Avanço modesto do PIB dá sinais de desaceleração da economia com juros altos

Política monetária restritiva, com Selic em 15% ao ano, fez com que o setor de serviços ficasse estável no terceiro trimestre

Consumo das famílias caiu de 1,8% para 0,4%, ajudando a segurar o setor de serviços

A economia brasileira dá sinais de desaceleração com um crescimento leve do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre de apenas 0,1%, sentido os efeitos da política monetária restritiva adotada pelo Banco Central para conter a inflação. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em linhas gerais, o mercado financeiro projetava um aumento de 0,2% do PIB, de acordo com levantamento da agência Bloomberg. O destaque ficou com a agropecuária, que cresceu 0,4%, e a indústria, em uma variação positiva de 0,8%. O setor de serviços, que tem maior peso na economia nacional, ficou praticamente estável em 0,1%.

O resultado é impactado pela taxa básica de juros de 15% ao ano, patamar considerado alto para provocar uma desaceleração no consumo e conter o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumulada em 4,68% nos últimos 12 meses. A inflação tem uma meta de 3%, com intervalo de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos - porém, o Banco Central tem focado no centro da meta.

Para o economista sênior do Banco Inter, André Valério, os números do PIB reforçam a tendência de acomodação do crescimento da economia. “Nos últimos 8 trimestres, o crescimento médio do PIB na comparação contra o mesmo trimestre do ano anterior foi de 3%. Esse trimestre marca um desvio dessa tendência, com o crescimento nessa métrica sendo de 1,8%”, disse o especialista.

“Ainda assim, vemos uma economia bastante robusta, e o PIB caminha para ter um crescimento robusto em 2025, acumulando alta de 2,4% até setembro, ainda crescendo acima da tendência pré-pandemia. De toda forma, esperamos a continuidade da tendência de acomodação do crescimento, com o PIB encerrando o ano com alta acumulada de 2,2%”, completou.

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A estimativa do banco vai em linha com as projeções da Secretária de de Política Econômica (SPE) que, em novembro, estimou um crescimento PIB de 2,2% em 2025. Para o trimestre, o governo previa um avanço de 0,3%. Em nota divulgada nesta quinta-feira (4), a SPE afirmou que o menor crescimento do setor de serviços surpreendeu.

Outro destaque do governo foi uma queda no consumo das famílias, de 1,8% para 0,4% do segundo para o terceiro trimestre, refletindo um recuo no consumo de bens duráveis e não duráveis, além da redução no ritmo de consumo de produtos semiduráveis e de serviços, o que ajudou a segurar o setor.

“A desaceleração do consumo está associada ao desaquecimento dos mercados de trabalho e crédito no terceiro trimestre, em resposta aos impactos defasados da política monetária restritiva”, disse a SPE.

Comparações com o ano passado

Na comparação com o mesmo período do ano passado, o PIB cresceu 1,8% no terceiro trimestre de 2025. A agropecuária teve um avanço de 10,1% em relação ao igual período de 2024, com destaque para a produção das safras de milho (23,5%), laranja (13,5%) e algodão (10,6%), enquanto a cana de açúcar recuou 1,0%.

No acumulado dos últimos quatro trimestres, a economia cresceu 2,7%. Nessa comparação, as três atividades mostraram avanços: Agropecuária (9,6%), Indústria (1,8%) e Serviços (2,2%). Nas atividades industriais, o destaque foi para as indústrias extrativas (4,5%), construção (2,5%), e indústrias de transformação (1,6%).

Nos Serviços, houve altas em Informação e comunicação (6,2%), Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (2,7%), Transporte, armazenagem e correio (2,7%), Outras atividades de serviços (2,6%), Comércio (2,2%), Atividades imobiliárias (2,0%) e Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade (0,7%).

Jornalista formado pela UFMG, Bruno Nogueira é repórter de Política, Economia e Negócios na Itatiaia. Antes, teve passagem pelas editorias de Política e Cidades do Estado de Minas, com contribuições para o caderno de literatura.

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