Mais de uma dezena de instituições recebem itens confiscados pela Receita Federal em megaoperação no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins.
Ao todo, 39 toneladas foram apreendidas — entre drogas, eletrônicos e objetos da área da saúde. A operação, em maio, teve início com a suspeita de tráfico de drogas. Cães farejadores localizaram 200 quilos de haxixe, um tipo mais potente da maconha. Nos contêineres foram localizados ainda celulares, tablets, máquinas fotográficas, cartões de memória e drones.
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“A gente atende a entidades da sociedade civil. Eles nos apresentam projetos e a gente avalia aqueles projetos, e a gente faz uma análise inclusive da situação fiscal dessas entidades. E aí, são produtos que são próprios da atividade dessas entidades beneficentes”, explica o superintendente da Receita Federal em Minas Gerais, Mario Dehon.
“Era uma carga muito variada, por isso permitiu que a gente fizesse uma destinação tão ampla quanto essa. Desde forças de segurança até entidades da sociedade civil estão recendo as doações hoje”, comemora Dehon.
Polícia Federal e Apae são as maiores beneficiadas
Entre as forças de segurança beneficiadas com a doação estão Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Exército, Marinha, Aeronáutica e Polícia Militar de Minas Gerais. A maior beneficiária é a Polícia Federal, conforme detalha o superintendente da instituição, Richard Machado.
“Temos a necessidade premente de equipamentos tecnológicos de alta performance. A análise que é feita numa investigação criminal hoje é muito distinta do que nós fazíamos anos atrás. Uma análise de uma nuvem, por exemplo, ela tem terabites de dados que têm que ser processados em equipamentos de alta performance que são caríssimos no mercado e que vão onerar os cofres públicos. À medida que a Receita Federal do Brasil nos proporciona, através da destinação desses bens, produto do crime, a aplicação nas nossas investigações, eu acho que ganha a sociedade brasileira pela economia dos recursos, ganha a Polícia Federal pela capacidade investigativa que será disponibilizada aos nossos policiais”, comemora o superintendente da PF.
Entre as entidades da sociedade civil, destaque para a Apae de Belo Horizonte. “Carinhosamente nos atenderam encaminhando a destinação de aproximadamente 400 mil reais em produtos, principalmente eletrônicos. E desses produtos, uma parte nós vamos utilizar no desenvolvimento das nossas atividades, hoje são aproximadamente 6 mil usuários ao mês, mais de 350 funcionários. E uma outra parte, nós vamos realizar uma série de eventos para a arrecadar recursos”, explica Maria Tereza Feldner, presidente da APAE de Belo Horizonte.
Para ela, o recurso chega numa hora ‘excelente’. “As organizações, isso não é segredo para ninguém, estão enfrentando uma grave crise financeira. Considerando que nós sobrevivemos com a ajuda não apenas do poder público, mas principalmente da sociedade. E a parte de Belo Horizonte, especificamente, vem atravessando uma grave crise nos últimos três anos. Então, realmente veio numa hora excelente, melhor hora não poderia existir”, comemora.
Também recebem itens as Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAEs) nas cidades de Itabira e Tiradentes, além do Tribunal Regional do Trabalho e da Universidade Federal de Viçosa. À UFV foram destinados os equipamentos médicos, que serão aproveitados na sala de aula.
“Produtos médicos sem autorização do órgão fiscalizador, a Anvisa. Neste caso fizemos a destinação para a Universidade Federal de Viçosa, que pode utilizar esses equipamentos nas atividades curriculares próprias, sem usar em (pacientes) humanos”, explica o superintendente da Receita Federal, Mario Dehon.
Segue investigação para apurar quem enviou e quem eram os destinatários
Está à cargo da Polícia Federal a investigação sobre a origem desses produtos, e também sobre os possíveis destinatários dos itens.
“A questão da droga introjetada nesses containers e a correlação entre o crime de contrabando e o tráfico de drogas, isso é objeto de uma investigação específica da Polícia Federal. É uma investigação que está em curso, então nós ainda não temos dados suficientes para divulgar, mas eu digo que isso comprova que a logística feita pelo crime organizado para o tráfico de drogas não é diferente da do contrabando, não é diferente da do descaminho, a logística muitas vezes é a mesma: o que se usa é o meio de transporte para todo esse produto de crime e a conexão entre essas organizações criminosas é latente. Então nós estamos diante de verdadeiras organizações criminosas transversais e algumas delas destinadas à logística do crime”, explica o superintendente da Policia Federal em Minas Gerais, Richard Macedo.
Autoridades da Alfândega afirmam que os produtos foram enviados do Brasil a partir dos Estados Unidos. “Se tratava de um consórcio de compradores, não é algo para uma única empresa, são vários destinatários”, explica Flávio Machado, chefe da Alfândega da Receita Federal do Brasil em Belo Horizonte.
“Lá nos Estados Unidos, de onde foi a origem dessas mercadorias, havia um trabalho de consolidação de cargas para envios, então são diversos encomendantes para a variedade de cargas que foram apreendidas”, complementa Machado.
A Receita Federal também investiga os compradores dos produtos. “Esse importador está sofrendo o processo de investigação da própria Receita, inclusive importações anteriores, porque agora a gente teve a prova da irregularidade. Obviamente, existe uma cadeia de laranjas, isso não é tão linear quanto a gente imagina, a investigação é bastante complexa, mas está sendo levada a efeito”, explica Mario Dehon.