Um relatório recente do Goldman Sachs estima que a inteligência artificial que produz conteúdo é capaz de fazer um quarto do trabalho realizado atualmente por trabalhadores humanos. Isso pode levar à perda de 300 milhões de empregos na União Europeia e nos EUA.
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Para Martin Ford, autor de “A regra dos robôs: como a inteligência artificial vai transformar tudo” (Rule of the Robots: How Artificial Intelligence Will Transform Everything), destaca que esse movimento pode ser sistêmico. “Pode acontecer com muita gente, talvez subitamente, talvez com todos ao mesmo tempo. E isso traz consequências para toda a economia”, avalia.
Apesar disso, ainda há atividades que a inteligência artificial não consegue fazer. São tarefas que envolvem qualidades especificamente humanas, como a inteligência emocional e o pensamento criativo. Assim como os humanos muitas vezes puderam superar a chegada de máquinas desde a Revolução Industrial, é possível que isso ocorra novamente.
Ford acredita que três categorias gerais vão estar relativamente protegidas no futuro próximo. “Primeiramente, os empregos genuinamente criativos. Você não está fazendo um trabalho previsível, nem simplesmente reorganizando as coisas. Você está genuinamente criando novas ideias e construindo algo novo”, ressalta.
Nem todas as atividades criativas, entretanto, estão necessariamente seguras. Algoritmos básicos podem orientar um robô na análise de imagens, por exemplo, para que ele execute tarefas de design gráfico e artes visuais com facilidade.
Relações interpessoais
Outra categoria que não deve ser atingida é a que depende de relações interpessoais sofisticadas. Entram na, por exemplo, enfermeiros, consultores comerciais e jornalistas investigativos. “Nessas atividades, é preciso compreensão profunda das pessoas. Vai levar muito tempo até que a inteligência artificial tenha a capacidade de interagir da forma que realmente estabelece relacionamentos”, avalia.
Tarefas que exigem muita mobilidade, agilidade e capacidade de solução de problemas em ambientes imprevisíveis também devem continuar a ser executadas por humanos. É o caso de eletricistas, encanadores, soldadores e outros. “São trabalhos em que você lida com uma situação nova o tempo todo.”
Para Joanne Song McLaughlin, professora de economia trabalhista da Universidade de Buffalo, nos EUA, a maioria dos empregos tem aspectos que provavelmente serão automatizados pela tecnologia. “Em muitos casos, não existe ameaça imediata aos empregos, mas as tarefas vão mudar. Os empregos humanos vão ficar mais concentrados nas habilidades interpessoais.”
Ela explica que é fácil imaginar que a inteligência artificial vai detectar câncer melhor que os seres humanos, por exemplo. Mesmo assim, a maioria dos pacientes ainda vai querer um médico para informá-los. “No futuro, imagino que os médicos vão usar essa tecnologia, mas não acho que todo o papel do médico será substituído.”
Desenvolver habilidades distintamente humanas pode ajudar os profissionais a trabalharem em parceria com a inteligência artificial. “Acho que é inteligente pensar: ‘Que tipo de tarefas no meu trabalho serão substituídas ou feitas com melhor qualidade pelo computador ou pela inteligência artificial? E quais são minhas habilidades complementares?’”, aponta Joanne.
Ela cita como exemplo os caixas bancários. Antigamente, eles precisavam contar dinheiro com precisão e, mesmo com essa tarefa automatizada, ainda há espaço para os atendentes no banco. “Agora, os caixas se concentram em se relacionar com os clientes e apresentar novos produtos. As habilidades sociais ficaram mais importantes.”
Ford aponta, ainda, que um nível de escolaridade avançado ou um cargo específico não defende o trabalhador contra a chegada da inteligência artificial. “Podemos pensar que pessoas em cargos administrativos estão em posição superior em relação a quem dirige um carro para viver. O futuro de quem está em um escritório, no entanto, está mais ameaçado: ainda não existem carros autônomos, mas a inteligência artificial pode escrever relatórios.”
Ele destaca que, em muitos casos, profissionais formados estarão mais ameaçados do que os que não têm formação. “Pense em quem limpa quartos de hotel: é muito difícil automatizar esse serviço.” Então, trabalhar em ambientes dinâmicos que incluem tarefas imprevisíveis é uma boa forma de evitar perder o emprego para a inteligência artificial.