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De Banda Eva a Skank: Os maiores sucessos da música brasileira em 1993

Há 30 anos, ritmos como o axé e o pop rock dominaram as paradas radiofônicas e legaram clássicos para a posteridade

Em 1993, a Banda Eva gravou o seu primeiro disco e estourou nas paradas de sucesso com Ivete Sangalo nos vocais

Se, para o mundo, o ano de 1968 foi aquele que não terminou, devido às mudanças comportamentais e políticas provocadas pelas rebeliões juvenis, que culminaram com a contracultura, não há dúvidas de que, no Brasil, o ano de 1993 foi um dos mais prolíficos para a música brasileira, com sucessos que embalaram gerações e seguem tocando os corações dos mais jovens. Na época, ritmos como o axé e o pop rock dominaram as paradas radiofônicas e legaram verdadeiros clássicos para a posteridade.

“Beija-Flor” (axé, 1993) – Xexéu e Zé Raimundo

“Música tem a ver com as nossas frequências e vivências. Essas pessoas, a Daniela Mercury, Gaby Amarantos, traduzem o país que elas conhecem, e que pode não ser perfeito, mas é o que existe, e de uma maneira muito bonita e simples”, avalia Marina Lima. Ivete Sangalo também detém a admiração da entrevistada.

“Paro para assisti-la quando aparece na televisão, ela é uma força que me aproxima de um universo do qual não faço parte, distante, e dessa maneira consigo me conectar um pouco”. Da lavra do axé, Marina também registrou “Beija-Flor”, êxito do grupo Timbalada, de Xexéu e Zé Raimundo, lançada em 1993. A versão de Marina chegou à praça no ano 1995.

“Piano na Mangueira” (samba, 1993) – Tom Jobim e Chico Buarque

A sofisticação da música de Tom Jobim aliada à poesia de Chico Buarque se pôs a serviço da mais celebrada escola de samba em canções: a Estação Primeira de Mangueira. Desse encontro nasceu “Piano na Mangueira”, lançada por Chico no álbum “Paratodos”, em 1993. Posteriormente, seria regravada pelo próprio Tom, Gal Costa, Leila Pinheiro, Zimbo Trio, Hamilton de Holanda, Jamelão e muitos outros. A letra destaca as figuras folclóricas do morro, como o malandro que se veste de branco e chapéu de palha, e a cabrocha que “pendura a saia no amanhecer da quarta-feira”. Para completar, sobe o piano!

“Todas As Mulheres do Mundo” (rock, 1993) – Rita Lee

Rita Lee havia prometido uma canção para homenagear Leila Diniz em 1972, quando a atriz morreu aos 27 anos em um trágico acidente de avião. “Todas as mulheres do mundo”, título retirado do filme que Domingos Oliveira ofereceu à ex-mulher e que também explicita a relação de reverência e fascínio que Leila exercia sobre o diretor; só ficou pronta em 1993.

Um rock ligeiro, rasgado, sem lero-lero, sem blá-blá-blá, com o espírito de Leila em seu embrião. E de todas aquelas que Rita cita em sua ode à mulher moderna, dentre elas: Dercy Gonçalves, Roberta Close, Dolores Duran, Luiza Erundina, Hortência, Ruth Escobar e a própria mãe. A música foi regravada, com gana, por Cássia Eller.

“Adeus Bye, Bye” (axé, 1993) – Guiguio, Chico Santana e Juci Pita

Ela é a estrela que há mais tempo reina na música brasileira. Recordista de vendas, sucesso de Norte a Sul do Brasil, Ivete Sangalo arrasta multidões em trios elétricos com a mesma gana e força que recebe elogios dos críticos mais elevados, ao cantar sentada em um banquinho com violão ao lado de Gilberto Gil e Caetano Veloso. Não é exagero constatar que Ivete pertence ao panteão das grandes cantoras da música brasileira, numa linhagem que vai de Elis Regina a Maria Bethânia, passando por Daniela Mercury, Nara Leão e Simone.

