Você já parou para pensar sobre a importância do trabalho na sua vida? Neste 1º de maio, Dia do Trabalho, a Itatiaia mostra as histórias de profissionais emblemáticos de Belo Horizonte, que fazem do trabalho algo muito além de um meio de sustento e conquistas materiais. São pessoas com mais de 60 anos, já com possibilidade de aposentar, mas que continuam na atividade, como o senhor Francisco Xavier, de 83 anos, fotógrafo lambe-lambe mais antigo do Parque Municipal de BH, da vendedora de cachorro-quente Sueli de Fátima, de 60 anos, e de Raimundo Coelho da Silva, 64, gari com mais de quatro décadas limpando a cidade.
No caso do senhor Xavier, são 61 anos trabalhando como fotógrafo lambe-lambe no Parque Municipal. Nesse período, conseguiu criar dez filhos (dos quais nove estão vivos), graças à profissão.
“Tenho orgulho de ser fotógrafo lambe-lambe. Criei dez filhos aqui. A melhor coisa que aconteceu na minha vida foi trabalhar como fotógrafo lambe-lambe”, disse.
Os fotógrafos lambe-lambes foram responsáveis pela popularização da fotografia em Belo Horizonte, no início do século vinte. O trabalho deles está associado às histórias e memórias individuais e coletivas da cidade. Tanto que a profissão está inserida no Patrimônio Cultural de Belo Horizonte. Xavier explica como surgiu o nome.
“Quando começamos a trabalhar como lambe-lambe, as chapas eram de vidro e a gente, para saber o lado de bater a foto, tinha que lamber e passar a unha no filme. Na foto de vidro tem gelatina e tem que saber o lado certo para bater. Por isso que surgiu o lambe-lambe. Continuo com a tradição. O lambe-lambe nunca acaba”, disse.
Xavier também foi responsável por ensinar o ofício a João Pereira, de 60 anos, dos quais 30 dedicados à fotografia no Parque Municipal. Atualmente, são apenas três exercendo a atividade no Parque Municipal. O trabalho deles é reconhecido por moradores, como a doméstica Romilda Oliveira Silva, 48 anos, mãe de 7 filhos.
“Meus filhos têm fotos no cavalinho do Parque Municipal. Hoje em dia tem a internet, mas a antiga é bem melhor. Acho que as coisas antigas não deveriam acabar nunca”, disse.
Orgulho
Já Sueli de Fátima trabalha há 40 anos no Parque Municipal e se orgulha de contar sua história, de ‘casado no parque’ e de ter criado os quatro filhos (três vivos) e ajudar a criar netos graças ao trabalho. “No cachorro-quente, criei os meus filhos, ajudo a criar os netos e já tenho um bisneto. Todos com frequência”, disse.
“Trabalhar é algo muito especial na vida da gente. Pra mim, o trabalho está em primeiro lugar. Na minha casa eu sou visita. Gosto muito do que faço. Acho que na minha idade eu muito estar na ativa, porque a gente distrai e faz bem para a saúde. Sem o meu trabalho, eu não seria o que sou hoje. Tudo que adquiri foi através do meu trabalho. Então, é só gratidão”, disse.
Gari mais antigo de Belo Horizonte, com 44 anos de atividade na Superintendência de Limpeza Urbana, a SLU, Raimundo Coelho diz que o trabalho dignifica e que ser gari é motivo de orgulho.
O trabalho é tudo. É a dignidade do homem. Quem trabalha não tem tempo para pensar coisas ruins e também se sente feliz. Eu me sinto muito feliz no meu trabalho”, disse o profissional, pai de dois filhos.
“Quando entrei na empresa, falavam que não era serviço pra mim. Coleta de lixo antigamente, na época que entrei, era o último emprego do mundo. Em 1979, 1980, ninguém queria trabalhar como gari. Hoje é uma profissão reconhecida até como agente de saúde. Os trabalhadores da limpeza urbana, em geral, se valorizaram”, ressaltou Raimundo, que não se arrepende de ter trocado um emprego em uma multinacional pelo ofício de limpar a cidade.
1886
O Dia do Trabalho é celebrado no Brasil e em vários países do mundo. A data faz memória a uma greve de trabalhadores que aconteceu em Chicago, nos Estados Unidos, em 1886, por melhores condições de trabalho.
Produção: Helen Araújo/ imagens: Naice Dias