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Cadê o dinheiro? Cai o número de moedas confeccionadas

Foram R$ 658 milhões de moedas produzidas em 2015, número que seguiu aumentando até 2020; em 2021, número caiu para R$ 965 milhões de moedas

Número de moedas produzidas caiu no Brasil

Cadê o dinheiro? A resposta para essa pergunta começa por saber quanto o Brasil imprime de papel-moeda. E ao contrário do que muita gente pensa, o dinheiro não está tão sumido assim. Segundo informações do Banco Central, a trajetória dos últimos seis anos é de aumento na produção de cédulas de papel — o número subiu de R$ 1 bilhão em cédulas em 2015 para dois bilhões em 2021.

Quanto às moedas, situação parecida. Foram R$ 658 milhões em moedas produzidas em 2015, número que seguiu aumentando até 2020, quando passou para R$ 965 milhões. Já em 2021 o número de moedas confeccionadas caiu para R$ 619 milhões.

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A comerciante Fabiana Filizzola revela que, na prática, o dinheiro sumiu mesmo. “Moedas ainda circula com uma frequência boa. Mas, notas de R$ 2, R$ 5 e R$ 10 estão sumindo. Tem dia que eu não tenho nada de troco no caixa, tenho que ficar guardando ou tentando em algum outro estabelecimento”, disse.

Germes e doenças

Muita gente evita usar o dinheiro achando que as moedas e cédulas são sujas e podem transmitir doenças. O infectologista Leandro Curi diz que sim, mas aponta que também os meios digitais podem trazer riscos para saúde.

“Quanto maior o número de manipulação tempo tem esse papel, maior o número de germes presentes. Reduzir circulação de dinheiro, em espécie, facilita nisso. Mas, a gente tem que pensar bem: quando a gente digita a senha do cartãozinho também pode se contaminar em contato com aquela superfície. O ideal é a higienização das mãos após a manipulação de dinheiro, de cartão ou de moeda”, explicou.

Resguardado o cuidado com a higiene, o especialista em tecnologia e comportamento digital, Tiago Belotte, diz que é inevitável a substituição do dinheiro físico pelo virtual.

“Ao que tudo indica, o dinheiro da forma como nós o conhecemos tende a desaparecer. Ele é uma tecnologia criada para representar um valor e a gente vive em um mundo cada vez mais digitalizado. Essa representação digital faz sentido para nós. Assim como se deixou de ter necessidade do dinheiro em moeda de ouro ou prata, pode ser que a gente, daqui a alguns anos, não se lembre mais que usamos tanto o papel-moeda como representação do dinheiro”, disse.

Sociólogo e especialista em segurança pública, Luiz Flávio Sapori avalia essa tendência. “Não há dúvida da diminuição da circulação do papel-moeda. No comércio da cidade, não há dúvida que isso contribui para a segurança pública. Roubar o dinheiro, em cash, sempre foi um objeto de desejo de muitos criminosos, e menos papel-moeda diminui a oportunidade a atratividade para o cometimento de assaltos”, explicou.

Só dinheiro

Há lugar para todo tipo de relação. No Mercado Central, por exemplo, as taxas de administração pagas pelos comerciantes já são todas digitais, mas alguns espaços, como o banheiro, seguem aceitando apenas dinheiro. Quem explica é o superintendente do Mercado, Luiz Carlos Braga.

“O mercado teve que se adaptar à tecnologia. Hoje, o mercado tem eficácia de autoatendimento de estacionamento, pagamento através do sistema de boleto bancário com QR Code, Pix, a gente não pode parar no tempo. Mas nem sempre é assim: para o banheiro, por exemplo, chegamos à conclusão de que é mais ágil aceitar só dinheiro”.

O economista e professor Paulo César Feitosa avalia que o dinheiro vai perder a presença no nosso dia a dia, mas não vai acabar. “O dinheiro em espécie vai perder, gradualmente, sua importância, mas desaparecer não será o caso”, acrescentou.

Mineiro de Urucânia, na Zona da Mata. Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Ouro Preto (2024), mesma instituição onde diplomou-se jornalista (2013). Na Itatiaia desde 2016, faz reportagens diversas, com destaque para Política e Cidades. Comanda o PodTudo, programa de debate aos domingos à noite na Itatiaia.