Em 1993, há trinta anos, essa baiana de Juazeiro iniciou a sua travessia na música brasileira ao participar de um festival amador no Morro do Chapéu. Foi quando o produtor Jonga Cunha, criador da Banda Eva, a descobriu. Ivete estava escolhida para ser a vocalista de uma das bandas de maior sucesso da música brasileira, precursora do Axé Music, movimento que se valia de manifestações tradicionais do repertório baiano, recicladas com um apelo pop.

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“Sexy Yemanjá” (pop, 1993) – Pepeu Gomes e Tavinho Paes

Inspirados pelo ritmo do axé e a atmosfera do pop, Pepeu Gomes e Tavinho Paes criaram uma mistura igualmente exótica: “Sexy Yemanjá”, como solicita o nome, transforma a divindade das águas em uma espécie de sereia plena de sensualidade. A música foi lançada em 1993, entrou para a trilha da novela “Mulheres de Areia”, da TV Globo, e mereceu regravações dos grupos Samba Livre e Os Originais do Samba, se consagrando como um dos grandes sucessos autorais de Pepeu, que até hoje a mantém em seu repertório de hits.

“Paratodos” (MPB, 1993) – Chico Buarque

Não há exemplo maior de riqueza e diversidade cultural do Brasil do que a música “Paratodos”, lançada no disco homônimo de Chico Buarque, em 1993. E não é por acaso. Chico carrega a herança desde o pai, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, que cunhou o controverso termo “homem cordial” para o brasileiro, mas é, sobretudo, por sua arte que o compositor se destaca nessa seara.

Chico é capaz de reforçar a tradição sem perder o olhar para o contemporâneo. Se há no Brasil muitas culturas diferentes, é essa a sua maior riqueza: “O meu pai era paulista, meu avô pernambucano, o meu bisavô mineiro, meu tataravô baiano, meu maestro soberano, foi Antônio Brasileiro…”.

“Canção do Lobisomem” (MPB, 1993) – Guinga e Aldir Blanc

Com Aldir Blanc, Guinga estreou em disco no ano de 1991, com “Simples e Absurdo”, que trazia 11 composições da dupla, e as participações de Chico Buarque, Leny Andrade, Ivan Lins, Zé Renato e Leila Pinheiro, dentre outros. Em 1996, Leila dedicaria “Catavento e Girassol” ao repertório de Guinga e Aldir. Nesse meio-tempo, “Delírio Carioca”, de 1993, agregava mais 12 parcerias dos compositores, casos de “Saci” e “Canção do Lobisomem”.

“A vaga do Aldir Blanc vai estar sempre em aberto porque é impossível preencher. Aldir só tem um, como Noel (Rosa), Chico (Buarque), Caetano (Veloso), Gilberto Gil, Milton (Nascimento), Tom (Jobim)”, enumera Guinga. “Perdi um amigo, um irmão e um parceiro genial que me ajudou muito”, completa. Ele revela que só gravou os seis primeiros discos graças à determinação do letrista de “O Bêbado e a Equilibrista”.

*Bônus: “In (Dig) Nação” (reggae, 1992) – Samuel Rosa e Chico Amaral

Eles já pediram esmola e nos ensinaram o que é uma partida de futebol. Também procuraram uma resposta para os sentimentos mais misteriosos e exaltaram as belezas e artimanhas da garota nacional. Juntando baladas românticas a canções cheias de suingue, influenciadas pelo reggae e pelo ska da Jamaica, o Skank criou uma mistura azeitada que elevou o pop rock mineiro a nível nacional, arrebatando milhões de fãs em todo o Brasil e excursionando através do mundo.

Formada por Samuel Rosa, Henrique Portugal, Lelo Zaneti e Haroldo Ferretti, a banda jamais perdeu o sotaque mineiro e o contato com suas raízes, embora em uma rotação contemporânea que permitia a intersecção com diversas linguagens. Em 1993, o grupo relançou, com sucesso, o primeiro disco da carreira, editado de forma independente em 1992, e fez sucesso nas rádios com o reggae “In (Dig) Nação”, de Chico Amaral e Samuel Rosa.