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Riscos do Power Slap, tapa na cara que virou esporte: concussão e doença cerebral degenerativa

Esporte é criticado pelas questões relativas à segurança dos praticantes e também pelo nível de violência

Campeonato de tapas no rosto é visto com preocupação pela comunidade ligada à saúde

O Power Slap, liga de tapas na cara, é criticado por autoridades de saúde especialmente pelos potenciais danos ao cérebro a partir das concussões. O torneio pode ser realizado desde 2022 em Nevada, nos Estados Unidos, e tem à frente no projeto o empresário estadunidense Dana White, presidente do Ultimate Fighting Championship (UFC).

No Power Slap, os golpes são dados de forma revezada. Cada lutador bate no rosto do outro com a mão aberta, e o golpeado tem até um minuto para se recuperar e golpear o oponente.

Descumprimento de regras e decisões dos juízes também podem definir uma luta. O médico estadunidense Chris Nowinski, ex-lutador de luta greco-romana e diretor-executivo da Concussion Legacy Foundation chamou, em entrevista à Associated Press (AP) a luta de tapas como “uma das coisas mais estúpidas que você pode fazer”.

“Não há nada divertido, não há nada interessante e não há nada esportivo. Eles estão tentando disfarçar uma atividade realmente estúpida para tentar ganhar dinheiro”, completou.

O risco de uma Encefalopatia Traumática Crônica, ou CTE, também é colocado constantemente em pauta. Trata-se de uma doença cerebral degenerativa que pode ser causada por golpes na cabeça de forma repetida.

Nowinski ainda foi além e defendeu outras lutas, como o boxe, em comparação com o Power Slap. “Você pode escapar de socos (...) você está tirando tudo o que é interessante de assistir e tudo que é esportivo (do boxe) e apenas fazendo a parte do dano cerebral”.

Os eventos da Power Slap League contam com um médico supervisor e um médico ou assistente médico, além de três paramédicos e três ambulâncias. Apesar disso, a Associação de Lesões Cerebrais da América (BIAA) também divulgou nota contra o evento de tapas.

“Pela natureza das regras deste evento, que estipulam que os participantes não estão autorizados a defender golpes recebidos, você está permitindo uma situação em que os participantes sofram concussões repetidas para entretenimento. Não há esporte aqui”, escreveu a BIAA, em trecho da carta.

“Independentemente dos procedimentos em vigor para prevenir concussões após o fato, muitos na comunidade médica levantaram questões sobre como este esporte foi aprovado pela sua comissão”, completou.

Stephen Cloobeck, que presidiu a Comissão de Nevada no outono de 2022, quando a luta foi legalizada no estado, afirmou que a decisão o incomoda. “Cometi um erro (...) Não estou feliz com isso”, afirmou, à AP.

A última edição do Power Slap foi em agosto. Já a próxima, a quinta, será em outubro.

Rosto desfigurado - Imagens fortes

Em janeiro, em um torneio semelhante ao modelo adotado pelo Power Slap, um competidor ficou com o rosto desfigurado - assista, ao fim desta matéria, ao vídeo com imagens fortes. Nowinski foi às redes sociais, compartilhou as imagens e fez um novo alerta.

“Acredito que os adultos podem optar por realizar trabalhos perigosos se compreenderem os riscos e se forem feitos esforços razoáveis para protegê-los”, escreveu.

“Mas golpes na cabeça sem defesa são simplesmente tristes. Isso nos lembra que as pessoas que não assumem riscos muitas vezes exploram aquelas que assumem”, completou.

Matheus Muratori é jornalista multimídia com experiência em muitas editorias, mas ama a área esportiva. Faz cobertura de futebol, basquete, vôlei, esportes americanos, olímpicos e e-sports. Tem experiência em jornal impresso, portais de notícias, blogs, redes sociais, vídeos e podcasts.