O Brasil registrou recorde de feminicídios no ano passado, com uma mulher assassinada a cada seis horas no país. Foram 1.410 mulheres mortas simplesmente pelo fato de serem mulheres. É o maior número de assassinatos do tipo desde que a Lei de feminicídio passou a vigorar, em 2015.
No ano passado, o número de vítimas cresceu 5% no Brasil, na comparação com 2021. Os dados fazem parte do Monitor da Violência, do Portal G1, feito em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e com o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo.
Em Minas, o número de mulheres mortas também cresceu: de 155 (2021) para 170 (2022). Só no primeiro mês deste ano, 11 foram assassinadas, de acordo com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp). Confira:
Feminicídio em Minas
2022: 170
2021: 155
Feminicídio em Belo Horizonte
2022: 14
2021: 19
Elas não são só um número
A Frente Feminista pelas Mulheres e Crianças pensou em em uma ação de mobilização nas redes sociais em memória das mulheres vítimas de feminicídio no Brasil. O coletivo convidou as mulheres a visitarem a página @quem.ama.liberta - o único memorial de vítimas de feminicídio no Brasil - e escolher alguma mulher que pareça rememorada para homenagear de forma respeitosa e digna.
Pensando nisso, a reportagem da Itaiaia levantou os últimos casos de assassinatos de mulheres em Minas deste ano para que os casos não caiam no esquecimento.
2 de março
Jaqueline Miranda Evangelista Ferreira, de 39 anos,
25 de fevereiro
Uma mulher, de 36 anos,
13 de fevereiro
A polícia acredita que, neste momento, o companheiro teria agredido Monique com um soco no rosto. Ela teria se escondido no banheiro e o homem, então, teria arrombado a porta e matado Monique enforcada em cima do colchão.
22 de fevereiro
Uma mulher, de 45 anos,
Identificada como Juliana Carla Tinoco Ferreira, a mulher foi levada à UPA do mesmo bairro por um homem. Após se identificar como um amigo de Juliana, ele deixou a unidade de saúde.
8 de fevereiro
Um homem, de 43 anos, foi
2 de fevereiro
Nos últimos dias, o suspeito se envolveu em brigas com o atual namorado da vítima e ameaçou a ex-companheira. Ela procurou a Polícia Militar para saber como conseguir uma medida protetiva, mas foi assassinada no dia seguinte.
2 de fevereiro
Viviane Meireles, de 43 anos,
Namorados e ex-companheiros são os maiores assassinos
E o que todos os casos tem em comum? Os agressores são parceiros da vítima. E não é por acaso. De acordo com os últimos dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2021), o principal autor do feminicídio. o companheiro ou ex-companheiro da vítima (81,7%), seguido de parente (14,4%).
As casas continuam sendo, desde sempre, o local em que as mulheres são mais vítimas de feminicídio. 65,6% do total de crimes cometidos foi realizado na residência.
“Quando acontece, a pessoa se assusta com aquela situação. Eles justificam: ‘nossa, mas ele é trabalhador’ ou ‘ele é pai’. A violência doméstica acontece na intimidade. Ela é praticada pela pessoa que deveria zelar. Por isso, essa violência é cruel. Ela acontece com a pessoa que ela mais confia que deveria amá-la”, aponta a delegada Renata Fagundes Ribeiro.
Tudo começa com a violência psicológica
O feminicídio é ponta do problema. Quando o assassinato acontece, ela já esta sofrendo muitas outras violências. “A violência psicológica é mais difícil de perceber. Isso porque a mulher que vive o relacionamento abusivo, muitas vezes vive dependência emocional e não percebe que está sofrendo algum tipo de violência”, afirmou a delegada.
No ano passado, o governo federal sancionou uma lei que inclui a prática no Código Penal e publicou o ato no Diário Oficial da União (DOU).
A lei diz que a violência psicológica contra a mulher consiste em “causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação”.
Criminalização da misoginia
O número alarmante de violência psicológica e de feminicidio não devem ser tratado como mero fenômeno social e, sim, como resultado misoginia - o ódio, aversão e repulsa à mulher. Nessa quarta (8), a reportagem da Itatiaia fez uma reportagem sobre o que significa, quais as origens e como combater.
Agora, a deputada federal Dandara Tonantzin (PT-MG) assina o PL para criminalizar a misoginia. “Agora passará pelas comissões da Casa, como a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e de Constituição de Justiça. Vamos trabalhar para pedir a urgência do projeto ainda neste mês de março”, disse.
Ela reconhece que a sociedade está longe de viver um cenário em que as violências contra a mulher não vão existir mais. “Mas as nossas legislação e a nossa sociedade tiveram inúmeras mudanças da última década”, disse a delegada.
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