O advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Fabio Wajngarten, criticou o depoimento do hacker Walter Delgatti Neto à CPMI dos atos antidemocráticos nesta quinta-feira (17). Em uma série de tuítes, Wajngarten negou grampo ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal, e a ocorrência de reunião individual do hacker com duração de uma hora e trinta minutos entre ele o então presidente Bolsonaro. “Mente e mente e mente!”, escreveu. “Um presidente que sempre jogou dentro das quatro linhas pediria para fraudar as eleições? Mente e mente e mente!”, acrescentou.
Wajngarten também compartilhou uma fotografia do advogado de Delgatti, Ariovaldo Moreira, segurando a biografia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escrita pelo jornalista Fernando Morais. Na legenda, Moreira convidava os seguidores para uma noite de autógrafos e afirmava que os valores arrecadados na ocasião com a venda do livro seriam revertidos para o hacker. “Porta da esperança ou topa-tudo por dinheiro?”, perguntou Wajngarten em tuíte.
Depoimento de Delgatti compromete Bolsonaro
O hacker comprometeu o ex-presidente Jair Bolsonaro em uma série de denúncias feitas na manhã desta quinta-feira (17) em depoimento à relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA). Segundo Delgatti, Bolsonaro pediu a ele que provasse a alegada insegurança das urnas eletrônicas e do processo eleitoral e que assumisse um suposto grampo telefônico contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Primeiro encontro no Palácio da Alvorada
Menos de uma hora após o início do depoimento à CPMI dos atos antidemocráticos, o hacker Walter Delgatti Neto admitiu encontros com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em meio à campanha eleitoral do ano passado.
A primeira reunião com o chefe do Executivo aconteceu no Palácio da Alvorada, em Brasília, com intermédio da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Ali também estiveram à ocasião o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o ex-assessor de gabinete coronel Marcelo Câmara.
“Tomei café da manhã com ele [Jair Bolsonaro] e ele disse que eu estaria salvando o Brasil”, afirmou Delgatti. “A conversa foi para falar sobre as lisuras das eleições. Por ser o presidente da República, eu fui. Lembrando que eu estava desamparado e sem emprego”, acrescentou. O hacker disse à relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que o presidente ordenou que ele fosse transportado até o Ministério da Defesa. “Cheguei [no Alvorada] e a conversa foi bem técnica. Até que o presidente me disse: ‘a parte técnica eu não entendo, mas vou mandá-lo ao Ministério da Defesa e você explica aos técnicos’”, disse.
Delgatti detalhou que o coronel Marcelo Câmara o levou até o ministério pela porta dos fundos. “Fui cinco vezes, ao todo, no Ministério da Defesa. Falei com o ministro Paulo Sérgio Nogueira e com o pessoal do TI [Tecnologia da Informação]”, afirmou. “Ele [Bolsonaro] me assegurou um indulto caso eu fosse preso referente às ações sobre a urna eletrônica”, disse.
Ligação intermediada por Zambelli
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também é acusado de orientar que o hacker Walter Delgatti Neto assumisse um grampo telefônico feito contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. “O presidente precisava que eu assumisse o grampo. Eu era conhecido como o ‘hacker da Lava-Jato’ àquela hora. A ideia era que ‘o garoto da esquerda’ [que vazou as informações da Lava-Jato] assumisse esse grampo. Concordei em assumir porque era proposta de um presidente da República”, afirmou Delgatti em depoimento à CPMI dos atos antidemocráticos.
Cronograma da ligação com Bolsonaro. O pedido feito pelo ex-presidente Jair Bolsonaro a Delgatti, segundo o próprio hacker, foi intermediado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Na ocasião, conforme o relato de Delgatti, o motorista de Zambelli o buscou em Ribeirão Preto, em São Paulo, e o levou até as imediações de uma cidade próxima onde a parlamentar participava de ato eleitoral.
“Eu estava em casa, em Ribeirão Preto, pela manhã, quando a deputada Carla entrou em contato comigo e disse que o motorista ia me buscar para eu me encontrar com ela. Ela disse que o assunto era urgente”, afirmou. “Ele [motorista] pegou a rodovia Anhanguera e foi até esse posto [de gasolina] próximo a uma cidade onde ela realizava campanha”, acrescentou.
No encontro, Zambelli contatou o então presidente Jair Bolsonaro para ele conversar com Delgatti. “Ele me pediu para assumir o grampo”, adiantou. “Ele [Bolsonaro] disse por telefone que esse grampo foi realizado por agentes de outros países e que, em troca de eu assumir o grampo, me daria o indulto. Ele também disse: ‘se alguém mandar te prender, eu mando prender o juiz’ e deu risada”, concluiu.