‘Ficamos em choque’, diz turista vítima de racismo envolvendo advogada no Centro de BH

Psicóloga e pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Eneida Aparecida, de 43 anos, contou que veio a BH com a família para visitar o filho

Vídeo mostra o momento exato que a mulher diz ofensa racista

A mulher investigada pela Polícia Civil por racismo contra um casal de turistas, em Belo Horizonte, é a advogada Natália Burza Gomes Dupin e já tinha cometido algo semelhante contra um taxista, em 2019. O caso recente foi registrado no último domingo (28), em um prédio na Avenida Amazonas, no bairro Barro Preto, Região Centro-Sul da capital. Um vídeo obtido pela reportagem capturou o momento em que Natália diz: “tenho nojo de preto”.

A atitude da advogada chocou o casal, que é de São Paulo. A mulher é a psicóloga e pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Eneida Aparecida, de 43 anos, enquanto o companheiro é professor e pesquisador Fábio Bouças, de 51.

Eles estavam na capital mineira para passar o fim de ano com o filho, de 23 anos, estudante de Direito e morador de Belo Horizonte. A família também viajava com outros dois filhos, de 7 e 18 anos.

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À Itatiaia, Eneida contou que o casal estava sentado na área comum do prédio por causa do calor, quando percebeu uma mudança no comportamento da moradora ao se aproximar. “Ela desceu para atender um entregador de forma hostil. Aquilo me deixou desconfortável”, relatou.

Segundo a vítima, após voltar para o apartamento, a advogada retornou pouco depois, fechou a porta de vidro, encarou o casal e cuspiu no chão. A ação foi registrada por câmeras de segurança do condomínio. A Itatiaia teve acesso às imagens, que mostram o momento. Quando o casal seguia para o elevador, a suspeita desceu novamente e gritou: “Eu tenho nojo de preto”.

“A porta do elevador já estava fechando, e ficamos sem reação, tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Quando chegamos ao apartamento, nosso filho disse: ‘Isso foi racismo’. Ficamos em choque por vários minutos”, contou Eneida.

O casal afirmou que procurou o síndico do prédio, que informou que a mulher já possui histórico de episódios semelhantes. No dia seguinte, após terem acesso às imagens e ao áudio, decidiram registrar a ocorrência.

“Sempre fomos muito bem acolhidos aqui. Nosso filho estuda, trabalha, tem amigos. Jamais imaginamos viver algo assim, principalmente em Minas”, afirmou Eneida, ressaltando que o racismo pode acontecer em qualquer lugar.

“O Brasil foi construído sobre a exploração de pessoas escravizadas, e isso se reflete até hoje. Muitas pessoas não entendem que não existe superioridade entre seres humanos. Todos temos os mesmos direitos e deveres”, disse.

A vítima contou ainda que já passou por outras situações de racismo, mas classificou esse episódio como o mais grave. “Estamos acostumados a dialogar e enfrentar o racismo, que muitas vezes é sutil. Mas dessa forma escancarada, foi a primeira vez. Ficamos em estado de choque. Nossos filhos também ficaram assustados.”

O marido, Fábio dos Santos, afirmou que medidas judiciais já estão sendo adotadas. “Estamos com um advogado acompanhando o caso a partir de São Paulo, onde moramos. Queremos que isso seja tratado de forma exemplar. A sensação é de humilhação e revolta. Alguém te ofende, cospe e diz que tem nojo de você sem te conhecer. É muito doloroso”, afirmou.

O que diz a Polícia Civil

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Em nota, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que instaurou inquérito para apurar a prática de injúria racial assim que os fatos foram registrados.

“Os envolvidos serão ouvidos nos próximos dias na Delegacia Especializada em Investigação de Crimes de Racismo, Xenofobia, LGBTfobia e Intolerâncias Correlatas, em Belo Horizonte, onde a apuração segue em andamento”, informou a corporação.

Outro caso envolvendo a suspeita

Em novembro de 2019, a mesma advogada foi autuada em flagrante pelos crimes de injúria racial, desacato, desobediência e resistência, após afirmar a um taxista que “não andava com negros” e declarar-se racista.

Na ocasião, segundo o Boletim de Ocorrência (B.O.), o motorista, que atuava há 16 anos na profissão, estava parado na Avenida Álvares Cabral quando foi alvo das ofensas.

A reportagem procurou o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) , a advogada e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e aguarda os posicionamentos.

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.
Jornalista formado em Comunicação Social pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Na Itatiaia desde 2008, é “cria” da rádio, onde começou como estagiário. É especialista na cobertura de jornalismo policial e também assuntos factuais. Também participou de coberturas especiais em BH, Minas Gerais e outros estados. Além de repórter, é também apresentador do programa Itatiaia Patrulha na ausência do titular e amigo, Renato Rios Neto.

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