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Uso de redes sociais pode afetar cérebro de adolescentes

Pesquisa mostra que adolescentes que verificam redes sociais frequentemente apresentam maior sensibilidade neural em partes do cérebro

Adolescentes que relataram uso frequente de redes sociais apresentaram maior sensibilidade em algumas áreas do cérebro

O fluxo constante e imprevisível de feedback social — em forma de curtidas, comentários, notificações e mensagens — oferecido pelas mídias sociais pode afetar o desenvolvimento cerebral dos adolescentes e torná-los hipersensíveis a opiniões alheias ao longo do tempo. Pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, nos EUA, apontam que esse resultado está relacionado ao uso excessivo desses recursos.

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O levantamento foi desenvolvido ao longo de três anos. Foram avaliados 169 alunos de sexta e sétima séries (entre 12 e 13 anos no início da investigação) da zona rural da Carolina do Norte para determinar como os hábitos de acesso às redes sociais afetavam seu desenvolvimento. Eva Telzer, professora assistente de psicologia e neurociência da instituição e principal autora do estudo, destaca que isso ocorre com os jovens que verificam habitualmente suas mídias sociais. “E isso prepara o modo como o cérebro continua a se desenvolver na idade adulta.”

Além de relatarem seu comportamento nas redes sociais, os estudantes foram submetidos a exames anuais de ressonância magnética funcional de seus cérebros. Isso permitiu observar as respostas neurais a exibições de sinais sociais positivos e negativos. Os participantes que diziam verificar as redes sociais com mais frequência exibiram maior sensibilidade neural em algumas partes do cérebro, como a amígdala. Já aqueles que o fizeram com menos regularidade apresentaram menos sensibilidades nessas áreas.

Para Eva, a sensibilidade amplificada pode tanto levar a comportamentos compulsivos posteriores nas redes sociais quanto refletir uma mudança neural adaptativa que ajude os adolescentes a navegarem em seus mundos sociais. “As entradas sociais são frequentes, inconsistentes e muitas vezes recompensadoras, o que as torna reforçadores poderosos que podem condicionar os usuários a verificarem as mídias sociais repetidamente”, explica.

Entre os possíveis prejuízos desencadeados pelo uso de redes sociais por adolescentes está o impacto na imagem e o aumento de depressão e tendências suicidas. Segundo o levantamento TIC Kids Online Brasil 2019, divulgado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil ( CGI.br), quase 90% da população entre 9 a 17 anos é usuária de internet no Brasil. Isso equivale a 24,3 milhões de crianças e adolescentes. O smartphone é o principal dispositivo usado por esse público.

Eva lembra que não é possível afirmar que as mudanças neurais resultaram em alterações comportamentais, como aumento da ansiedade ou tendências viciantes. Além disso, apesar da correlação entre hábitos das redes sociais e maior sensibilidade a feedbacks, não há certeza ainda de que um efeito é consequência do outro.

Pausas frequentes

Neha Chaudhary, diretora médica da BeMe Health e psiquiatra infantil e adolescente no Hospital Geral de Massachusetts, lembra que as redes sociais oferecem feedbacks constantes: pode ser uma simples curtida em um post ou um comentário maldoso. “Encorajo todos — especialmente os adolescentes — a fazerem pausas frequentes no uso de mídia social”, diz, em entrevista à CNN.

Embora não tenha participado do estudo, ela pondera que as redes sociais podem realmente estar mudando o cérebro dos jovens. Ela ressalta, porém, que o processo pode ser o contrário: os estudantes podem passar a utilizar mais as redes sociais por experimentarem transformações em seu desenvolvimento cerebral. Por isso, aconselha os jovens a se conectarem com os amigos pessoalmente e a se sentirem mais presentes. “Separados do fluxo constante, muitas vezes causador de ansiedade, de informações sobre o mundo e a vida de outras pessoas.”