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Jovens correm mais riscos de desenvolver diabetes, câncer e obesidade do que idosos, indica estudo da UFMG

Pesquisa destaca a relação entre álcool, má alimentação, falta de atividades físicas e o aumento dos riscos para o aparecimento dessas doenças em jovens adultos de 18 a 34 anos

Tabagismo é comportamento de risco para as doenças crônicas não transmissíveis

Adultos jovens de 18 a 34 anos apresentam 21% mais comportamentos de risco a doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) — como doenças cardiovasculares, diabetes, câncer, doenças respiratórias crônicas e obesidade — do que idosos com 60 anos ou mais. É o que indica estudo desenvolvido na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais (UFMG) que analisou as tendências temporais dos comportamentos de risco relacionados no Brasil entre 2009 e 2019.

As DCNT são condições de longa duração que resultam de combinação de fatores genéticos, fisiológicos, ambientais e comportamentais. Thaís Cristina Marquezine Caldeira, doutorada em Saúde Pública, explica que grande parte da sua ocorrência está relacionada com o acúmulo de hábitos de risco, como consumo abusivo de álcool, consumo regular de bebidas açucaradas, tabagismo, má alimentação e falta de atividades físicas.

“Com o envelhecimento é mais comum ter cuidados com a saúde ou mesmo ir em atendimentos médicos que irão reforçar a necessidade de hábitos de vida mais saudáveis”, disse a pesquisadora.

Fatores de risco

Os comportamentos mais comuns entre a população são o consumo insuficiente de frutas e hortaliças e a atividade física insuficiente no lazer. “Esses comportamentos possuem uma alta prevalência na população”, disse.

No entanto, o estudo identificou comportamentos que podem potencializar os riscos. “Quando o indivíduo é tabagista, ou consume bebidas alcoólicas de forma abusiva ou consome refrigerantes de forma regular, o acúmulo de outros fatores de risco é maior. Ou seja, esses três comportamentos podem levar ao indivíduo a realizar mais comportamentos de risco”, alerta.

Os pesquisadores observaram que a coexistência dos comportamentos inadequados é maior entre os homens do que entre as mulheres e está inversamente associada à faixa etária e anos de escolaridade — ou seja, quanto maior a idade e a escolaridade, menor a incidência.

Veja fatores comportamentais de risco principais para as doenças crônicas não transmissíveis

  • Consumo infrequente de frutas e hortaliças (menos de cinco dias na semana);

  • Consumo regular de bebidas açucaradas (cinco ou mais dias na semana);

  • Tabagismo, consumo abusivo de álcool (quatro ou mais doses em ocasião única, nos últimos 30 dias para mulheres. Para homens, cinco doses);

  • Prática de atividade física insuficiente (menos de 150 minutos por semana).

Pandemia

Durante o período do estudo, ficou demonstrada diminuição de 4% a 5% na coexistência de comportamentos de risco nos cinco primeiros anos de pesquisa.

“A partir de 2015, o estudo identificou uma estagnação da redução que estava ocorrendo desses comportamentos na população. No entanto, com a pandemia, esse cenário pode ter sido intensificado”, apontou a pesquisadora. Thaís Cristina aponta a pandemia da covid-19 como responsável por uma mudança importante comportamentos, entre eles, o maior consumo de bebidas alcoólicas.

Cenário é preocupante

Segundo o Ministério da Saúde, quase 60 milhões de brasileiros têm pelo menos uma doença crônica não transmissível. Problemas como a diabete, doenças do coração, cânceres, doenças respiratórias crônicas e obesidade provocam em torno de 72% dos óbitos no Brasil.

A pesquisadora alerta: “o cenário é preocupante para muitos desses fatores de risco”. Mas, essas doenças podem ser prevenidas ou controladas por meio de mudanças de estilo de vida saudáveis. “É fundamental serem implementadas políticas públicas abrangentes e programas de educação em saúde para combater essa tendência”, finalizou.

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.