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Clínica na Grande BH cobrava R$ 2,5 mil de pacientes dopados e agredidos

Ação policial no último fim de semana resgatou 47 pessoas e prendeu oito suspeitos, incluindo o dono, um psicólogo e uma assistente social

Os pacientes que eram submetidos a maus-tratos, agressões físicas e ao uso indiscriminado de medicamentos controlados pagavam cerca de R$ 2,5 mil por mês à clínica de recuperação em Juatuba, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. As informações constam nos boletins de ocorrência registrados no sábado (27) e no domingo (28). Foram resgatadas 47 pessoas, entre 18 e 71 anos, e presos em flagrante oito funcionários no último fim de semana.

Entre os presos estão o dono da clínica, um psicólogo, uma assistente social e outros funcionários e coordenadores (veja abaixo). Segundo a Polícia Militar, das 47 vítimas identificadas, 35 estavam na sede, no bairro Residencial Samambaia, e 12 em uma filial no bairro Vila Maria Regina.

  • Dono da clínica, 38 anos
  • Funcionário, 44 anos
  • Psicólogo, 41 anos
  • Assistente administrativa, 36 anos
  • Assistente social, 50 anos
  • Coordenador, 39 anos
  • Terapeuta, 26 anos
  • Funcionário, 32 anos

As investigações começaram após a denúncia de uma funcionária e incluem maus-tratos a pessoas com deficiência, assédio sexual, tráfico de drogas e agressões.

De acordo com a Polícia Civil, dois suspeitos, de 26 e 32 anos, foram levados à delegacia e autuados em flagrante por maus-tratos. Outros seis suspeitos, entre 36 e 50 anos, foram ouvidos e também presos em flagrante, desta vez por sequestro e cárcere privado.

Relatos de internos à Polícia Militar (PMMG) apontam que as agressões eram quase diárias, principalmente para forçar a ingestão de remédios. Um homem de 28 anos disse ter levado chutes no peito de um funcionário. Outro, de 39, contou que o mesmo funcionário apertou seus olhos com os dedos para impedir uma fuga. Já um interno de 36 anos relatou ter sido agredido com socos e colocado em um “mata-leão” ao tentar escapar.

O abuso mais comum, segundo as vítimas, era o uso de remédios controlados sem prescrição. Os pacientes eram obrigados a tomar um coquetel de psicotrópicos e sedativos, apelidado de “danoninho”, que os deixava dopados por dias. Muitos apresentavam fala arrastada e raciocínio lento como efeito.

Violência sexual

Também houve denúncias de assédio e abuso sexual. De acordo com o boletim de ocorrência (B.O.), a funcionária que fez a denúncia disse que o autor Ricardo a assediou, ficando nu na frente dela. Internos relataram ainda que o coordenador abusou de mulheres da ala feminina (outra unidade) em outra ocasião, chegando a fornecer pílula do dia seguinte.

Durante as vistorias, a polícia encontrou sujeira, alimentos vencidos ou mal armazenados e relatos de trabalhos forçados, como faxina e capina, em troca de direitos básicos, como fazer ligações telefônicas.

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A sede da clínica tinha alvará apenas para “albergue”, inadequado para clínica, enquanto a filial não tinha licença alguma. Foram apreendidas caixas de remédios controlados sem receita e até um receituário em branco já carimbado e assinado por um médico, o que pode indicar falsificação.

A investigação segue na delegacia de Juatuba para esclarecer todos os fatos.

A reportagem entrou em contato com a prefeitura e aguarda um posicionamento.

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.
Jornalista formado em Comunicação Social pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Na Itatiaia desde 2008, é “cria” da rádio, onde começou como estagiário. É especialista na cobertura de jornalismo policial e também assuntos factuais. Também participou de coberturas especiais em BH, Minas Gerais e outros estados. Além de repórter, é também apresentador do programa Itatiaia Patrulha na ausência do titular e amigo, Renato Rios Neto.