Há momentos que mudam vidas, alguns bons, outros ruins, alguns que nem deveriam acontecer. Foi assim com Sérgio Brito, 45 anos, ex-morador de rua, que recebeu um tapa na cara durante uma corrida de aplicativo. A partir da violência, e da falta de apoio da empresa empregadora, decidiu criar a “Te Levo”.
A empresa de transporte de passageiros por app começou em Araxá, na região mineira do Alto Paranaíba. Hoje está em mais de 50 cidades espalhadas por nove estados brasileiros. O ‘Te Levo’ se tornou um concorrente da empresa para a qual o seu criador prestava serviço quando foi atacado.
Hoje, Brito trabalha para que a Te Levo se torne, em até três anos, o maior aplicativo de transporte do Brasil.
O tapa na cara
A história começou quando Sérgio Brito, ainda como motorista de aplicativo, aceitou uma corrida em um dia de chuva forte. Durante o trajeto, a passageira pediu para ele abrir os vidros do carro e Sérgio aceitou. Quando o temporal começou a molhar os bancos e todo o interior do veículo, o homem decidiu fechar as janelas e a cliente ficou furiosa.
A mulher exigiu que o motorista continuasse com os vidros abertos e Sérgio tentou explicá-la que o carro era alugado e que não poderia transportar o próximo cliente nessas condições. Em conversa com a Itatiaia, o empresário detalhou a história.
“Ela falou: ‘Não quero saber do próximo cliente, estou pagando a corrida e quero ir com os vidros abertos’. Nesse momento eu vi que seria uma daquelas corridas problemáticas. Então eu parei o carro em frente ao’ tiro de guerra’ [órgão de formação de reservistas do Exército Brasileiro] da cidade de Araxá e pedi para ela descer, pois não havia nenhuma possibilidade de continuar aquela viagem com os vidros abertos”, contou ele.
O empresário afirmou que, neste momento, houve uma discussão verbal e ao perceber que ele realmente não seguiria a corrida, a passageira desceu do carro o agrediu com um tapa no rosto.
“Aquele tapa na cara doeu muito e eu fiquei bravo com ela e tudo. Fui lá e relatei para o aplicativo o que tinha acontecido e ela também. Nesse momento, o app decidiu que eu estava errado e me excluíram. Nesse momento eu pensei: ‘É isso que é ser motorista de aplicativo? Levar um tapa na cara e ainda ser punido? Onde estava o suporte?’. Naquele momento de dor eu pensei: ‘E se eu criasse um aplicativo que desse suporte, um centro de apoio ao motorista?”, relatou Brito.
O começo
A ideia de Sérgio Brito era criar um sistema que entregasse mais comodidade ao motorista. Com um centro de apoio para ir ao banheiro, beber água, tomar café, com internet e espaço de descanso. “Comecei a idealizar um app onde o motorista fosse o personagem principal”.
Brito passou a estudar formas de implementação do serviço. Procurou empresas para o desenvolvimento e usou e abusou do YouTube e de redes sociais para aprender a fazer artes, edição de vídeos, desenvolvimento de site e tráfego pago.
“Eu fazia corridas das 8 da manhã até meia-noite, chegava em casa e ficava estudando até três, quatro horas da manhã, para aprender a fazer tudo isso”, explicou.
Por fim, para montagem do escritório, precisava de R$ 45 mil. Sem o dinheiro, conseguiu o empréstimo com um amigo.
“Fui atrás de um amigo meu chamado Múcio e ele que entrou com esse aporte, para que eu pudesse iniciar a operação da ‘Te Levo’. Isso aconteceu em 15 de janeiro de 2022, há quase quatro anos”, explicou.
‘Vai tomar no Uno’
Sérgio contou que no início teve dificuldades para convencer os motoristas a rodarem por sua plataforma. Ele conta que no primeiro mês teve um faturamento de apenas R$ 24. Segundo ele, as coisas foram difíceis até o oitavo mês, quando ele teve uma ideia que mudou o panorama.
“Eu tinha um Uno 85 em casa e eu peguei esse carro, comprei um monte de cerveja, coloquei dentro dele e decidi sortear um carro cheio de cerveja. Foi a promoção ‘Vai tomar no Uno’”, contou, aos risos.
