Cerca de doze famílias residentes na Rua Central, no bairro Nova Sintra, região oeste de Belo Horizonte, estão enfrentando um processo de desapropriação devido à expansão da linha 2 do metrô da capital mineira. Os moradores, que vivem às margens da linha férrea, têm até 30 de junho para deixar suas casas, mas alegam que as indenizações oferecidas são insuficientes para adquirir novos imóveis.
A nova linha do metrô terá quase 11 quilômetros de extensão e sete novas estações, o que justifica a necessidade de desocupação da área. No entanto, os residentes argumentam que o valor proposto, de aproximadamente R$ 105 mil por família, está muito abaixo do necessário para comprar uma casa na região.
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A técnica em mineração Tatiana Maia, de 41 anos, e moradora da Rua Central por toda a vida, expressa sua frustração com o processo: ''A empresa basicamente ofereceu uma indenização no valor de cerca de R$ 105 mil para cada família. Porém, com esse montante atualmente no mercado, comprar uma casa é impossível’’.
“A gente mora a 10 km do pirulito da Praça 7, no Centro da capital. Eles vão nos tirar daqui sem nos dar uma condição de nos reinstalar num lugar onde tenhamos no mínimo as mesmas condições. Não só estrutural, pois está havendo, também, uma ruptura emocional, uma ruptura de histórias”, acrescentou.
Falta de transparência e diálogo
Os moradores também reclamam da falta de transparência no processo de avaliação dos imóveis. Segundo Tatiana, ''Vieram o pessoal da equipe contratada por eles, fizeram levantamento da casa, fotográfico e também as medições, mas não relataram para a gente nada, nenhum relatório’’.
Jolene Moreira, vizinha de Tatiana e proprietária de um salão de beleza em casa, teme ficar sem trabalho e sem moradia: ''A gente não tem direito de comprar nada [por conta do valor], não tem lugar’’.
É injusto isso. Na rua também moram muitas mulheres idosas. Elas estão pagando com a saúde o sofrimento causado pela falta de diálogo, envolvendo as desapropriações.
Impacto emocional e histórico
Além das questões financeiras, os moradores destacam o impacto emocional da desapropriação. Sônia Barros, que vive na região há 60 anos, desabafa: ''Eu tive que ter ajuda do meu pai. Porque meu pai morreu, deixou casa para mim. [...] Como professora, não tinha condição de aumentar minha casa, precisei de ajuda. Hoje tenho uma casa, e eles não querem valorizar isso. Não estou dormindo já tem muitos dias”.
Em resposta às reclamações, o Ministério Público (MPMG) informou que um acordo foi assinado no mês passado após negociações com representantes das partes envolvidas. A Advocacia Geral do Estado, por sua vez, afirmou que a iniciativa resultou na definição de ‘indenização justa, aluguel social e apoio logístico de mudança’ para 314 famílias.
O Metrô BH, responsável pelo projeto, comunicou que seguiu todos os protocolos de negociações e que a previsão é que os pagamentos sejam realizados e a área seja desocupada até julho deste ano. A empresa afirma que ''a solução negociada foi construída de forma coletiva’’.