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‘Gaslighting’ é a palavra do ano do dicionário americano Merriam-Webster; entenda o que significa

O título veio após um aumento de mais de 1.700% nas buscas pelo termo no site do dicionário em 2022

A Não Era Amor é um movimento de impacto que protagoniza soluções para um grande desafio social, o de relacionamentos abusivos

A palavra do ano do Merriam-Webster é “gaslighting”. O título veio, nessa segunda-feira (28), após um aumento de mais de 1.700% nas buscas pelo termo no site do dicionário em 2022. Em 2021, a palavra foi “vacina” e, em 2020, “pandemia”.

Gaslighting (sem tradução em português) é descrito pelo dicionário como “manipulação psicológica de uma pessoa, geralmente por um longo período de tempo, o que faz com que a vítima questione a validade de seus próprios pensamentos”.

A reportagem da Itatiaia conversou com a psicóloga Paula Meira Silva Pereira, do projeto Não Era Amor - “movimento de impacto que protagoniza soluções para um grande desafio social, o de relacionamentos abusivos” -, para entender o que é a violência, o que diz a lei no brasil e quais são os impactos.

Como surgiu a palavra?

A peça de teatro “Gas Light” (1938), que originou o termo, tem como enredo um marido tentando convencer sua esposa de que ela é louca - manipulando pequenos elementos de seu ambiente - e insistindo que ela se lembre de coisas incorretas quando ela aponta tais mudanças.

Ou seja, o termo gaslighting começou a ser utilizado para descrever fenômenos psicológicos que se sustentam por meio de mentiras e manipulações e tem o objetivo de alterar a percepção de realidade das vítimas, levando-as a questionarem suas memórias e até a própria sanidade.

“Você é louca”, “não foi bem assim que aconteceu”, “você entendeu errado”. Essas são frases comuns ditas por homens para confundir a vítima em um relacionamento abusivo. Em outras palavras, violência doméstica.

“O gaslighting é um dos tipos de abuso psicológico porque são abusos que afetam diretamente o psicológico dessa vítima. Nesse caso, o abusador interpõe dados distorcidos para convencer a vítima, mesmo que ela tenha certeza absoluta do que ela está vivendo. Com isso, ela começa a duvidar do que ela tá vivendo e do que ela está vendo”, explicou a psicóloga.

O que diz a lei do Brasil?

Violência psicológica contra a mulher é crime no país. O governo federal sancionou uma lei que inclui a prática no Código Penal e publicou em julho do ano passado.

A lei diz que a violência psicológica contra a mulher consiste em “causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação”.

“Foi um grande avanço para a luta feminista ter violência psicológica como crime. Isso porque muitas pessoas acabam validando como violência apenas a violência física. Mas, a violência psicológica pode ter até efeitos mais graves”, explicou a especialista.

Segundo o texto, a punição para o crime é reclusão de seis meses a 2 anos e pagamento de multa. A pena pode ser maior se a conduta constituir crime mais grave.

O que é a violência psicológica?

É considerada qualquer conduta que: cause dano emocional e diminuição da autoestima; prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher; ou vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões. Quais são:

  • Distorcer e o emitir fatos para deixar a mulher em dúvida sobre a sua memória e sanidade (Gaslighting)

  • Ameaças

  • Constrangimento

  • Humilhação

  • Manipulação

  • Isolamento (Proibir de estudar e viajar ou de falar com amigos e parentes)

  • Vigilância constante

  • Perseguição Contumaz

  • Insultos

  • Chantagem

  • Exploração

  • Limitação do direito de ir e vir

  • Ridicularização

  • Tirar a liberdade de crença

Fonte: Instituto Maria da Penha

Na semana passada, foi celebrado o dia internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres e a Não Era Amor abriu espaço para dar voz as vítimas. “Queremos dar espaço para que a voz de vocês sobressaia, e para que, todas que puderem e quiserem, possam contar sua história nos comentários”, informou. Confira abaixo

Como denunciar

Ligue 180, em caso de violência contra mulheres, e 190, em situações de emergência.

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.