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Festa da Luz, em BH, valoriza artes urbanas historicamente criminalizadas

De grafite ao funk, festival vai até domingo (16) com 13 instalações luminosas, 12 projeções e festas no viaduto Santa Tereza, no Centro; confira a programação

Alex Senna, paulistano de traço monocromático e olhar sensível, leva à Praça da Estação na 4ª edição da Festa da Luz uma obra sobre afeto e conexão humana, apresentada em primeira mão no Festival Sensacional

Com o tema “Culturas Urbanas”, a 4ª edição da Festa da Luz transforma o “Baixo Centro” de Belo Horizonte em uma grande galeria a céu aberto, celebrando a arte de rua e reforçando a importância de valorizar manifestações que, historicamente, já foram alvo de tentativas de criminalização.

O grafite, uma dessas artes, é representado no festival por dois ícones mineiros do ofício, Criola e Bolinho. Também marginalizado, o funk é parte da programação musical, que conta também com samba, raggae, música eletrônica e outros. “Ao mesmo tempo em que culturas periféricas urbanas são marginalizadas, elas compõem a identidade brasileira”, explica a diretora artística e curadora do projeto, Juliana Flores.

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A partir desta quinta-feira (13) até domingo (16), com isso em mente, o festival leva ao público 13 instalações luminosas, 12 obras de projeção e festas sob o Viaduto Santa Tereza, tradicional cartão postal da cidade.

Criola estreia no festival

É a primeira vez que Criola integra o line-up da Festa da Luz, com uma instalação, um “pente garfo”. A artista contou que já havia criado uma versão da obra no festival Life is Beautiful, em Las Vegas, mas em formato de mural pintado. “Para a Festa da Luz, a ideia foi trazer um pente garfo geométrico gigante, todo feito de luz”, explicou. A obra está instalada na esquina do Edifício Chagas Dória.

Natural de Belo Horizonte, Criola é artista visual formada em Moda pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Sua arte reflete a tríade ancestralidade, espiritualidade e natureza, expressa por meio de texturas, padronagens e grafismos de matrizes afro-brasileiras. Desde 2012, pinta nas ruas e apresenta murais em grandes formatos no Brasil e em países como França, Bielorrússia e Estados Unidos.

Criola, artista visual natural de Belo Horizonte

Foi ela a responsável por pintar as fachadas das casas da comunidade da Nova Cachoeirinha, na Região Noroeste da capital, no projeto Morro Arte Mural (Muma), em 2022. Por isso, quem passa pela Avenida Antônio Carlos consegue ver de longe sua obra. “Amo criar em suportes e com materiais diferentes. Pode ser um mural, uma escultura, uma roupa, uma tela... não existe limite para a imaginação”, afirma.

Para Criola, a rua é a “entidade mais potente que existe”, pois é onde as pessoas realmente se encontram. “Estamos vivendo um tempo extremamente artificial, de isolamento e excesso de informação. Todos curvados olhando para telas, sem se olhar no olho ou conversar sem pressa. A vida real acontece na mágica dos encontros, na troca de ideias, sem flashes e roteiros para viralizar. A proposta da Festa da Luz é viver a rua através da arte, e isso é revolucionário. É o que os artistas que ocupam as ruas sempre fizeram”, afirma.

Além de Criola, a artista Bolinho — autora do famoso cupcake espalhado por diversas partes da cidade — participa com a instalação No Passinho do Bolinho, na Rua Sapucaí. Já sob o Viaduto Santa Tereza, uma escultura inflável de Ricardo Bizafra promete atrair olhares.

Do funk ao samba

Assim como o grafite, a idealizadora Juliana Flores diz que a música periférica é alvo do mesmo tipo perseguição. “A gente até tem visto manifestações em Belo Horizonte, essas criações como a Lei anti-Oruam, e quando a gente vai pensar sobre a história da cultura no Brasil, a cultura urbana, que é a cultura periférica, ela sempre sofreu tentativas de criminalização. Ela sempre foi perseguida. Nos primórdios, era proibido o samba de rua, por exemplo, com a Lei da Vadiagem”, conta.

Ela explica que esse foi um dos motivos para abrir a festa com o cortejo de samba na rua de graça, com o Samba D’ouro, que vai “abençoar” o circuito e celebrar a força do gênero na capital. “Eu acho que a programação dos dois palcos está bem imperdível”, completou.

Outra novidade é a presença de dois palcos, e não apenas um, como nas edições anteriores. Além do palco Music Mapping, que retorna à Praça da Estação, agora reaberta, o festival terá o palco Treme Terra.

