Muitas matérias foram publicadas sobre o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, mas a relevância do tema é um convite para que continuemos o ano inteiro a falar, refletir, discutir e buscar alternativas que de fato, “enterrem” por vez, o racismo e que acima de tudo, “libertem” os negros das amarras sociais que ainda os impedem de avançar social e economicamente no nosso Brasil. É crucial refletirmos sobre as desigualdades raciais persistentes no nosso país e suas implicações em diversas esferas da sociedade, incluindo o sistema prisional. Uma questão que merece destaque é a crescente presença de mulheres negras nas prisões brasileiras, um reflexo de um sistema que perpetua desigualdades sociais e raciais.
Historicamente, as mulheres negras no Brasil enfrentam uma dupla discriminação: de raça e de gênero. Essa interseccionalidade agrava as desigualdades, limitando o acesso a oportunidades de educação, emprego e saúde. No contexto prisional, essa realidade é ainda mais evidente, onde a população carcerária feminina tem crescido de forma alarmante, com as mulheres negras representando uma parcela significativa. Para se ter uma ideia, segundo dados, estima-se que cerca de 62% a 68% das mulheres presas são negras, considerando-se as categorias de pretas e pardas conforme classificação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Quem conhece a realidade das mulheres nas periferias sabe que a vida para elas não é nada fácil, em sua grande maioria, se tornam mães muito cedo, sofrem em casa abusos físicos e emocionais, quando não são também, as provedoras financeiras dos seus lares. Por isso, é tão importante trazermos nessa coluna exemplos de projetos e negócios de impacto que realmente fazem a diferença na vida dessas mulheres, em sua grande maioria, negras.
A LIBERTESE
Eu sempre gosto de contar aqui para vocês sobre como eu conheço as pessoas incríveis que trago nos meus textos para te inspirarem. Em 2023 conheci a Marcella Fonseca Mafra Sana, Fundadora da Libertese Negócio Social de Impacto e Co-fundadora da Libertees Brasil em um encontro do Capitalismo Consciente BH. Quando conversamos, fiquei encantada com tudo o que ela me trouxe sobre sobre seu negócio de impacto que visa transformar a vida das mulheres em privação de liberdade e egressas através das aulas de empreendedorismo e costura.
Segundo material publicado na Apresentação da Libertese, ressalta-se pontos importantes a serem discutidos:
- A invisibilidade da mulher no sistema prisional brasileiro
- 3ª maior população feminina encarcerada do mundo
- 30% das mulheres ainda aguardam julgamento
- 75% cometeram crimes sem violência
- 65% são pardas e pretas
- 11% concluíram o ensino médio
- 1% possuem ensino superior
- 50% ensino fundamental incompleto
- 4% analfabetas
- 74% são mães, 35% possuem filhos até 12 anos de idade
- 50% têm idade entre 18 e 29 anos
- Pouca ou nenhuma experiência profissional
COMO A LIBERTESE LIBERTA
Segundo Marcella, a Libertese é uma confecção social fundada em 2013, cujo propósito está na geração de emprego e renda através da entrega de produtos e serviços que mudam o mundo.
O projeto acontece dentro dos presídios femininos, capacitando as mulheres nas oficinas de costura, criando e vendendo produtos de impacto que gerem renda para as beneficiárias e mantenham financeiramente o negócio de impacto.
Marcella Fonseca Mafra Sana, Fundadora da Libertese Negócio Social de Impacto
A Libertese já beneficiou mais de 100 mulheres e desenvolve brindes ecológicos personalizados, uniformes corporativos dentre outros produtos que são também soluções integradas para as empresas no desenvolvimento e relacionamento das mesmas com as comunidades onde estão inseridas.
“Através da contratação dos nossos serviços, conectamos mais pessoas ao movimento por um desenvolvimento sustentável e ético”, diz Marcella.
Recentemente a Libertese iniciou uma parceria com a GPA - Gestores Prisionais Associados, em Ribeirão das Neves, cidade situada na área metropolitana de Belo Horizonte, conhecida pelo grande número de presídios nela existentes.
A parceria é um grande passo para a ampliação do trabalho da Libertese uma vez que, visa trabalhar também com o público masculino, para que ambos literalmente possam aprender a abrir uma nova “porta” para poderem novamente “voar”.
Precisamos todos refletir sobre como podemos transformar essa triste realidade. É essencial promover políticas públicas que visem a equidade racial e de gênero, garantindo acesso à educação de qualidade, oportunidades de emprego e programas de apoio social que possam prevenir a criminalização das mulheres.
Eu poderia ficar aqui escrevendo muito mais sobre a LIBERTESE mas finalizo essa coluna com um recado importante da Marcella Mafra que assino embaixo: “Aproveito também para convidar e pedir as altas lideranças de empresas, que tem o poder de decisão e escolha, que escolham a Libertese, façam parte da história e colaborem para transformar e ressignificar vidas. É bom para todos e para o nosso mundo!”