Foi, aí por esses dias, mais uma data dos namorados. Quem diria: uma invenção dos Doria, inspirada no Valentine’s Day (Dia de São Valentim), dos Estados Unidos. A motivação inicial para a criação, claro: fomentar o comércio na baixa de vendas do meio do ano. Nada de muito equívoco até aqui, pois o amor é um grande “golpe” de marketing e “dinheiro compra até amor verdadeiro” (Nelson Rodrigues).
Já se assustou? Só se for uma leitora ou leitor neófito. Essa coluna é feita para trazer provocações. A fé verdadeira, a poesia que inspira, o pensamento reflexivo desinstalam...
O amor conjugal é marketing no seu sentido mais estrito. A definição clássica do marketing é a troca entre indivíduos com o objetivo de satisfazer desejos e necessidades. Quando a gente se arrisca a amar alguém, é preciso ter um interesse genuíno pelo outro e saber encontrar valor nisso! Assim como num Marketing bem feito, no namoro, que deságua no casamento, a gente deve se vender bem (até com meias verdades, como diria Violet em Donwton Abbey). Isso de modo, não a enganar a outra parte, mas de fazer convergir o que “se oferece” com aquilo de que o outro “deseja” e “necessita”. Ninguém dá conta de vender bem um produto sem uma atenção ao que dói no outro, àquilo pelo que o outro anseia, aquilo de que necessita o outro.
Assim como em uma “venda”, que envolve troca de valores, no amor, é preciso que o “produto” seja confiável e que gere satisfação. Um casamento, para dar certo, exigirá muita confiança. É isso o que permitirá que, apesar das diferenças e intercorrências, um seja para o outro, com algumas distrações (tipo o lixo para fora, ou a toalha molhada) mas sem equívocos... A satisfação a ser prestada no amor é de que: não obstante temperamentos opostos, personalidade conflitantes e pontos de vistas diferentes, encontra-se um “nosso” , para além dos desmandos e das pirraças de um “eu”...
Ah, o amor que começa no namoro e deságua no casamento, pode ser comprado pelo dinheiro! É claro que essa frase de Nelson Rodrigues traz seus paradoxos e sua ironia. A Bíblia sabe disso, ao indicar que "águas torrenciais não podem afogar o amor, nem rios poderão apagá-lo. Se alguém oferecesse todos os bens de sua casa para comprar o amor, seria tratado com desprezo... " (Ct 8,6-7). A questão de Nelson, na verdade, é que a gente sempre ama no horizonte do interesse. É muito difícil investir num relacionamento sem reciprocidade. Numa frase de Tiktok: tudo que não é recíproco é tóxico... “Dinheiro compra até amor verdadeiro”, porque não dá para continuar amando alguém que não tenho consciência de seus limites, de seus recursos financeiros, que, não tendo ambição, vai levar para a vida a dois seus vícios e sua escassez... Tenta ser feliz sem os boletos pagos!!
O amor do namoro é puro, idealizado e expectante. O amor do casamento, não! Ele é exigente, porque quem ama dá também a falta. Ele é cronicamente realista, pois sabe quanto custa. Ele é a lucidez concreta diante dos desafios e das alegrias do cotidiano.
Amor é Marketing. “Dinheiro compra até amor verdadeiro”. E é claro que isso não é sobre ficar exigindo presentes caros! É na verdade saber que uma joia da Vivara pode ser indício de uma” culpa” parcelada; que deixar para pensar o Date de última hora, já é um indício de desorganização; que tornar um Hambúrguer um momento eterno, entendo que tempo não é coisa que se gasta, mas que se investe em quem se ama, é um bom termômetro de como e para onde as coisas vão...