Os pacientes que eram submetidos a maus-tratos, agressões físicas e ao uso indiscriminado de medicamentos controlados pagavam cerca de R$ 2,5 mil por mês à clínica de recuperação em Juatuba, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. As informações constam nos boletins de ocorrência registrados no sábado (27) e no domingo (28).
Entre os presos estão o dono da clínica, um psicólogo, uma assistente social e outros funcionários e coordenadores (veja abaixo). Segundo a Polícia Militar, das 47 vítimas identificadas, 35 estavam na sede, no bairro Residencial Samambaia, e 12 em uma filial no bairro Vila Maria Regina.
- Dono da clínica, 38 anos
- Funcionário, 44 anos
- Psicólogo, 41 anos
- Assistente administrativa, 36 anos
- Assistente social, 50 anos
- Coordenador, 39 anos
- Terapeuta, 26 anos
- Funcionário, 32 anos
As investigações começaram após a denúncia de uma funcionária e incluem maus-tratos a pessoas com deficiência, assédio sexual, tráfico de drogas e agressões.
De acordo com a Polícia Civil, dois suspeitos, de 26 e 32 anos, foram levados à delegacia e autuados em flagrante por maus-tratos. Outros seis suspeitos, entre 36 e 50 anos, foram ouvidos e também presos em flagrante, desta vez por sequestro e cárcere privado.
Relatos de internos à Polícia Militar (PMMG) apontam que as agressões eram quase diárias, principalmente para forçar a ingestão de remédios. Um homem de 28 anos disse ter levado chutes no peito de um funcionário. Outro, de 39, contou que o mesmo funcionário apertou seus olhos com os dedos para impedir uma fuga. Já um interno de 36 anos relatou ter sido agredido com socos e colocado em um “mata-leão” ao tentar escapar.
O abuso mais comum, segundo as vítimas, era o uso de remédios controlados sem prescrição. Os pacientes eram obrigados a tomar um coquetel de psicotrópicos e sedativos, apelidado de “danoninho”, que os deixava dopados por dias. Muitos apresentavam fala arrastada e raciocínio lento como efeito.
Violência sexual
Também houve denúncias de assédio e abuso sexual. De acordo com o boletim de ocorrência (B.O.), a funcionária que fez a denúncia disse que o autor Ricardo a assediou, ficando nu na frente dela. Internos relataram ainda que o coordenador abusou de mulheres da ala feminina (outra unidade) em outra ocasião, chegando a fornecer pílula do dia seguinte.
Durante as vistorias, a polícia encontrou sujeira, alimentos vencidos ou mal armazenados e relatos de trabalhos forçados, como faxina e capina, em troca de direitos básicos, como fazer ligações telefônicas.
A sede da clínica tinha alvará apenas para “albergue”, inadequado para clínica, enquanto a filial não tinha licença alguma. Foram apreendidas caixas de remédios controlados sem receita e até um receituário em branco já carimbado e assinado por um médico, o que pode indicar falsificação.
A investigação segue na delegacia de Juatuba para esclarecer todos os fatos.
A reportagem entrou em contato com a prefeitura e aguarda um posicionamento.