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David Sinclair, cientista de Harvard: “Conseguimos reverter o envelhecimento em camundongos e macacos; os testes em humanos começarão no próximo ano”

Reversão do Envelhecimento: Dr. David Sinclair (Harvard) anuncia ensaios em humanos a partir de janeiro. Descubra como a reprogramação epigenética, inteligência artificial e novas terapias prometem estender a vida saudável e revolucionar a medicina para todos.

O segredo da juventude pode estar perto de ser desvendado

O Dr. David Sinclair, um renomado cientista de Harvard e professor titular de genética na Harvard Medical School, revelou avanços significativos na reversão do envelhecimento. Ele afirmou: “Conseguimos reverter o envelhecimento em camundongos e macacos; os ensaios em humanos começarão no próximo ano”.

Este progresso, que antes parecia ficção científica, é impulsionado pela integração de ferramentas de inteligência artificial (IA) e novas terapias genéticas. Sinclair acredita que essas inovações prometem transformar a saúde, a longevidade e a economia global nas próximas décadas.

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Em testes realizados em ratos e macacos-verdes, foi demonstrado que é possível reverter o envelhecimento de forma significativa. O objetivo de Sinclair é tornar essas terapias acessíveis a toda a população, marcando uma mudança na medicina preventiva e regenerativa.

Reprogramando a idade biológica

A ideia de “reprogramar” células adultas para restaurar características juvenis, antes vista com ceticismo, tornou-se uma realidade. A equipe de Sinclair ativou de forma controlada certos genes conhecidos como fatores de Yamanaka, conseguindo restaurar a juventude dos tecidos.

Trabalho já começou a ser feito

Estudos publicados em 2020 envolveram o uso de uma terapia gênica que reativou genes presentes apenas em embriões. Essa intervenção permitiu curar condições como a cegueira causada por danos no nervo óptico. Sinclair enfatizou: “Não é ficção científica. Fazemos isso em meu laboratório de forma rotineira”.

Os animais tratados apresentaram uma redução mensurável de sua idade biológica e melhorias físicas notáveis. Em camundongos, um tratamento de quatro semanas com um coquetel molecular produziu marcadores de juventude. Em macacos, o rejuvenescimento do nervo óptico também foi evidente. Sinclair explicou: “Você pode mapear se o nervo óptico rejuvenesce, e os dados mostram que a idade retrocede”.

O epigenoma como chave do envelhecimento

O fundamento desses experimentos é a teoria da informação do envelhecimento, desenvolvida pelo próprio Sinclair. Esta teoria postula que a causa do envelhecimento não é apenas o desgaste celular, mas a perda de informação epigenética, que altera a regulação genética.

Sinclair esclareceu: “O epigenoma é o problema, porque o envelhecimento implica a perda de informação sobre como as células devem funcionar”. A inovação é que eles encontraram uma maneira de restabelecer essa informação sem a necessidade de clonar o organismo. Ele acrescentou: “Descobrimos como reiniciar o epigenoma de forma segura, sem ter que nascer de novo”.

Inteligência Artificial e novos tratamentos

A terapia gênica inicial, baseada em vetores virais ou nanopartículas, apresentava dificuldades logísticas e de custo. Para superá-las, a equipe recorre à inteligência artificial (IA) com o objetivo de identificar moléculas rejuvenescedoras que possam ser administradas por via oral.

Sinclair afirmou que “a inteligência artificial nos permite fazer em meses o que antes levava milhares de anos”. Utilizando algoritmos e robótica, eles analisam milhões de compostos para prever seu impacto sobre os mecanismos epigenéticos.

O objetivo é desenvolver tratamentos simples e econômicos. Sinclair expressou sua visão de futuro: “Imagine que em alguns anos você só precisa tomar uma pílula durante quatro semanas para rejuvenescer”.

Primeiros ensaios em humanos

Os primeiros ensaios clínicos estão previstos para janeiro do próximo ano. Eles se concentrarão em doenças oculares como glaucoma e neuropatia óptica isquêmica, pois o olho é um órgão acessível e permite avaliar resultados de forma objetiva.

A terapia inicial incluirá uma única injeção ocular, seguida de doxiciclina para ativar os genes rejuvenescedores.

Se os resultados forem positivos, o tratamento será ampliado para doenças como Alzheimer, esclerose lateral amiotrófica (ELA) e outros transtornos associados ao envelhecimento.

O laboratório também estuda a possibilidade de aplicar essas terapias em todo o corpo. Em um experimento, camundongos tratados viveram até 101% mais que os controles, sugerindo que duplicar a longevidade humana poderia ser tecnicamente viável.

Implicações econômicas e desafios

O impacto potencial vai além da saúde. Segundo estudos de Harvard, da London School of Business e de Oxford, acrescentar um ano de vida saudável à população dos EUA poderia ter um grande impacto macroeconômico. Sinclair ressaltou: “Um ano extra de vida saudável pode valer trilhões para a economia”.

Prolongar a vida ativa reduziria os gastos com saúde e dependência, e aumentaria a produtividade. Sinclair exemplificou com seu pai, que aos 80 anos continua trabalhando e desfrutando da vida: “Se a população média fosse como meu pai, o mundo seria muito diferente”.

Apesar dos avanços, a pesquisa enfrenta obstáculos como a falta de financiamento acadêmico, o estigma em relação aos estudos sobre envelhecimento e os altos custos dos tratamentos. Sinclair alertou: “Cortes de financiamento colocam em risco o avanço da ciência e a vida de milhões”.

O apoio privado tem aumentado, especialmente de setores tecnológicos e de criptomoedas. Sinclair mencionou o apoio de Jeff Bezos, Brian Armstrong e Sam Altman, entre outros. No entanto, ele enfatizou: “Nosso objetivo é que essas terapias sejam acessíveis para todos, não apenas para alguns”.

Visão de futuro

Sinclair fez um apelo ao apoio público e privado para acelerar esses avanços. Ele afirmou: “Acredito que a primeira pessoa que viverá 150 anos já nasceu”. No entanto, ele advertiu que, sem investimento sustentado, esses avanços poderiam ser perdidos.

Estender a vida saudável não apenas revolucionará a medicina, mas também a organização social. Sinclair concluiu sua postura: “A melhor maneira de garantir que cheguemos a esse ponto é nos mantermos saudáveis e apoiar a ciência que o torna possível”.

A longevidade futura dependerá da capacidade coletiva de investir em ciência, superar barreiras regulatórias e garantir um acesso equitativo aos benefícios da biotecnologia

Estudante de jornalismo na PUC Minas e estagiária da Itatiaia