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O que é GraphoGame, app citado no debate presidencial

Ferramenta é finlandesa e foi adotada pelo MEC para servir como apoio aos professores

GraphoGame foi citado em debate entre candidatos a presidente

Um dos assuntos do debate entre os candidatos a presidente de domingo (16) foi o app finlandês GraphoGame. Lançado na Finlândia em 2011 por pesquisadores da Universidade de Jyväskylä e do Instituto Niilo Mäki, o aplicativo foi trazido para o Brasil e adaptado por especialistas do Instituto do Cérebro, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Em novembro de 2020, foi lançado por aqui pelo Ministério da Educação (MEC).

Na Finlândia, o objetivo era ajudar crianças com dislexia: a condição, que leva à dificuldade de encadear letras para formar palavras, impede o desenvolvimento da leitura. Depois, a ferramenta chegou a ser adotada em mais de 20 países como auxiliar no processo de aprendizagem. Segundo os criadores, o app poderia ser utilizado, ainda, para crianças com dificuldades de aprendizagem ou com condições socioeconômicas difíceis.

Basicamente, o GraphoGame é um jogo educacional para estimular a aprendizagem e a leitura de maneira lúdica em crianças de 4 a 9 anos. Em cada fase, várias letras aparecem na tela do dispositivo e o som de uma delas é pronunciado em áudio. A criança precisa acertar qual letra corresponde àquele som. Quando acerta, ganha pontos. No fim de cada fase, é possível ver o índice de aproveitamento. As etapas ficam mais complexas à medida que a criança progride.

Segundo o MEC, a proposta é que ele apoie “os professores, em atividades de ensino remoto, e as famílias, no acompanhamento das crianças no processo de aquisição de habilidades de literacia”. Seu objetivo, então, era ser um instrumento adicional de aprendizagem, não uma política pública educacional.

A avaliação do app nas lojas de aplicativos é pouco superior a 4 (4,2 na Play Store, do Android, e 4,3 na App Store, do iOS). Há tanto comentários positivos quanto negativos sobre a ferramenta. Muitos criticam a falta de regionalização do som das vogais (mais abertas ou fechadas a depender da região) e o som usado para as consoantes, que confundem os estudantes. Há, entretanto, quem tenha tido experiências positivas, especialmente durante a pandemia.

Aceleração da alfabetização

Durante o debate, o candidato à reeleição disse que a ferramenta permite concluir o processo de alfabetização em apenas seis meses e que o governo federal pretende ampliar seu uso. Até 2020, as diretrizes do MEC recomendavam que o ciclo de alfabetização ocorresse em três anos, nas primeiras séries do Ensino Fundamental. Especialistas em educação apontam que o letramento infantil pode durar, em média, de três a quatro anos — a depender da metodologia.

Para a Associação Brasileira de Alfabetização (ABAlf), a ação está equivocada porque nega todo o conjunto de construtos teóricos e práticos acerca da alfabetização. Além disso, adotar um aplicativo como política educacional pública pode ser um pouco difícil em um país em que a internet ainda não chega a todas as regiões remotas e muitos estudantes não têm acesso a dispositivos eletrônicos para instalar e utilizar a ferramenta.

Daniel Cara, professor e coordenador do curso de licenciaturas na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), o GraphoGame “é a maior picaretagem e irresponsabilidade que existe na alfabetização de crianças”.

Já Priscila Cruz, cofundadora e presidente-executiva do @TodosEducacao, lembra que Augusto Buchweitz, que adaptou o GraphoGame para o Português, conta que o objetivo não é que a ferramenta alfabetize a criança sozinha. “Sozinho o GraphoGame não irá alfabetizar a criança e não resolve esse imenso problema; não é esse o objetivo e nem poderia ser.”