Dois casos envolvendo policiais penais terminaram com a morte de suas companheiras no mesmo dia. No último sábado (17), em Belo Horizonte, Rodrigo Caldas, de 45 anos, é
No mesmo dia, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, Daniel Fernandes Resende, de 25 anos, atirou mais de dez vezes contra Rúbia de Fátima Souza, de 43, e depois disparou contra a própria cabeça. Daniel e Rodrigo sobreviveram.
Mas o que os casos têm em comum? O trabalho pode influenciar em desfechos trágicos como esses? Quais são as origens do problema? Para responder a essas questões, a reportagem da Itatiaia conversou com a psicóloga Laís Pereira, diretora da organização Não Era Amor, e com o diretor de comunicação do Sindicato dos Policiais Penais de Minas Gerais (Sindppen-MG), Magno Soares.
Para começar, apesar da coincidência de dois casos no mesmo dia, envolvendo policiais penais, Laís Pereira ressalta que é fundamental compreender que os homens suspeitos de feminicídio podem estar em qualquer profissão, classe social ou faixa etária.
“O agressor, muitas vezes, mantém uma ótima imagem social, mas, nos bastidores, junto à parceira, mostra-se completamente diferente. Ele a enxerga de forma objetificada, como um objeto sobre o qual exerce posse, controle e manipulação”, destacou.
Violência dentro e fora do trabalho
Magno e Laís concordam que os agentes da segurança pública estão expostos a altos níveis de estresse no trabalho, o que aumenta os transtornos de saúde mental e pode potencializar episódios de violência.
“O nosso ambiente de trabalho se assemelha aos piores em que um ser humano pode estar. O serviço dentro de um presídio é considerado o terceiro mais perigoso do planeta, e isso impacta diretamente na vida dos policiais penais, aflorando a violência fora das unidades e refletindo no dia a dia”, afirmou. " O sindicato tem acompanhado, infelizmente, alguns casos envolvendo policiais penais em situações graves”, acrescentou.
A raiz do problema
No entanto, não é possível afirmar que os feminicídios cometidos por agentes de segurança pública tenham como causa apenas questões de saúde mental, reforça Laís.
“A raiz do problema está relacionada ao machismo e à visão desumanizada que o agressor tem de sua parceira. Estresse, transtornos mentais, uso de álcool ou outras substâncias podem funcionar como fatores que potencializam comportamentos agressivos, mas não são a causa”, explicou Laís Pereira.
Até porque mulheres que atuam no sistema prisional também estão submetidas às mesmas condições de trabalho, mas raramente aparecem como autoras desse tipo violência.
Tentativa de suicídio
Após os assassinatos, Rodrigo foi encontrado com uma faca cravada no abdômen, enquanto Daniel apresentava um tiro na cabeça. Nesta quarta-feira (20), o Hospital de Clínicas de Uberlândia informou que o policial penal segue internado, sem detalhar o estado de saúde.
O comportamento chama a atenção por revelar tentativas de autoextermínio logo após o crime. Segundo Laís, o suicídio do agressor depois do feminicídio pode ter diferentes motivações.
“Entre elas: medo de enfrentar a punição; culpa misturada à impulsividade momentânea; necessidade de exercer controle extremo sobre o futuro da parceira e o próprio destino, revelada no planejamento e execução do feminicídio seguido de suicídio”, explicou.
A psicóloga também chama atenção para o fato de que o feminicídio costuma ser a etapa final de um relacionamento abusivo. Antes dele, há sinais de escalonamento da violência.
“No início, aparecem demonstrações intensas e rápidas de afeto, pedidos de namoro ou casamento que surgem antes de dar tempo de conhecer a pessoa com calma. Esses são sinais de alerta. Além disso, as manifestações de ciúme — mesmo em forma de brincadeira — geralmente estão entre os primeiros sinais de violência. Por isso, é fundamental não normalizar o ciúme”, concluiu.
Como pedir ajuda?
Se você está vivendo uma situação de violência, conhece alguém que esteja ou presenciar alguma cena de agressão, fique atenta aos canais de apoio disponíveis:
LIGUE:
- 190 – Se você estiver em situação de violência ou ouvir gritos e sinais de briga;
- 180 – Para denunciar violência doméstica;
- 100 – Quando a violência for contra crianças.
As denúncias podem ser feitas de forma anônima.
COMPAREÇA:
- À Delegacia da Mulher da sua cidade;
- Ao Centro Especializado de Atendimento à Mulher;
- À Defensoria Pública Especializada na Defesa dos Direitos da Mulher em Situação de Violência (Nudem).
Se na sua cidade não houver um serviço especializado, busque apoio em:
- Delegacias de polícia;
- Postos da Polícia Militar;
- Serviços de assistência social do município (CRAS ou CREAS);
- Promotoria de Justiça;
- Fórum da comarca;
- Defensoria Pública.