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Clínica odontológica de BH fecha sem avisar e causa prejuízo a mais de 90 clientes

Algumas vítimas chegaram até a pagar os serviços, mas tiveram o tratamento interrompido sem nenhuma justificativa

Vários clientes foram lesados pela Oral Unic

Dezenas de pacientes ficaram no prejuízo após o fechamento da Oral Unic Odontologia, sediada em Belo Horizonte, em janeiro deste ano. As vítimas contrataram os serviços da clínica - em alguns casos até pagaram - mas tiveram o tratamento interrompido sem nenhuma justificativa.

Um dos prejudicados pela clínica foi Dilcio de Paula Eduardo Júnior, de 48 anos, morador do bairro Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Ele relatou que foi junto com o pai, de 84 anos, à unidade, localizada na Avenida do Contorno, fez a avaliação e contratou o serviço de implante dentário para os dois, em dezembro do ano passado.

Para contratar o serviço, pai e filho pagaram R$ 3 mil de entrada e dividiram o restante em 18 parcelas de R$600 - no total, o tratamento sairia a R$ 12 mil. No entanto, eles sequer começaram o processo, já que a clínica entrou em recesso em dezembro e, em janeiro, fechou, sem nenhuma explicação.

“Na primeira semana de dezembro, a clínica informou que entraria em recesso. Aí nós pagamos [a parcela de] dezembro, né? Chegou em janeiro, por volta do dia 8, até então eles não falaram nada. Como moro perto, fui na porta da clínica e vi um papel falando que eles voltariam no dia nove. Entrei em contato via WhatsApp no dia 10 e nada. Com muito custo, me responderam, falaram que estava em reforma. Achei meio esquisito, primeiro era recesso, agora é reforma”, relatou.

Quando chegou em fevereiro, Dilcio parou de pagar as parcelas e continuou tentando contato com a clínica. Depois de muito custo, disseram a ele que o local havia fechado. Ele pediu o cancelamento do contrato, mas ainda não conseguiu falar na clínica.

Grupo de vítimas

Foi quando Dilcio entrou em um grupo do WhatsApp que reúne as vítimas da Oral Unic. No momento, o grupo tem mais de 90 pessoas com o mesmo problema.

Márcia de Souza Gama, de 58 anos, também está no grupo. Ela contratou os serviços da clínica há um ano, após ver propagandas nas redes sociais, mas não consegue usar o serviço de manutenção desde novembro de 2023.

A cabeleireira, que mora em Betim mas trabalha em Belo Horizonte, contratou um serviço de implante, que custaria R$ 11 mil no total. Até agora, pagou R$6 mil reais à clínica, mas apenas arrancou os dentes e colocou aparelho.

“Minha filha ainda me falou: ‘mãe, olha com quem você está fazendo [o tratamento]’. Ela me alertou”, contou.

Denise de Jesus, moradora do bairro São Lucas, próximo à clínica, foi mais uma que ficou no prejuízo. A diferença é que ela buscava tratamento para o neto, de 16 anos. O garoto usaria aparelho odontológico durante dois anos, mas o tratamento foi feito por apenas sete meses.

No total, ela gastou R$ 2.264 mil com o tratamento, mas ficou no prejuízo e precisou procurar um outro dentista para dar continuidade ao processo. Segundo ela, os funcionários da clínica não queriam entregar a pasta com o prontuário do adolescente.

“Pedi a pasta para levá-lo em outro dentista pelo menos, mas me falaram que não era assim que funcionava. Eu teria que pagar multa, como se fosse eu que tivesse parado o tratamento. Mas foram eles que fugiram”, relatou.

Denise contou, ainda, que, no começo, o tratamento dado pelos funcionários é “de hotel” e depois que o trabalho é iniciado, tudo muda. Ela também foi adicionada ao grupo do WhatsApp de clientes lesados pela clínica.

