Patrimônio Cultural de Belo Horizonte, apenas três fotógrafos lambe-lambes continuam trabalhando no Parque Municipal de Belo Horizonte, localizado no Centro da capital mineira.
Xavier diz que o movimento diminuiu drasticamente nos últimos anos em razão dos smartphones. Atualmente, os três lambe-lambes do Parque Municipal de BH trabalham nos fins de semana e feriados. Cada foto, revelada na hora, custa R$ 10. “São entre 10 e 12 fotos por dia, no máximo. Não dá um salário-mínimo por mês. Mesmo assim, continuo. Só saio Parque Municipal no dia que der o último suspiro”, disse.
“Enquanto eu estiver respirando e meu coração estiver pulsando, vou ser fotógrafo lambe-lambe no Parque Municipal, porque entrei em 1963 e está fazendo 61 anos que estou lá. Tenho o Parque Municipal como a minha segunda casa. Talvez eu goste mais do parque do que da minha casa. Por isso, agradeço a Deus Todo Poderoso por me ter deixado ficar até hoje”, completou.
Xavier lembra que nos tempos áureos, entre 1975 e 1980, ele tirava até 120 fotos por dia. “O telefone celular atrapalhou 90%. Temos que incentivar as pessoas a irem ao parque tirar foto com a gente”, pede o idoso.
Além disso, conta que no fim da década de 1970 eram 62 lambe-lambes espalhados por pontos tradicionais de Belo Horizonte e até na Cidade Industrial, em Contagem, na Grande BH.
“Eram 14 no Parque Municipal, 16 na Praça da Estação, oito na Praça da Rodoviária, quatro na Praça Primeiro de Maio, dois na Raul Soares, 16 na Cidade Industrial e dois na Praça da Cemig”, recorda Xavier.
A história
De acordo com ofício do Patrimônio Cultural da Prefeitura de Belo Horizonte, os lambe-lambes foram responsáveis pela popularização da fotografia na capital, no início do século XX. Nessa época, a cidade vivia um boom de crescimento econômico, urbano e industrial que atraiu muitos imigrantes que buscavam melhores condições de cidade.
“Os preços mais baixos e a presença em locais de grande concentração de pessoas, como praças e parques, popularizaram em poucos anos o uso da fotografia”, descreve o documento.
O documento relata ainda que, a partir da década de 1950, o Brasil começou a passar por um processo rápido de modernização econômica com uma industrialização acelerada que resultou na burocratização.
“A fotografia 3X4 tornou-se obrigatória para confecção de inúmeros tipos de documentos, como Carteiras de Identidade, de Trabalho, de Motorista, Certificado de Reservista e Título de Eleitor. Moradores da capital e pessoas que chegavam do interior de Minas e de outros estados em busca de emprego precisavam desse tipo de fotografia. Os profissionais emprestavam roupas e acessórios aos clientes mais humildes para que se apresentassem adequadamente na hora de tirar a fotografia. Casaco, paletó, gravata, enfim, uma indumentária completa que deixava o cliente mais elegante, sobretudo para fotografias destinadas a documentos oficiais”.
Curiosidade
Algumas curiosidades, inclusive tristes, marcam a história dos lambe-lambes. Nas décadas de 1950 e 1960, famílias nem sempre tinham oportunidade de fotografar todos os entes queridos. Caso alguém morresse antes de ter um registro realizado, era comum os familiares se juntarem em uma cena na qual o morto aparecia. Isso ocorria especialmente com recém-nascidos.
Leia também: '