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‘Quase 50% do valor da obra foi exigido em contrapartidas’, diz CEO da Arena MRV

Em depoimento à CPI do Abuso de Poder, CEO da Arena MRV detalhou os gastos exigidos pela gestão do ex-prefeito Alexandre Kalil

CEO da Arena MRV, Bruno Muzzi, prestou depoimento à CPI do Abuso de Poder nesta quinta-feira

Os custos da obra com a construção da Arena MRV, novo estádio do Atlético, alcançaram até agora o valor de R$ 750 milhões. Outros R$ 335 milhões - quase metade do valor gasto com a obra - foram desembolsados para pagar contrapartidas exigidas pela prefeitura de Belo Horizonte.

As informações foram apresentadas pelo CEO da Arena MRV e do Atlético, Bruno Muzzi, que prestou depoimento na CPI do Abuso de Poder, da Câmara Municipal de BH. Os vereadores apuram se as contrapartidas exigidas para a construção do estádio foram impostas pela gestão do ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD) para prejudicar o andamento das obras.

“Hoje a obra vai chegar na casa de R$ 750 milhões, temos comprometidos R$ 170 milhões em contrapartida, mais o que está colocado na licença, na cada de R$ 135 milhões. Quase 50% do valor da obra em contrapartidas”, explicou Bruno Muzzi.

O CEO da Arena do Galo afirmou ser um defensor das contrapartidas exigidas para mitigar o impacto de grandes obras, mas afirmou que a falta de clareza e previsibilidade nas negociações com o poder público podem representar um grave problema para os empreendimentos.

“Como empreendedor eu sou um defensor de contrapartidas, acho que todo empreendimento tenha contrapartidas para mitigar os impactos, mas o que é importante é ter um processo claro de licenciamento com percentual máximo de contrapartidas. Isso é fundamental. Se a gente fosse fazer a realidade dessa obra em 2018 sabendo que quase 50% seria cobrado em contrapartidas não seria viável”, afirmou Muzzi.

“Quando fizemos o valor, lá atrás, pelo tamanho do impacto, imaginávamos que cerca de 10% a 15%, nós gastaríamos com contrapartidas. Em outros lugares, o percentual é de 3% a 4%. Mas imaginávamos que seria mais, entre 10% e 15%", disse.

Ele ressaltou que as obras geraram mais de 13 mil empregos na capital mineira durante o período de pandemia, sem receber qualquer tipo de incentivo por parte do poder público.

“Essa obra, que é a maior obra do estado desde a construção do centro administrativo, não teve nenhum incentivo. Zero incentivos. Geramos 4.180 empregos diretos, 2.100 indiretos e 6.155 empregos induzidos. Ao todo foram 13 mil empregos gerados em um momento de pandemia”, disse Muzzi.

“Quando tudo fechava, a gente gerava empregos e valorizava a região. É incontestável o benefício social que uma obra dessa traz para a cidade”, continuou.

O presidente da CPI, vereador Wesley Moreira (PP), questionou o aumento do valor cobrado pelo poder público municipal em período tão curto e classificou a medida como exemplo claro que abuso de poder.

“Vocês estão fazendo a maior obra do estado e receberam 50% de acréscimo do custo em contrapartidas? Vocês foram surpreendidos com 335 milhões de reais? Se isso não é abuso de poder, eu não sei mais o que é", afirmou o parlamentar.

A reportagem da Itatiaia entrou em contato com a assessoria do ex-prefeito Kalil para comentar as declarações do CEO da Arena MRV, mas até o momento não houve retorno.

Editor de Política. Formado em Comunicação Social pela PUC Minas e em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Já escreveu para os jornais Estado de Minas, O Tempo e Folha de S. Paulo.