As agressões a uma técnica de enfermagem, de 53 anos,
A enfermeira foi atacada quando procurava a veia do filho da autora, de três meses de idade, para realizar a coleta de sangue. Em determinado momento, quando a profissional tirou a agulha para colocá-la novamente, procedimento considerado comum, a mãe tirou a seringa, já suja de sangue, dela e a espetou na mão.
Juntamente com a agressão, a autora, de 25 anos, teria atirado um objeto na enfermeira e a xingado de “louca” e “incopetente”, afirmando que não a deixaria “encostar na criança mais”.
Logo após o ataque, a enfermeira saiu do local para se proteger e procurou o médico de plantão. Conversando com o plantonista, a profissional descobriu que a mulher é soropositiva e que a criança também faz acompanhamento em relação à doença. A técnica precisará tomar um coquetel de remédios por um mês.
“Foi detectado durante o exame de sangue dessa criança que ela deu reagente para HIV. Diante disso tudo estou passando por essa situação de desespero. Fui contaminada por agulha que já estava dentro da criança e agora vou ter que fazer acompanhamento por 29 dias, tomando o coquetel para não desenvolver o vírus da Aids”, relatou a técnica.
Insegurança
Em entrevista à Itatiaia, a servidora atacada questionou a falta de segurança no local e a ausência de acolhimento da direção do hospital. Segundo ela, agressões vindas de pacientes e seus parentes são comuns na unidade de saúde e pouco é feito para coibi-las.
“A gente não tem suporte para divulgar essas agressões. Não temos apoio no local de trabalho, não temos apoio da chefia, é muito pouco. Poucas pessoas se preocupam com a gente e nos ajudam a levar em frente essas informações. A gente fica muito desassistido. Mesmo pessoas que estão vendo o que está acontecendo, na hora de apurar os fatos, saem e nos deixam sozinhas”, desabafou.
“Precisamos de apoio, orientação e suporte. Não temos a quem recorrer, principalmente à noite. No turno da noite ficamos muito expostos”, finalizou a profissional.
Vítima teve que ir à delegacia e ao IML sozinha, de madrugada, diz sindicato
Carlos Martins, diretor da Asthemg (Associação dos Trabalhadores em Hospitais de Minas Gerais) e Sindpros (Sindicato dos Trabalhadores da rede Fhemig), foi mais um a relatar à Itatiaia que as agressões aos profissionais do Hospital Infantil João Paulo II são recorrentes. Segundo ele, não há apoio dos superiores.
“Normalmente quando acontece esse tipo de caso e é comunicado à chefia, eles falam que ‘nós estamos sujeitos a esse tipo de situação, já que lidamos com o público’. Mas o que eles esquecem é que estamos à serviço da instituição. O mínimo que esperamos da instituição é solidariedade e ações práticas quando ocorrerem os casos”, começou ele.
Segundo Martins, a profissional agredida pela polícia teve que buscar apoio policial por conta própria.
“Ela teve que recorrer à polícia por conta própria, ir até a delegacia fazer o BO, e olha o constrangimento de ir até a delegacia de madrugada sozinha, depois ir até o IML e ainda procurar assistência médica porque ela tinha que fazer as medicações preventivas”, contou ele.
Carlos ainda relatou que colegas de trabalho e o sindicato deram amparo à vítima. Segundo ele, ninguém da instituição sequer se preocupou em orientá-la ou acompanhá-la.
“O que já cobramos da Fhemig e da direção do hospital é que, se não tem como impedir que aconteça, no mínimo que tenham atitude e garantam estrutura de apoio a esses funcionários. Isso já os ajudaria muito”, afirmou.
Por fim, ressaltou a importância de haver seguranças no local para coibir agressões como essa.
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Sensação de insegurança
Uma enfermeira de 38 anos do Hospital Infantil João Paulo II, colega da vítima das agressões, afirmou que esse tipo de situação é recorrente na unidade de saúde.
“Não é a primeira vez que acontece. Temos relatos de colegas agredidos. Não temos segurança para prestar assistência aos pacientes. Ficamos vulneráveis enquanto servidores. Muitas vezes temos que sair do trabalho para registrar o Boletim de Ocorrência, enquanto o certo seria a polícia vir até o local para o registro. Antes tínhamos um posto da Polícia Civil aqui que ajudava na segurança, até para intimidar os pacientes mal intencionados, porém foi desativado. Não temos polícia, ronda, falaram que teria, mas não tem”, relatou ela.
Ela contou que os profissionais lidam com pacientes agressivos, muitas vezes bêbados ou drogados, e que há uma grande sensação de insegurança.
“Acho que o estado precisa passar essa segurança para nós enquanto funcionários. É algo que não tem. Estamos à mercê desse tipo de situação, sem segurança nenhuma. A gente vem trabalhar e está sujeito a todo tipo de coisa, infelizmente”, desabafou.
Fhemig alega que oferece acompanhamento e segurança
A Itatiaia procurou a Fhemig e o Hospital Infantil João Paulo II solicitando um posicionamento sobre o caso. A fundação afirmou que oferece acompanhamento aos servidores e que está prestando “toda a assistência à profissional”.
Sobre as denúncias de insegurança, a Fhemig relatou que o Hospital Infantil João Paulo II possui sistema de monitoramento, além de controle de acesso e segurança 24h por dia. Leia o comunicado na íntegra:
“A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) oferece acompanhamento por meio da área de Saúde e Segurança do Trabalhador para apoiar seus servidores e reafirma seu compromisso com a proteção tanto dos profissionais quanto dos pacientes. Em busca de um ambiente mais seguro, a Fundação realiza avaliações contínuas das medidas de segurança em todas as suas unidades, com o objetivo de implementar estratégias eficazes para prevenir e enfrentar a violência.
O Hospital Infantil João Paulo II (HIJPII) conta com 118 câmeras de segurança e cobertura ampla, que contribuem para o monitoramento e a proteção dos profissionais e pacientes. Possui também controle de acesso e segurança 24 horas.
A Fundação lamenta profundamente o ocorrido e informa que está prestando toda a assistência à profissional, que foi acolhida e orientada. A servidora foi atendida conforme protocolo institucional de exposição a material biológico potencialmente contaminado.
A direção do Complexo de Urgência, do qual o Hospital Infantil João Paulo II faz parte, está colaborando com as autoridades responsáveis para o devido esclarecimento dos fatos. A Fhemig repudia qualquer forma de violência contra seus servidores. Reforçamos nosso compromisso e respeito aos profissionais da saúde, que diariamente se dedicam ao cuidado da população mineira.”