Chegamos ao final do mês de maio,conhecido cada vez mais, pela cor laranja.Sim, esse mês é marcado não só pelo dia das mães, mas também, pela campanha Maio Laranja que traz visibilidade da luta contra a exploração, violência e o abuso sexual infantil. Na última semana, participei de um ensaio fotográfico promovido pela ONG Rede Solidária, fundada por Dai Dias e presidida por Rosemeire Aquino em prol da campanha Todos Contra a Pedofilia. Foi uma experiência marcante, com depoimentos emocionantes de mulheres que decidiram ser os olhos, escudos e vozes de milhares de crianças e adolescentes que por medo ou até desconhecimento, não conseguem se livrar dos seus abusadores e das difíceis consequências que seus atos trouxeram para suas vidas.
Há três anos, Dai Dias me apresentou a Vanessa do Mila, fundadora do Movimento Infância Livre do Abuso, uma mulher que transformou sua dor em luta e que já teve sua história contada nesta coluna no ano passado. Acesse o link e confira
Dificilmente alguém, depois de saber e entender o que acontece e está por trás do mundo criminoso da pedofilia, não se torna uma guerreira em favor da luta pela proteção das nossas crianças. Leia abaixo o forte depoimento da Dai Dias:
“Faz cinco anos que minha vida mudou. Cinco anos mergulhada na dor de crianças que nunca deveriam ter sofrido o que sofreram. Histórias que me tiraram o sono, que me fizeram chorar em silêncio e, ao mesmo tempo, me deram forças para levantar e lutar. Ouvi relatos de meninas e meninos que foram abusados dentro da própria casa, por quem deveria protegê-los. Ouvi confissões que ninguém quer ouvir, denúncias que muitos preferem calar. E foi por causa dessas crianças que eu entrei nessa guerra. A Rede Solidária, que nasceu para conectar pessoas ao bem, também se tornou escudo. Não foi por acaso. Foram muitos os casos que ajudamos a denunciar, muitas famílias acolhidas, muitos caminhos abertos para que a justiça acontecesse. A gente não apenas estende a mão — a gente caminha junto até o fim.
E foi com esse coração que nasceu o projeto “Mulheres Contra a Pedofilia”. Um movimento forte, formado por mulheres comuns com coragem extraordinária. Mulheres que disseram “não” ao silêncio, “não” ao medo, “não” à omissão. Reunimos essas mulheres para uma ação simbólica, onde cada rosto, cada imagem, representa resistência e proteção.Elas não foram escolhidas ao acaso. Cada uma carrega uma história, uma luta, uma voz. E juntas, formamos uma rede poderosa que grita: chega de abusos! Chega de impunidade!Essa causa não é moda, não é discurso pronto. É vida. É urgência. É o futuro das nossas crianças! Porque quem já olhou nos olhos de uma criança que foi abusada nunca mais é a mesma.E se eu puder usar a minha voz para ecoar as delas, vou fazer isso todos os dias da minha vida.”
A pedofilia e a exploração sexual de crianças e adolescentes continuam sendo um grave problema no Brasil, com números alarmantes e um desafio persistente de subnotificação.A cada dia, cresce cada vez mais, os casos de violência e existe um sistema que insiste em punir quem tenta denunciar. O Mila por exemplo, já teve suas redes sociais retiradas diversas vezes do ar, mas a quem interessa que essas vozes se calem?
“Existe um mercado de exploração sexual infantil que movimenta mais do que o tráfico de drogas, basta pensar que, quantas vezes um usuário consome o entorpecente? Agora fica a pergunta que causa no mínimo terror, quantas vezes se “usa” uma criança?” Dai Dias.
A “cara” da pedofilia
Os dados recentes sobre a pedofilia e exploração sexual no Brasil (2023-2024) são alarmantes:
• 164,2 mil estupros de crianças e adolescentes em 3 anos (2021-2023): Este número foi divulgado em agosto de 2024 pela Agência Brasil, com base na segunda edição do relatório “Panorama da Violência Letal e Sexual contra Crianças e Adolescentes no Brasil”. Em 2023, houve uma média de uma ocorrência a cada 8 minutos.
• Mais de 11 mil denúncias em 2024 (até maio): Segundo o Brasil de Fato (maio/2024), a cada 24 horas, 320 crianças e adolescentes são exploradas sexualmente no país.
• Subnotificação: Um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) aponta que apenas 8,5% dos casos são reportados às autoridades policiais. Isso indica que os números oficiais representam apenas a ponta do iceberg.
