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Um diagnóstico detalhado ajuda a dimensionar o tamanho do desafio. O “Mapa da Saúde dos Trabalhadores da Indústria Atendidos pelo SESI Viva+" de 2021 analisou dados de mais de 900 mil trabalhadores e traçou um perfil preocupante dos fatores de risco, que foram agravados pela pandemia.
O paradoxo é que, embora o diagnóstico seja claro e a tecnologia para prevenção avance rapidamente, as intervenções de saúde no país continuam falhando em um ponto sensível: o fator humano.
O mapa da vulnerabilidade
O estudo do Sesi, focado em Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), revela que o perfil majoritário do trabalhador da indústria é masculino (70,4%) e jovem, com quase metade da força de trabalho concentrada na faixa de 25 a 39 anos.
Embora alguns indicadores sejam positivos (o de tabagismo é menor entre os industriários (8,2%) do que na população geral (12,8%) segundo a PNS 2019) os principais fatores de risco metabólico e cardiovascular estão em alerta máximo.
Os quatro principais focos de risco identificados são:
- Excesso de Peso: Este é o dado mais alarmante. Quase 60% (59,1%) dos trabalhadores analisados estão com excesso de peso. Entre os homens, o índice é ainda maior, atingindo 61,3%. A obesidade atinge 21,5% do total.
- Tensão Arterial: Mais de quatro em cada dez trabalhadores (41,3%) apresentaram tensão arterial alterada durante a consulta ocupacional. O cenário masculino é novamente o mais grave, com quase metade dos homens (46,8%) registrando alteração.
- Inatividade Física: Embora a prática regular de atividade física na indústria (41,8%) seja superior à média nacional (30,1% segundo a PNS 2019), a maioria (58,2%) dos trabalhadores ainda não pratica o mínimo recomendado.
- Saúde Mental: A pandemia agravou o que o SESI chama de “sindemia": uma sinergia de crises de saúde. O “Protocolo SESI de Promoção da Saúde” aponta que trabalhadores com pensamentos negativos e pessimistas têm o dobro de chances de faltar ao trabalho.
O paradoxo da intervenção
Se os dados são tão claros, por que os afastamentos por doença continuam crescendo? A resposta pode estar no método das intervenções.
Uma revisão de escopo intitulada “Intervenções em saúde do trabalhador - contexto, desafios e possibilidades de desenvolvimento”, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), que analisou 147 estudos no Brasil, identificou uma falha crucial: a falta de “agência transformativa”.
O estudo da USP aponta que, em 86% dos casos, os trabalhadores são tratados como meros informantes (respondendo questionários ou validando dados). Apenas em 14% das intervenções eles foram considerados protagonistas, participando ativamente da análise das causas e da formulação das soluções.
Segundo os pesquisadores, as ações de SST no Brasil ainda são “fatorialistas” (focam em elementos isolados, como trocar uma cadeira ou corrigir a postura) e raramente “sistêmicas”, ou seja, focadas em mudar a organização do processo de trabalho (o verdadeiro determinante do adoecimento).
Vanguarda tecnológica
Enquanto a gestão humana patina, a tecnologia avança. O estudo “Rotas Tecnológicas: Sistemas de Gestão em SST”, também do SESI, identificou as tendências globais que prometem revolucionar a prevenção.
A vanguarda da SST investe em análise preditiva. O futuro da prevenção inclui:
- Big Data e IA: Uso de inteligência artificial para cruzar dados e antecipar riscos.
- Tecnologias Vestíveis (Wearables): Dispositivos que monitoram em tempo real o estado de saúde, incluindo níveis de estresse e padrões comportamentais.
- “Cobots” (Robôs Colaborativos): Robôs que interagem fisicamente com humanos, ajustando seus movimentos para prevenir acidentes e reduzir o esforço físico.
- Ergonomia Digital: Mesas inteligentes que usam machine learning para coletar dados sobre posturas e propor ativamente ações corretivas ao trabalhador.
A retomada: unindo dados e pessoas
Para conectar a vanguarda tecnológica aos desafios revelados pelo Mapa da Saúde, o Sesi tem estruturado sua atuação em uma plataforma nacional de soluções digitais que funciona como o maior banco de dados privados de saúde da indústria, permitindo uma gestão integrada e baseada em inteligência de dados.
Essa abordagem data-driven busca superar a “sindemia” pós-Covid, que exige ações integradas. O “Protocolo SESI de Promoção da Saúde” recomenda que, diante desse cenário, as empresas estruturem suas ações de prevenção em quatro pilares centrais:
- Promoção de Atividades Físicas;
- Promoção da Alimentação Saudável;
- Atenção Psicossocial;
- Serviços de Reabilitação.
Conclusão
O futuro da saúde ocupacional no Brasil se desenha, portanto, em uma encruzilhada. De um lado, a indústria dispõe de um arsenal tecnológico sem precedentes, com Inteligência Artificial capaz de monitorar o estresse e robôs colaborativos prontos para reduzir o esforço físico.
Do outro, persiste uma cultura de gestão que silencia o trabalhador. Como aponta a pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP, de nada adianta implementar programas se eles não estimulam a “agência transformativa” de quem de fato executa a tarefa.
A tecnologia, por si só, não cura o ambiente de trabalho. A solução, como indicam os protocolos e diagnósticos do SESI, parece estar na síntese: usar as novas ferramentas não apenas para monitorar, mas para fomentar o básico: a atividade física, a atenção psicossocial e a reabilitação. A prevenção eficaz começa quando a tecnologia se torna um instrumento a serviço da autonomia do trabalhador, e não apenas mais um meio de controle.
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