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Trabalhador que vende café da roça em sinal na Pampulha sonha em construir casa para a mãe

André Pereira Abrantes vende 5 litros de café por dia e deixa à escolha do cliente o valor de cada copo

André aproveita o tempo extra para vender café no sinal

“O dia fica melhor depois de um bom café! Sorria e pague o valor que sentir no coração!” A frase está na placa criada por André Pereira Abrantes, 37 anos, para vender café da roça em um sinal na rua Alcobaça, perto da avenida Antônio Carlos, bairro São Francisco, região da Pampulha de Belo Horizonte.

Auxiliar administrativo em um colégio particular da capital há 10 anos, André conta que precisava de uma renda extra para acabar de construir a casa da mãe, Milva Pereira Abrantes, de 67 anos, e continuar ajudando a irmã, que tem deficiência intelectual, e comprar um carro. O café da roça, a forma de vender, os cuidados com a higiene e a veia empreendedora conquistaram clientes e chamaram a atenção de especialistas em finanças, como o presidente da Itatiaia, Diogo Gonçalves. Nesta quarta-feira (20), André participou do programa Rádio Vivo e contou a história.

“Depois da pandemia (de Covid-19), percebi que o custo de vida subiu muito e que só com a renda da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) eu não conseguiria conquistar alguns objetivos que tenho: acabar de construir a casa da minha mãe e comprar um carro, para facilitar a locomoção e até mesmo ir visitar minha mãe (que mora em Santa Luzia)”, contou André, que mora do bairro Santa Amélia, região da Pampulha.

“Vi que o café é uma bebida que a maioria dos brasileiros gosta. O café é a segunda bebida mais consumida no mundo, só perde para a água. Então seria uma ideia boa”, disse.

André, então, encontrou um fornecedor de café da roça, moído na hora, adaptou uma mateira (usada para servir chimarrão) e, desde abril, fica no sinal da rua Alcobaça vendendo a bebida, entre 6h40 e 10h, antes de iniciar a jornada no colégio Batista, às 11h. Ele usa avental, máscara, luvas e serve o café em copos descartáveis de isopor. O preço? André diz que esse detalhe fica por conta dos clientes, ressalta que nunca tomou cano e já recebeu valores generosos. “Já teve Pix de até R$ 100”, conta.

André conta que vende atualmente cinco litros de café por dia. Ele acorda às 4h da manhã para fazer o café e tem uma planilha com todos gastos, conduta elogiada pelo presidente da Itatiaia.

“Isso é maravilhoso. Fiquei entusiasmado com a história dele. Passei uma parte do dia de ontem chorando e refletindo ao ver a repercussão da história dele. Estou, de fato, super feliz de estar aqui e até emocionado. Tenho o quadro Diogo e Sua Grana, aqui na Itatiaia, e sempre falo que, às vezes, a gente está muito focado em olhar para o quanto que a gente ganha e diz: ‘ó vida, ó céus, é assim que vivo, é assim que vou morrer’. E a pessoa não sai do lugar. E a história dele é linda, porque ele viu que tinha um espaço de tempo que ele poderia trabalhar e buscar uma renda extra”, disse Diogo, que destaca a luta de André.

“Que história de vida, porque ele é como se fosse um arrimo de família. Ajuda a mãe, ajuda a irmã. Tem proposito, tem princípio, tem valor, que é honrar pai e mãe. Fico super entusiasmado, fico super feliz de ver que tem gente assim. Que o exemplo dele se propague”, destacou.

Jornalista formado pela Newton Paiva. É repórter da rádio Itatiaia desde 2013, com atuação em todas editorias. Atualmente, está na editoria de cidades.