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Artistas e suas obras

  • Criola: Artista mineira que exalta a ancestralidade negra e o sagrado feminino. Apresentará uma escultura de um pente garfo gigante na esquina do Edifício Chagas Dória.
  • Bolinho: Grafiteira que cria personagens icônicos abordando temas atuais com leveza e humor. Sua obra, “No Passinho do Bolinho”, estará na Rua Sapucaí.
  • Coletivo Levante e Duas Ideias: Nascido no Aglomerado da Serra, o coletivo une arte, arquitetura e sustentabilidade. São os responsáveis pela instalação Palco Treme Terra, que também funciona como Sound System para a programação de sonoridades urbanas.
  • Alex Senna: Artista paulistano de traço monocromático e olhar sensível. Leva à Praça da Estação uma obra sobre afeto e conexão humana, apresentada anteriormente no Festival Sensacional.
  • Mutabile Arquitetura + João Wilbert: A dupla assina uma obra que dialoga com as novas paisagens abertas no centro da cidade após a demolição do anexo dos edifícios Sulacap e Sulamérica, explorando a nova perspectiva do Viaduto Santa Tereza vista da Avenida Afonso Pena.
  • Ricardo Bizafra: Artista e arquiteto. Sua instalação “FOCO” é composta por dez grandes arcos infláveis que criam um túnel de luz sob os arcos do Viaduto Santa Tereza, guiando o olhar para o horizonte urbano.
  • VJ Bah: Sua instalação interativa “Reflexões”, localizada no Baixo do Viaduto, captura e projeta imagens em tempo real em painéis de LED, com efeitos visuais dinâmicos, convidando o público a interagir.
  • Carlo Bernardini: Artista italiano que expõe a instalação “Infinito Refletido” em dois andares do Museu de Artes e Ofícios. A obra utiliza luz física de fibra óptica para desenhar formas ilusórias e mutáveis, percebidas de maneira diferente conforme o deslocamento do público.
  • Spectaculaires (França): Iniciativa francesa que apresenta a instalação artística “Dance Flower”, em colaboração com a Embaixada da França no Brasil.
  • Amara Moira: Doutora em teoria e crítica literária e autora, explora a poeticidade do bajubá (língua das travestis) em um letreiro inédito no festival.
  • Francisco Mallmann: Poeta que apresenta a instalação textual “A rua é do desejo”, que iluminará o Edifício Central, celebrando o encontro entre poesia e pulsação urbana.

PROGRAMAÇÃO

Todos os dias (18h às 00h)

Instalações

  • Alex Senna (SP) – Sonhando Acordado – Praça da Estação
  • Amara Moira (SP) – Bajubá é o que há – Escadaria do Metrô
  • Bolinho (BH) – No Passinho do Bolinho – Rua Sapucaí
  • Carlo Bernardini (Itália) – Infinito Refletido – Museu de Artes e Ofícios
  • Criola (BH) – ÌRÁN OKUN – Edifício Chagas Dória
  • Coletivo Levante (BH) + Duas Ideias (BH) – Tijoluz - Choque de Quebrada – Baixio do Viaduto Santa Tereza
  • Dpaula (SP) – Bonecos Black de Posto – Rua Aarão Reis
  • Francisco Mallmann (PR) – A rua é do desejo – Rua Aarão Reis
  • Homem Gaiola (BH) – Paisagens Digitais – Mirante da Sapucaí
  • Mutabile Arquitetura (BH) + João Wilbert (BH) – Entrelinhas – Edifício Sulacap/Sulamérica
  • Ricardo Bizafra (BH) – Foco – Viaduto Santa Tereza
  • Spectaculaires (França) – Dance Flower – Parque Municipal
  • VJ Bah (BH) – Reflexões – Baixio do Viaduto Santa Tereza

Quinta (14)

Mostra de Videomapping – Praça da Estação – 19h, 20h, 21h
Treme Terra – Baixio do Viaduto Santa Tereza – 18h a 22h

  • Baile da Bôta – 18h a 20h30
  • LatinoBregarave – 20h30 a 22h

Performances

  • Arrastão Samba D’Ouro – Saída da Praça Fuad Noman – 18h
  • Trovão Tropical – Carrinho Projetor – Circuito Festa da Luz – 18h a 22h

Sexta (15)

Mostra de Videomapping – Praça da Estação – 19h, 20h, 21h

Performances

  • Duelo de MCs – Viaduto Santa Tereza – 18h a 22h
  • Na Régua – Grau e Arte Barbearia Noturna (Rua Tamóios, 15) – 19h a 23h
  • Trovão Tropical – Carrinho Projetor – Circuito Festa da Luz – 18h a 22h

Sábado (16)

MUMA – Música e Mapping – Praça da Estação – 18h a 22h

  • 18h20 – Pajé e A Nave convida Juliana Shiutz + VJ Guilherme Pedreiro
  • 19h40 – Nath Rodrigues convida Gui Ventura + VJ Notívago
  • 21h10 – Mateus Fazeno Rock + VJ Misteria

Treme Terra – Baixio do Viaduto Santa Tereza – 18h a 22h

  • NBAILE: Djahi B2B Dia, Gana B2B Grabs, Pelas B2B Jô Marçal B2B Princezinha da Paz, MC Vovó da ZN

Performances

  • Na Régua – Grau e Arte Barbearia Noturna (Rua Tamóios, 15) – 19h a 23h
  • Karaokê da Bia – Rua Sapucaí – 18h a 22h
  • Trovão Tropical – Carrinho Projetor – Circuito Festa da Luz – 18h a 22h

Domingo (17)

MUMA – Música e Mapping – Praça da Estação – 18h a 22h

  • 18h20 – Celso Moretti & Banda Barraco de Aluguel + VJ Bah
  • 19h40 – FBC + VJ Gabriel Fix
  • 21h20 – Luana Flores + VJ Deise Oliveira

Treme Terra – Baixio do Viaduto Santa Tereza – 18h a 22h

  • Pivetz Sounds apresenta: Reggae das Minas – Trine, Bella Melina, Rud Girl, Inza Princess, Vivi Uaiss, Ballet Selecta

Performances

  • A Velha Guarda do Soul – Parque Municipal – 18h a 22h
  • Na Régua – Grau e Arte Barbearia Noturna (Rua Tamóios, 15) – 19h a 23h
  • Trovão Tropical – Carrinho Projetor – Circuito Festa da Luz – 18h a 22h
  • Karaokê da Bia – Rua Sapucaí – 18h a 22h

SERVIÇO

Festa da Luz 2025 – 4ª edição
📅 14 a 17 de agosto de 2025
📍 Baixo Centro de Belo Horizonte – Praça da Estação, Viaduto Santa Tereza, Sulacap/Sulamérica, Rua Aarão Reis e Sapucaí
🎟 Entrada gratuita
ℹ Mais informações: www.instagram.com/festadaluz.art

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.