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Bebê reborn no hospital? Mineira de 17 anos viraliza com conteúdo inusitado

Yasmim Becker, de 17 anos, moradora de Janaúba, no Norte de Minas Gerais, coleciona bebês reborn e cria conteúdos sobre eles nas redes sociais

Yasmim Becker cria conteúdos com seu bebê reborn, Bento, nas redes sociais

Comentários e memes sobre bebês reborn tomaram conta das redes sociais nos últimos dias. Babá, creche e até aniversário de bebê reborn são alguns dos diversos termos sobre o tópico que circulam nas redes.

Isso porque, recentemente, viralizaram diversos conteúdos desse tipo. Um deles, inclusive, é da jovem Yasmim Becker, de 17 anos, moradora de Janaúba, no Norte de Minas Gerais. Ela mostra a rotina com Bento, o seu bebê reborn, e realiza diversas atividades com ele, como, por exemplo, ir ao hospital.

A adolescente é colecionadora de bebês reborn desde 2020. Além das bonecas, ela compra também roupas e diversos acessórios para o bebê e grava conteúdos sobre eles para as redes sociais, onde tem mais de 100 mil seguidores e milhões de visualizações.

Ela relatou à reportagem da Itatiaia que leva a coleção como um hobbie. O conteúdo que ela publica tem foco no público infantil, e toda aquela rotina é fictícia. A adolescente recebe pelos vídeos que posta nas redes sociais e é com esse montante que ela compra as novas bonecas e os acessórios para elas.

Um dos vídeos mais virais da conta de Yasmim é o que ela leva Bento ao hospital. “Tive que levar o meu bebê reborn no hospital às pressas”, dizia ela no começo do vídeo. Nas imagens, além de levar de verdade o bebê reborn ao hospital, o bebê é pesado e tem várias outras atividades rotineiras de um hospital em um bebê comum.

Bebê reborn no hospital

A adolescente relatou que aquele vídeo foi gravado enquanto ela visitava um bebê de uma conhecida no hospital.

“Eu fui visitar um bebezinho de uma pessoa que eu conhecia. Eu entrei no hospital com a minha boneca como visita e aí tudo ok. E aí eu pensei: ‘Por que não colocar minha boneca no bercinho que esse bebê estava?’ E aí eu coloquei. A balança estava no corredor, então todo mundo podia usar. Coloquei o meu bebê para ver o quanto ele pesava. Não interferi em nada de ninguém. E só foi pelo vídeo, não atrapalhou ninguém”, contou.

Nesse vídeo e em vários outros, Yasmim recebeu uma chuva de críticas de internautas. Ela contou à reportagem que não se incomoda com os comentários porque sabe que tudo é fictício e sabe que o conteúdo é para crianças. Mas o pai dela, Lenyson Carlos dos Anjos Pereira, de 40 anos, afirmou que o ‘hate’ incomoda ele e a mãe da menina.

“Para nós, está tudo normal. Não atrapalha a vida particular, está tudo ok. O mais complicado para nós é entender os comentários. Os comentários, a maioria, são negativos. O pessoal fala cada coisa que só Deus. Os comentários são mais pesados para nós, mas para ela, graças a Deus, não está afetando. Ela gosta muito de criança e sabe muito também”, disse.

Bento, o bebê reborn de Yasmim

Colecionadora desde 2020, Yasmim tinha várias bonecas, mas as vendeu recentemente e, no momento, está só com Bento. Em agosto, ela deverá receber uma nova que encomendou. Os bonecos são feitos sob encomenda, da forma que a compradora pedir.

“Eu encomendo um bebê da forma que eu quero e com as características que eu quero e aí a artista faz as bebês do jeitinho que eu mandei. Eu vendo porque eu sempre quero estar renovando minha coleção para adquirir bebês mais realistas”, contou.

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Comentários de ódio

Muitos dos comentários que Yasmim recebe nas redes sociais dizem respeito à sanidade mental e assuntos do tipo. “Vai se tratar"; “Caso de psiquiatra isso"; “Isso é normal?” são alguns dos comentários do vídeo em que Yasmim leva Bento ao hospital.

Segundo o psicólogo e professor da Faseh, Welder Vicente, esse comportamento não é necessariamente considerado um transtorno. No caso de Yasmim, é um conteúdo meramente infantil e fictício, como ela mesma contou à reportagem.

“Cuidar de um bebê reborn pode funcionar como uma forma de regulação emocional ou até como um reforço positivo - ou seja, a pessoa encontra prazer, conforto ou alívio na simulação do cuidado. O comportamento em si só indicaria um transtorno se causasse sofrimento significativo ou prejuízo na vida social, ocupacional ou afetiva da pessoa”, explicou o especialista.

No geral, esse tipo de conteúdo é produzido por mulheres. Para o psicólogo, isso se dá devido por comportamentos reforçados socialmente. “Culturalmente, as mulheres são frequentemente ensinadas e incentivadas a desempenhar o papel de cuidadoras desde cedo. Assim, esse tipo de comportamento pode surgir como uma extensão de crenças internalizadas, do tipo: “ser cuidadora me torna valiosa” ou “é minha função cuidar do outro”. Esses padrões são reforçados tanto pelo meio social quanto pelas recompensas emocionais envolvidas”, afirmou.

Em outros casos, as pessoas podem usar esses bebês para substituir perdas que tiveram na vida, conforme explicou o professor. “Uma mulher que perdeu um bebê ou viveu um parto traumático pode usar o bebê reborn como uma forma de reprocessar cognitivamente a dor, tentando substituir a perda por um comportamento simbólico. Para alguém com depressão pós-parto ou luto perinatal, essa prática pode funcionar como uma tentativa de enfrentamento. Mas é importante reforçar: isso não significa que todas as pessoas que fazem isso têm um transtorno — o contexto emocional e o impacto na vida da pessoa é que precisam ser avaliados”, explicou.

Jornalista formada pela PUC Minas. Mineira, apaixonada por esportes, música e entretenimento. Antes da Itatiaia, passou pelo portal R7, da Record.