se comprometer com a paridade entre homens e mulheres em um eventual novo governo.
“Não sou de assumir compromisso para indicar metade de mulheres, indicar religioso, indicar negro, indicar homem. Você vai indicar as pessoas que têm capacidade para assumir determinados cargos”, disse.
Já a candidata Simone Tebet (MDB) aproveitou a fala do adversário para assumir o compromisso publicamente. “Meu ministério será paritário entre homens e mulheres, sim. Basta ter competência administrativa e isso nós sabemos que as mulheres têm”, garantiu.
Questionado sobre políticas públicas para reduzir a violência de gênero, o candidato Felipe D’Avila disse que os índices seriam fruto de impunidade e que há iniciativas para combater o crime. No entanto, o candidato do Novo cometeu uma gafe ao citar a “polícia Maria da Paz”, quando queria se referir à “Lei Maria da Penha”.
Bolsonaro destacou que o número de mortes violentas no país vem caindo nos últimos anos - o que incluiria também as mulheres. “Uma política universal”, afirmou. “Ao valorizar as mulheres, você diminui a violência, como por exemplo, a titulação de terras, o auxílio emergencial e o voluntariado praticado pela primeira-dama. A solução está aí", afirmou.