• Vítimas:
• Gênero: 75% das vítimas são meninas.
• Idade: Em crimes letais entre 2016 e 2020, as vítimas de 0 a 4 anos tinham 35% do sexo feminino e 65% do sexo masculino. Entre 5 e 9 anos, 55% eram do sexo feminino e 45% do sexo masculino. Em idades mais avançadas (10 a 19 anos), a maioria das vítimas é masculina.
• Cor/Raça: A maioria das vítimas de estupro são meninas brancas (49,7%), seguidas de negras (49,4%).
• Agressores: Em 85,1% dos casos de violência contra meninas, o autor do crime era conhecido da vítima. Dentre os agressores conhecidos, 40,8% eram pais ou padrastos, 37,2% eram irmãos, primos ou outros parentes, e 8,7% avós.
• Ambiente: 67% das meninas vítimas são violentadas dentro de casa.
• Pedofilia virtual: Os casos de pedofilia virtual se multiplicam, impulsionados pelos avanços da inteligência artificial. As denúncias de imagens de abuso e exploração sexual infantil na internet bateram recorde em 2023, sendo o maior da série histórica iniciada em 2006.
O abuso sexual é uma das formas mais graves de violência e causa danos profundos e duradouros na saúde de crianças, adolescentes e adultos, afetando-os em níveis físico, psicológico, emocional e social. As consequências podem se manifestar imediatamente após o abuso ou surgir anos depois, perpetuando-se por toda a vida.
Danos Psicológicos e Emocionais
• Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT): Um dos impactos mais comuns, caracterizado por revivência do trauma (flashbacks, pesadelos), evitação de situações que remetem ao abuso, hipervigilância, irritabilidade, dificuldade de concentração e distúrbios do sono.
• Depressão e Ansiedade: Sentimentos de tristeza profunda, desesperança, perda de interesse em atividades antes prazerosas, pensamentos suicidas, preocupação excessiva, ataques de pânico e medo constante.
• Baixa autoestima e autoimagem negativa: A vítima pode internalizar a culpa, sentir-se “suja”, indigna de afeto e com uma percepção distorcida de si mesma.
• Dificuldades de relacionamento: Problemas para estabelecer laços de confiança, medo de intimidade, dificuldade em expressar sentimentos, isolamento social, e em alguns casos, repulsa ou dificuldade em se relacionar com o sexo do agressor.
• Comportamentos de risco: Uso de álcool e drogas como forma de lidar com a dor, automutilação (cortes, queimaduras), comportamentos sexuais de risco, e em casos extremos, tentativas de suicídio.
• Regressão comportamental em crianças: Crianças pequenas podem apresentar choro frequente, irritabilidade, apatia, atraso no desenvolvimento, distúrbios do sono, vômitos, dificuldades na alimentação e desconforto no colo. Crianças maiores podem voltar a fazer xixi na cama (enurese) ou coco na roupa (encoprese), ter dificuldade na fala, tiques e manias.
• Problemas escolares e de aprendizado: Dificuldade de concentração, hiperatividade e baixo desempenho acadêmico.
• Sentimento de culpa e vergonha: A vítima muitas vezes se sente responsável pelo ocorrido, o que dificulta a busca por ajuda e a denúncia.
• Dissociação: Sensação de desconexão da realidade, do próprio corpo ou das emoções, como mecanismo de defesa para lidar com o trauma.
Por muitos anos o tema foi abafado pela sociedade, encarar o fato de que, a grande parte dos abusos são cometidos por parentes, amigos e pessoas próximas, traz vergonha e muitas vezes medo para as vítimas e suas famílias. É fundamental dar visibilidade não só em maio, mas durante todo o ano, é preciso que se denuncie, que haja uma legislação mais dura e que as vítimas de abuso sexual recebam apoio psicológico e médico especializado para minimizar os danos e auxiliar na sua recuperação. O acolhimento, a escuta qualificada e o tratamento adequado são essenciais para que essas pessoas possam reconstruir suas vidas e encontrar caminhos para a cura.
No dia 09 de setembro a Rede Solidária e o MILA vão realizar a segunda edição do Jantar Beneficente em prol do trabalho contra a pedofilia! Contaremos com a sua presença!
Temos que nos unir sermos definitivamente TODOS CONTRA A PEDOFILIA!
Formas de denúncia:
• Disque 100: Ligação gratuita.