O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), tem sofrido críticas por declarações a respeito do Nordeste. Em entrevista publicada nesse sábado (5) pelo jornal O Estado de S. Paulo, Zema defendeu
“A ignorância duvida porque desconhece o que ignora. Governador Zema, o norte de Minas Gerais tem 249 municípios incluídos como região nordeste, têm os mesmos benefícios da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) , Banco Nordeste, etc. Seu discurso divisionista é repugnante, pobre, num estado de estadistas como JK, Tancredo, Milton Campos, Valadares e Afonso Pena”, publicou Otto, na rede social “X”, anteriormente chamada de Twitter.
O governo de Minas foi procurado para comentar a repercussão das declarações do governador, mas preferiu não se posicionar neste momento. Ao Estadão, Zema explicou as diretrizes do recém-formalizado
“Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso. Eles queriam colocar um conselho federativo com um voto por Estado. Nós falamos, ‘não senhor’. Nós queremos (votação) proporcional à população. Por que (com) sete Estados em 27, iríamos aprovar o quê? Nada. O Norte e Nordeste é que mandariam. Aí, nós falamos que não. Pode ter o Conselho, mas proporcional. Se temos 56% da população, nós queremos ter peso equivalente”, disse.
Segundo o Consórcio Nordeste, Zema mostrou ter uma “leitura preocupante” do Brasil. O documento com críticas a ele é assinado por João Azevêdo (PSB), líder do bloco e governador da Paraíba.
“Ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste, (o governador de Minas) indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste, sabidamente regiões que vem sendo penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento”, aponta o grupo.
Ainda conforme Azevêdo, o Consórcio Nordeste defende a “união nacional”.
“Indicar uma guerra entre regiões significa não apenas não compreender as desigualdades de um país de proporções continentais, mas, ao mesmo tempo, sugere querer mantê-las, mantendo, com isso, a mesma forma de governança que caracterizou essas desigualdades. A união dos estados do Sul e Sudeste num Consórcio interfederativo pode representar um avanço na consolidação de um novo arranjo federativo no país. Esse avanço, porém, só vai se dar na medida em que todos apostarmos num Brasil que combate suas desigualdades, respeita as diversidades, aposta na sustentabilidade e acredita no seu povo”, lê-se em outro trecho do comunicado.
‘Vaquinhas que produzem pouco’
Ainda ao tratar da reforma tributária, Zema criticou a ausência do Sul e do Sudeste em fundos de combate à pobreza que devem ser criados a partir da reforma tributária.
“Sul e Sudeste vão continuar com a arrecadação muito maior do que recebem de volta? Isso não pode ser intensificado, ano a ano, década a década. Se não você vai cair naquela história, do produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito. Daqui a pouco as que produzem muito vão começar a reclamar o mesmo tratamento. É preciso tratar a todos da mesma forma”, afirmou.
Lideranças do PT engrossam coro a críticas
As críticas a Zema foram endossadas por interlocutores do PT. Líder da coalizão de oposição ao governo mineiro na Assembleia Legislativa, o petista Ulysses Gomes insinuou que Zema coloca “interesses pessoais acima do povo brasileiro”.
“Como é triste para o nosso estado ter um governador com a mentalidade de Zema. Enquanto o presidente Lula defende a união do País, por aqui assistimos o mais puro suco de “bolsonarismo” nas falas xenofóbicas do governador, insuflando ainda mais o radicalismo no Brasil”, acusou.
Já a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT, chamou Zema de “preconceituoso” e “atrasado”.
“Sou do Sul e essa fala é inadmissível. Temos orgulho no nordeste, do povo nordestino. Queremos a união do povo brasileiro por um país justo, solidário e livre de discriminação”, assinalou.