“Tem que parar esse pessoal, eles fazem propaganda que é igual hotel. Cafezinho no começo, enganando a gente. A gente se sente uma princesa lá dentro. Cafezinho, pão de queijo, bolo, suquinho, isso tudo é farsa. Quando a gente começa [o tratamento], eles mudam tudo. Tem que parar esse pessoal”
Denise de Jesus, uma das vítimas da Oral Unic

Boletins de ocorrência

No total, seis boletins de ocorrência foram registrados com reclamações sobre a clínica, sendo quatro somente em 2024. A maioria relatava o mesmo problema: contrataram os serviços, mas a clínica entrou em recesso em dezembro de 2023 e nunca mais retornou. As vítimas que estão no grupo de WhatsApp buscam entrar com uma ação conjunta contra a empresa.

O caso é semelhante ao da Clínica Arcata, que também fechou sem dar explicações aos clientes. Segundo as vítimas, algumas pessoas foram lesadas pela Arcata e, agora, pela Oral Unic.

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A Itatiaia entrou em contato com a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) para saber se algum inquérito foi instaurado para investigar a clínica, e a corporação informou que “tomou conhecimento dos fatos e instaurou procedimento investigativo para apurar possível crime de estelionato praticado pela suposta clínica odontológica”.

Orientação

A Polícia Civil de MG orientou que “o cidadão lesado procure uma delegacia mais próxima de sua residência para propor a devida representação criminal e apresentar os documentos/ provas que poderão auxiliar na investigação”.

O que diz a empresa?

A Itatiaia tentou contato com a unidade da Oral Unic em Belo Horizonte, mas não obteve retorno de nenhum representante da franquia.

Já a matriz da Oral Unic informou que, após a virada do ano, a unidade da capital mineira “decidiu deliberadamente não retornar do período de recesso, surpreendendo tanto pacientes, quanto a própria franqueadora”.

Segundo a empresa, fundada em Itajaí, em Santa Catarina, a unidade de BH apresentava “dificuldades de gestão”, e foi previsto um “plano de ação para redução do passivo clínico, mas os sócios proprietários optaram por encerrar as atividades de forma abrupta”.

“A franqueadora está tomando todas as medidas cabíveis juridicamente para endereçar as questões decorrentes do encerramento da unidade e orientando os pacientes a fazerem o mesmo”, afirmou a clínica, em nota.

A Oral Unic tem várias unidades em Minas Gerais. Na Grande BH, há unidades em Betim e em Contagem.

Leia na íntegra:

“Lamentavelmente, após a virada do ano, nossa unidade franqueada de Belo Horizonte decidiu deliberadamente não retornar do período de recesso, surpreendendo tanto pacientes quanto a própria franqueadora. Vínhamos acompanhando a unidade, que apresentava dificuldades de gestão, e prevemos para esse tipo de situação um plano de ação para redução do passivo clínico, mas os sócios proprietários optaram por encerrar as atividades de forma abrupta.

A franqueadora está tomando todas as medidas cabíveis juridicamente para endereçar as questões decorrentes do encerramento da unidade e orientando os pacientes a fazerem o mesmo.”

O que fazer nesses casos?

O advogado Thiago Freitas, presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB-MG, recomenda que, quem está nesse tipo de situação procure uma delegacia e faça boletim de ocorrência para que seja aberto o procedimento investigatório de crime.

“Com base nesse boletim de ocorrência e pedido de inquérito inicial, a pessoa tem que juntar todos os documentos e procurar um advogado de confiança para ver se consegue alguma medida liminar de bloqueio prévio do patrimônio de todos, principalmente dos sócios”, disse.

Conforme o advogado, os responsáveis pela clínica podem responder por estelionato, formação de quadrilha, falsificação de documentos, entre outros crimes, caso sejam identificados.

Para o advogado, a principal dica é desconfiar. Se o preço estiver abaixo do mercado, se a empresa pede uma grande parcela antes do início do tratamento, o ideal é desconfiar e questionar.

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Jornalista formada pela PUC Minas. Mineira, apaixonada por esportes, música e entretenimento. Antes da Itatiaia, passou pelo portal R7, da Record.