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Quem são os atores mineiros de ‘O Agente Secreto’, representante do Brasil no Oscar 2026

O longa estrelado por Wagner Moura conta com os mineiros Laura Alencar, Carlos Francisco e Wilson Rabelo no elenco; eles integram a produção que transporta o espectador para Recife (PE) na década de 1970

Na imagem, os mineiros Laura Lufesi e Carlos Francisco

A venda antecipada de ingressos para as pré-estreia de ‘O Agente Secreto’ começou nesta quinta-feira (16), abrindo caminho para a chegada de um dos filmes mais aguardados do ano — talvez o mais esperado. O novo longa de Kleber Mendonça Filho terá sessões especiais entre 25 de outubro e 1º de novembro.

Na capital mineira, o sucesso do filme já mostrou que deve lotar cinemas em todo o país. A produção foi exibida em setembro, durante a Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte (CineBH), e os ingressos se esgotaram em apenas 20 minutos, provocando longas filas no entorno do tradicional Cine Theatro Brasil, no Centro da capital.

A explicação vai além de um elenco primoroso, com Wagner Moura e um dos diretores mais consagrados do cinema brasileiro — está na repercussão que a película teve fora do país.

Selecionado pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na disputa por uma vaga no Oscar 2026, ‘O Agente Secreto’ foi destaque no Festival de Cannes 2025, onde conquistou três prêmios: Melhor Direção, para Kleber Mendonça Filho; Melhor Ator, para Wagner Moura; e o Prêmio da Crítica Internacional (FIPRESCI).

Três mineiros fazem parte do elenco e viajaram até Pernambuco para mergulhar na atmosfera do Carnaval de Recife dos anos 1970. Entre eles, os veteranos Carlos Francisco e Wilson Rabelo, e Laura Lufési, que faz sua estreia nos cinemas.

Da sala de aula ao set de filmagem

Nascida em Itaúna (Centro-Oeste do estado) e criada em Azurita, distrito de Mateus Leme (Grande BH), a atriz mineira Laura Lufési, de 26 anos, vive um momento decisivo na carreira. Sua trajetória começou nos palcos amadores do interior e, em poucos anos, a levou a um dos sets mais prestigiados do país.

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Aos 17 anos, em 2017, ela contou que se mudou para Belo Horizonte com o objetivo de cursar Letras na UFMG. Mas o teatro falou mais alto. “Eu já fazia teatro no interior, no SESI, de forma amadora, desde criança, na escola também. Quando me mudei para BH, passei por algumas escolas — a Escola de Teatro da PUC Minas e, depois, o CEFART do Palácio das Artes, que conciliei com o curso de Letras”, relembra.

Com a pandemia, a rotina mudou — e o destino também. “Por causa da pandemia, a gente teve que parar, então prestei o vestibular da Escola de Arte Dramática da USP (EAD) e me mudei para São Paulo”, conta.

Trabalhar com ídolos

Antes de estrelar ''O Agente Secreto’’, ela já havia participado segunda temporada de Colônia, do Canal Brasil, e feito uma participação em Sintonia, da Netflix. O convite para o filme de Kleber Mendonça Filho veio após um processo seletivo criterioso.

“Fui chamada para fazer uma self tape pelo Gabriel Domingues, produtor de elenco, que é excelente e sempre busca rostos novos, fora do lugar-comum. Depois, fiz um teste presencial com o Kleber. E aí veio o convite definitivo”, conta.

O Agente Secreto

A experiência com o diretor foi marcante. “Ele é um gênio, sabe exatamente o que quer, mas também é muito aberto ao que o ator propõe. É uma pessoa doce, respeitosa, e o set dele é um lugar muito tranquilo. Mesmo quando há estresse, tudo é conduzido com calma, ele e toda a equipe são muito generosos.”

Um dos momentos mais especiais das gravações foi uma cena com Wagner Moura. “Eu falei pra ele: ‘Olha, estou aqui fingindo calma e profissionalismo, mas estou muito emocionada de estar gravando com você’. E ele foi super fofo, super querido. Foi inesquecível.”

O veterano

Entre os mineiros do elenco estão também os atores Wilson Rabelo, de 68 anos, e Carlos Francisco, de 63, ambos veteranos nas produções de Kleber Mendonça Filho. Os dois já haviam trabalhado com o diretor em ‘Bacurau’ (2019) — Carlos como Damiano, o homem que encara um invasor estrangeiro com a frase icônica “Você quer viver ou morrer?”, e Wilson no papel de Plínio.

Já a trajetória de Wilson foi construída em cursos de teatro, o que lhe permitiu transitar pelas principais correntes teatrais e diretores das décadas de 1980 até hoje. Atuou em novelas de destaque como ‘América’ (2005), ‘Páginas da Vida’ (2006), ‘Deus Salve o Rei’ (2018) e ‘Amor de Mãe’ (2020). No cinema, participou de produções reconhecidas como O Romance da Empregada, de Bruno Barreto, e Anjos do Sol.

A vida artística de Carlos Francisco começou no teatro, onde acumulava funções como ator, administrador e até faxineiro. “Era como um circo, vivíamos para o espaço”, recorda. Esse envolvimento o afastou de projetos longos, até que, em 2013, deixou a companhia teatral para se dedicar ao cinema, no longa Um Homem que Voa: Nelson Prudêncio.

No novo filme de Kleber, Carlos contou que teve mais convívio com o diretor — tanto nos ensaios quanto nas exibições pontuais. “E a admiração só cresce, tanto por ele quanto por Emilie Lesclaux, produtora do filme”, afirma.

Agora, Carlos interpreta Seu Alexandre, um projecionista — profissional responsável por operar os equipamentos de projeção em cinemas. “Seu Alexandre foi um projecionista do Cine Art Palácio, em Recife, retratado em ‘Retratos Fantasmas’. Em O Agente Secreto, Kleber o homenageia em uma recriação livre, agora como projecionista do Cine São Luiz”, explica.

Para o papel, ele participou de uma oficina com um projecionista profissional para aprender os procedimentos da cabine de projeção onde o filme foi rodado.

Cinema mineiro e pernambucano

Carlos, que foi e grande homenageado da 19ª edição da Cine-BH em setembro, é um rosto conhecido nos filmes da produtora Filmes de Plástico, que nasceu em Contagem (Grande BH).

A Filmes de Plástico, já vencedora de mais de dezenas prêmios no circuito de cinema independente, produziu ‘Marte Um’ (2022). A película chegou a ser indicado pelo Brasil ao Oscar de 2023 como representante na categoria de Melhor Filme Internacional, entrando na pré-seleção enviada ao comitê da Academia.

Ele reflete sobre as diferenças entre as características do cinema mineiro e o pernambucano: “Penso que a diferença vem de aspectos geográficos e culturais. Minas, com suas montanhas e curvas, inspira um cinema mais introspectivo. Pernambuco, com seu litoral e sertão de retas a perder de vista, um cinema mais festivo. Mas ambos tratam suas paisagens com poesia e carinho, como parte da narrativa.”

Sobre a expectativa para o Oscar, o ator prefere celebrar cada etapa. “O filme ainda nem estreou oficialmente, mas já forma filas enormes em cada exibição. A torcida pelo Oscar é também uma torcida pelo cinema brasileiro. Há tantos bons filmes nacionais… Que todos possam ter filas nas portas dos cinemas e ficar mais tempo em cartaz. O Agente Secreto merece — é um belíssimo filme.”

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.