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Número de casos de feminicídio cresce quase 10% em Minas; relembre os casos de 2023

Em Minas, o número de mulheres mortas também cresceu: de 155 (2021) para 170 (2022); Brasil registrou recorde

Os parceiros íntimos são os maiores assassinos de mulheres no país.

O Brasil registrou recorde de feminicídios no ano passado, com uma mulher assassinada a cada seis horas no país. Foram 1.410 mulheres mortas simplesmente pelo fato de serem mulheres. É o maior número de assassinatos do tipo desde que a Lei de feminicídio passou a vigorar, em 2015.

No ano passado, o número de vítimas cresceu 5% no Brasil, na comparação com 2021. Os dados fazem parte do Monitor da Violência, do Portal G1, feito em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e com o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo.

Em Minas, o número de mulheres mortas também cresceu: de 155 (2021) para 170 (2022). Só no primeiro mês deste ano, 11 foram assassinadas, de acordo com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp). Confira:


Feminicídio em Minas
  • 2022: 170

  • 2021: 155

Feminicídio em Belo Horizonte
  • 2022: 14

  • 2021: 19


Elas não são só um número

A Frente Feminista pelas Mulheres e Crianças pensou em em uma ação de mobilização nas redes sociais em memória das mulheres vítimas de feminicídio no Brasil. O coletivo convidou as mulheres a visitarem a página @quem.ama.liberta - o único memorial de vítimas de feminicídio no Brasil - e escolher alguma mulher que pareça rememorada para homenagear de forma respeitosa e digna.

Pensando nisso, a reportagem da Itaiaia levantou os últimos casos de assassinatos de mulheres em Minas deste ano para que os casos não caiam no esquecimento.

2 de março

Jaqueline Miranda Evangelista Ferreira, de 39 anos, foi atropelada por um caminhão dirigido pelo marido no Anel Rodoviário de Belo Horizonte, na frente da filha de seis anos. O caso é tratado como feminicídio.

25 de fevereiro

Uma mulher, de 36 anos, foi esfaqueada na frente das filhas pelo ex-companheiro, de 54, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e está internada. O suspeito, espancado pelos vizinhos, acabou preso. As filhas não ficaram feridas, mas foram encontradas em estado de choque.

13 de fevereiro

Monique Ferreira Costa, de 21 anos, foi morta por esganadura em Contagem, na Grande BH. A principal suspeita é que, no dia do desaparecimento, Monique tenha chegado em casa da academia pouco antes das 22h. Assim que ela chega no apartamento, a jovem teria descoberto algo sobre o companheiro e mandou uma mensagem para a amiga e para a mãe dizendo tinha descoberto algo grave e que iria para a delegacia denunciar.

A polícia acredita que, neste momento, o companheiro teria agredido Monique com um soco no rosto. Ela teria se escondido no banheiro e o homem, então, teria arrombado a porta e matado Monique enforcada em cima do colchão.

22 de fevereiro

Uma mulher, de 45 anos, morreu em um hospital um dia após ser agredida no bairro Jardim Alterosa, em Betim, na região metropolitana de BH. O caso está sendo investigado como lesão corporal, e o namorado da vítima é o principal suspeito das agressões.

Identificada como Juliana Carla Tinoco Ferreira, a mulher foi levada à UPA do mesmo bairro por um homem. Após se identificar como um amigo de Juliana, ele deixou a unidade de saúde.

8 de fevereiro

Um homem, de 43 anos, foi preso suspeito de matar a companheira por esganamento, de 37, no bairro Santa Tereza, em Pedro Leopoldo, na região metropolitana de BH. A mulher tinha união estável com esse homem, mas eles estavam separados a duas semanas, e ele não aceitava o fim do relacionamento. No dia anterior, ela foi até a casa dele para resolver questões financeiras do casal.

2 de fevereiro

Uma mulher foi morta com um tiro no rosto no bairro Libertadores, em Matozinhos. A vítima havia pedido medida protetiva contra o ex-namorado no dia anterior, o homem foi preso suspeito de cometer o crime.

Nos últimos dias, o suspeito se envolveu em brigas com o atual namorado da vítima e ameaçou a ex-companheira. Ela procurou a Polícia Militar para saber como conseguir uma medida protetiva, mas foi assassinada no dia seguinte.

2 de fevereiro

Viviane Meireles, de 43 anos, foi encontrada morta em sua casa, no bairro Fonte Grande, em Contagem. O suspeito afirmou que teve uma crise de ciúmes antes de cometer o crime. O homem confessou que estrangulou a mulher e a esfaqueou diversas vezes enquanto ela estava desacordada. Familiares a encontraram em cima da cama com o tórax aberto.

Namorados e ex-companheiros são os maiores assassinos

E o que todos os casos tem em comum? Os agressores são parceiros da vítima. E não é por acaso. De acordo com os últimos dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2021), o principal autor do feminicídio. o companheiro ou ex-companheiro da vítima (81,7%), seguido de parente (14,4%).

As casas continuam sendo, desde sempre, o local em que as mulheres são mais vítimas de feminicídio. 65,6% do total de crimes cometidos foi realizado na residência.

“Quando acontece, a pessoa se assusta com aquela situação. Eles justificam: ‘nossa, mas ele é trabalhador’ ou ‘ele é pai’. A violência doméstica acontece na intimidade. Ela é praticada pela pessoa que deveria zelar. Por isso, essa violência é cruel. Ela acontece com a pessoa que ela mais confia que deveria amá-la”, aponta a delegada Renata Fagundes Ribeiro.

Tudo começa com a violência psicológica

O feminicídio é ponta do problema. Quando o assassinato acontece, ela já esta sofrendo muitas outras violências. “A violência psicológica é mais difícil de perceber. Isso porque a mulher que vive o relacionamento abusivo, muitas vezes vive dependência emocional e não percebe que está sofrendo algum tipo de violência”, afirmou a delegada.

No ano passado, o governo federal sancionou uma lei que inclui a prática no Código Penal e publicou o ato no Diário Oficial da União (DOU).

A lei diz que a violência psicológica contra a mulher consiste em “causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação”.

Criminalização da misoginia

O número alarmante de violência psicológica e de feminicidio não devem ser tratado como mero fenômeno social e, sim, como resultado misoginia - o ódio, aversão e repulsa à mulher. Nessa quarta (8), a reportagem da Itatiaia fez uma reportagem sobre o que significa, quais as origens e como combater.

Agora, a deputada federal Dandara Tonantzin (PT-MG) assina o PL para criminalizar a misoginia. “Agora passará pelas comissões da Casa, como a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e de Constituição de Justiça. Vamos trabalhar para pedir a urgência do projeto ainda neste mês de março”, disse.

Ela reconhece que a sociedade está longe de viver um cenário em que as violências contra a mulher não vão existir mais. “Mas as nossas legislação e a nossa sociedade tiveram inúmeras mudanças da última década”, disse a delegada.

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Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.