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‘A gente não tem quem nos socorrer’, desabafa viúva de motorista de reboque morto por delegado em BH

Anderson Cândido foi morto a tiros por Rafael Horácio após confusão no trânsito, em julho de 2022

Crime aconteceu em julho na avenida do Contorno, região Central de BH

Um ano se passou e a família do motorista de reboque Anderson Cândido tem passado dificuldades financeiras enquanto aguardam por Justiça. O reboquista foi atingido por um disparo efetuado pelo delegado da Polícia Civil, Rafael Horácio, após uma confusão de trânsito na Avenida do Contorno, na região Central de Belo Horizonte.

“Está muito difícil. Peço muito a Deus que abençoa nossos dias. A gente está há quatro meses devendo o aluguel, vivendo da ajuda das pessoas. Mas essas pessoas não estão podendo mais ajudar”, desabafou viúva de Anderson, Maria Regina, que está prestes a ser despejada.

Por isso, eles entraram na Justiça com um pedido de indenização e também pensão, já que o delegado estava em serviço no momento do crime. Foi ajuizada uma ação na 4ª Vara de Fazenda Estadual pedindo uma indenização de R$ 1 milhão e uma pensão.

Rafael Nobre, advogado assistente de acusação, explicou que o Judiciário definiu, em janeiro, o pagamento de um valor mensal de R$ 6,4 mil. Porém, desde então, o Estado de Minas Gerais não fez o pagamento de nenhuma parcela.

“Eu queria pedir ao governador Zema que olhasse por nós. A gente não tem quem nos socorrer e é um funcionário dele que matou meu marido. Tirou um pai de família que estava ali trazendo sustento para nós”, disse a viúva.

O policial, preso desde o dia 30 de julho de 2022, responde na Justiça por homicídio duplamente qualificado (motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima). O caso vai a júri popular, mas ainda não há uma data definida para o julgamento do caso.

Outro lado

A defesa de Rafael Horácio alega que o delegado entendeu que o caminhoneiro ia jogar o veículo para cima dele. No momento em que o caminhão teria dado um tranco, o delegado efetuou disparo em um “ato reflexivo de legítima defesa”. O advogado de Rafael Horácio, Fernando Magalhães, lamenta o caso e afirma que as duas famílias tiveram perdas.

“Um evento trágico e lamentável. Duas famílias que perderam entes queridos. Anderson veio a óbito e o Dr. Rafael, recluso e afastado dos seus, tem também uma perda de vida. Sem falar que emocionalmente, absurdamente arrasado com a situação. Nós lamentamos e levamos aqui a voz do doutor Rafael, que, com certeza não queria esse fim trágico. Agiu dentro da sua consciência no momento em que acreditava que estava protegendo a si e a toda uma sociedade. Não é hora de valorar ou deixar de valorar erros ou acertos. É hora de dizer à família do Anderson que Deus os proteja. Dizer que, se estão aptos a receber qualquer sorte de indenização do Estado, que seja muito bem recebida e muito bem agraciados com isso. Possam minimamente viver com dignidade e que Deus conforte a todos. E dentro da Justiça, que seja colhido o resultado mais próximo do ideal. A vida não se volta, lamenta-se os atos.”

Por meio de nota, o Estado de Minas Gerais, por meio da Advocacia Geral do Estado e da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão, informou que o pagamento dessa pensão terá início no contracheque de julho deste ano. O crédito está previsto para agosto deste ano, ou seja, para o mês que vem.

Repórter policial e investigativo, apresentador do Itatiaia Patrulha.