Ele explicou que a ideia era realmente “virar um meme”, para que o app se tornasse conhecido sem ter que investir um dinheiro que não tinha em divulgação.
“A gente virou um meme na cidade e o app começou a ficar muito conhecido. E de lá pra cá, começamos a performar muito bem e sermos considerados pessoas muito criativas. Após o ‘Vai tomar no Uno’, tudo foi diferente”, explicou.
Concorrência e competitividade
Sérgio conta que os preços praticados na “Te Levo” são muito semelhantes aos dos seus grandes concorrentes. Mas reforça que mesmo em situações onde o preço diverge, o desempenho é bom. Segundo ele, isso acontece por conta do atendimento diferenciado.
“Nossos franqueados são pessoas da cidade, então criamos uma conexão por se tratar de um app local. Todos os nossos motoristas são treinados antes de irem para a rua e nisso a gente agrega valores. São motoristas educados, motoristas que ajudam, motoristas contentes com o app”, começou.
Ele apontou que por mais que em algumas cidades os valores sejam cerca de R$ 1, R$ 1,50 mais caros que as multinacionais, os clientes preferem a Te Levo pela qualidade do serviço.
“O cliente paga porque sabe que o motorista não vai cancelar, que vai chegar, ninguém vai ficar cancelando todas às vezes. Isso faz com que a gente consiga competir com as multinacionais, já que na grana é praticamente impossível, pois eles têm muitos investidores e milhões e milhões em dinheiro”, completou o empresário.
Apoio ao motorista
Para além do bom tratamento aos clientes, o trunfo da Te Levo, e motivo da criação do app, é o suporte aos motoristas, o que deixa Sérgio orgulhoso.
“O motorista é o nosso personagem principal. Tratamos ele com nosso cliente. A gente tem alguns diferenciais, coisas que as outras empresas não entregam. Carro de apoio, um centro de apoio onde que ele pode ir tomar um café, usar a internet, o banheiro. Se quiser tirar até uma soneca, ele pode também. Ele pode almoçar lá, leva o almoço, tem uma mesa para ele”, contou.
As taxas cobradas dos motoristas no Te Levo também são menores que aquelas praticadas em outros aplicativos, conta Brito.
“Enquanto as outras plataformas estão cobrando de 30% a 50% de desconto na taxa, a gente cobra do motorista no máximo 15%. Então, dessa forma, o motorista ganha muito mais, sobra muito mais no bolso dele. Com isso, ele dá preferência para nossa plataforma e ele atende bem o cliente porque está feliz. Cuidamos dele para que ele cuide bem do cliente. O grande diferencial da Te Levo não é nem tanto no preço, porque nosso preço é um competitivo, mas é no cuidado que temos com o motorista e com o cliente”, ressaltou Sérgio Brito.
Te Levo em BH?
Atualmente a Te Levo não opera em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, porém, Sérgio revelou que já existem negociações para que isso ocorra.
“Não temos uma previsão certa, mas temos negociações avançadas para entrar em BH. Enquanto isso, estamos na região. Fechamos uma parceria e vamos inaugurar o app em Vespasiano e Lagoa Santa. E, possivelmente, em breve, teremos operação em BH”, revelou.
‘Maior aplicativo de transporte do Brasil’
Sergio Brito revelou, ainda, as metas ousadas para o futuro do Te Levo. Ele conta que o principal objetivo é fazer com que em até três anos a plataforma se torne a maior do seguimento no Brasil.
“Os principais sonhos que a gente tem é realmente fazer da Te Levo um meio transformador de vidas. É usar a minha história como ex-morador de rua para que a gente possa impactar outras vidas, as vidas dos motoristas, cobrando uma taxa menor deles para sobrar mais dinheiro no bolso, para que assim eles consigam dar uma vida mais digna para suas famílias”, apontou ele.
“Queremos nos tornar a maior empresa de transporte por aplicativo do Brasil, de dois a três anos, com a missão de usar esse modelo da Te Levo para impactar e transformar vidas. Esse é o nosso maior sonho”, finalizou Sérgio.