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Leishmaniose: saiba por que a vacina foi suspensa, quais os sintomas e se a doença tem cura

Médicos veterinários indicam outros métodos de prevenção para a leishmaniose, que é endêmica em Belo Horizonte e região

A principal fomra de prevenir a leishmaniose é usando coleiras inseticidas e sprays repelentes

Na última semana, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) anunciou a suspensão da fabricação e venda da Leish-Tec, única vacina contra a leishmaniose autorizada no Brasil para o combate à leishmaniose em animais de estimação. A fabricante já havia suspendido a comercialização na última terça-feira (23), após encontrar desvios na fabricação de pelo menos 44 lotes, o que causou dúvidas e preocupações nos tutores de cães.

A maioria do território brasileiro, incluindo Belo Horizonte e região metropolitana, é considerado endêmico para a leishmaniose. Segundo dados da Secretaria de Saúde de Belo Horizonte, a capital já registou 1.189 casos da doença em cães em 2023. Em 2022 foram 4.077 casos e, no ano anterior, 3.539.

A médica veterinária Paula Saraiva Gusmão explica que, com a suspensão da vacina, os tutores devem redobrar os cuidados de prevenção do mosquito transmissor da leishmaniose, especialmente com coleiras e sprays inseticidas. Ela esclarece, também, que não há motivo de preocupação por parte dos tutores que vacinaram os animais, já que os desvios encontrados nos lotes não representam perigos à saúde do animal.

“Alguns lotes tiveram desvios no fator do padrão de qualidade da vacina. A proteína recombinante, que estimulava a imunidade do animalzinho, não estava presente de forma adequada, o que comprometia a ativação da imunidade. Então, a vacina não estava oferecendo cobertura imunológica da forma ideal. Não há o que se preocupar, ao que tudo indica nunca existiu nada que oferecesse risco para os animais de estimação”.

O que é a leishmaniose?

A leishmaniose é uma doença parasitária crônica e uma zoonose, ou seja, pode passar dos animais para o ser humano. Ela é transmitida a partir do flebotomíneo, conhecido como mosquito-palha, que quando contaminado pode passar o parasita para o cão a partir da picada. Por isso, o uso de repelentes é tão importante na prevenção da doença.

A leishmaniose, segundo a veterinária Paula Gusmão, é uma doença que possui sintomas genéricos e, por isso, é sempre preciso fazer um exame de sangue para diagnosticá-la. Entretanto, alguns sintomas podem indicar que algo está errado com o animalzinho. São eles:

  • Alterações e lesões na pele;

  • Lesões oculares e falhas de pelo em volta dos olhos;

  • Opacidade ocular;

  • Crescimento exagerado das unhas;

  • Emagrecimento, perda de apetite e anorexia;

  • Aumento dos gânglios linfáticos.

A leishmaniose tem cura?

Paula Gusmão explica que a leishmaniose não tem cura, mas possui um tratamento que pode oferecer cura clínica, ou seja, tratar dos sintomas e impedir que o cão transmita a doença. Ainda assim, a presença dos parasitas no corpo continua e precisa ser constantemente controlada.

“Existe uma associação de terapias para tratar a leishmaniose visceral canina, com medicações que vão melhorar e estimular a imunidade e controlar a replicação da leishmânia do parasita no organismo do animal”.

Em conjunto com os medicamentos, muitos médicos veterinários também usavam a vacina como uma forma de terapia para a leishmaniose, que melhorava na resposta ao tratamento. Os tutores que usavam esta técnica não precisam se preocupar com a suspensão da vacina, já que o tratamento convencional continua disponível e possui boa eficácia. É o que explica o médico veterinário José Lasmar:

“O tratamento feito pela vacina era um tratamento off-label, não tinha isso na bula da vacina, que era para a prevenção. Então o tratamento da leishmaniose continua da mesma forma”.

O médico veterinário destaca, ainda, que a eutanásia não é mais uma técnica usada no combate à leishmaniose. Antigamente, animais diagnosticados precisavam ser sacrificados para evitar que a doença se espalhasse, e atualmente ainda existe a política de eutanásia para o caso de cães que não têm condição de receberem o tratamento. José Lasmar, entretanto, relembra que existem comprovações que a eutanásia é ineficaz na tentativa de controle da leishmaniose.

Uso de coleira inseticida e repelentes é indicado

Com a suspensão da vacina, os médicos veterinários recomendam ainda mais o uso de coleiras inseticidas nos cachorros, além de repelentes que vão evitar a picada do mosquito-palha contaminado. Além disso, medidas sanitárias que evitam a proliferação do mosquito também são indicadas.

“Na falta da vacina a gente vai precisar redobrar os cuidados com a prevenção. As coleiras impregnadas de inseticida e repelente, a gente vai precisar usar com mais frequência e trocá-las com a data certa, quando vencer a validade. Usar os repelentes no dorso ou mesmo os borrifados e tomar cuidado com os horários de passeio”, recomenda Paula Gusmão.

O médico veterinário José Lasmar também cita essas medidas como importantes ferramentas de prevenção, mas relembra que é preciso evitar repelentes que possuam um cheiro muito forte, já que os cães possuem o ofato apurado.

“Para prevenir a leishmaniose os animais devem ser encoleirados. Cada coleira tem um tempo de troca e vai depender de qual coleira está usando. Mas, é importante ressaltar para não usar coleiras com muito cheiro, pois o cão sente 40% mais cheiro que a gente”.

Polêmicas da vacina contra a leishmaniose

Mesmo antes da suspensão da vacina contra a leishmaniose por desvios no seu padrão de qualidade, alguns veterinários e tutores acreditavam que o imunizante possuía uma baixa eficácia.

A médica veterinária Paula Gusmão explica que a vacina possuía eficácia comprovada, mas, como o Brasil é um país endêmico da leishmaniose, nem sempre a vacina conseguia prevenir da alta carga parasitária carregada pelos mosquitos-palha.

“Existiam as controvérsias quanto a vacina da leishmaniose, por se tratar de uma vacina contra parasita, e normalmente as vacinas mais comuns são de mais fácil elaboração quando previnem vírus ou bactéria. Então, eles acreditavam numa baixa eficácia dessa vacina, até mesmo por conta da condição de uma evidência grande de animais que são vacinados e ainda assim apareciam positivos para leishmaniose”.

Paula Gusmão relembra, entretanto, que mesmo com o esquema vacinal completo os veterinários sempre indicaram o uso de coleiras inseticidas e sprays repelentes, exatamente devido à situação endêmica da leishmaniose na maior parte das cidades brasileiras, incluindo Belo Horizonte.