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Fechamento de casas de acolhimento de crianças e adolescentes em BH vai parar na Justiça

Representantes de abrigos alegam que a prefeitura de BH decidiu pelo encerramento de parcerias e por mudanças em alguns processos sem diálogo

A Colmeia fica na rua Gastão Bráulio dos Santos, Nova Gameleira

Estão suspensas, por 90 dias, as transferências de crianças abrigadas em instituições parceiras de acolhimento que vão ser fechadas pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). A medida fazia parte de uma readequação da rede de proteção à criança e ao adolescente da capital mineira, mas foi suspensa foi uma decisão liminar da Justiça.

Diretora da Colmeia, uma das organizações da sociedade civil que acolhe crianças e adolescentes em Belo Horizonte, Maria Luiza Alcântara questiona o modo como essa reestruturação da rede era realizada pelo Poder Público

“O reordenamento é para ser algo muito positivo para instituições, porque o objetivo é poder ter um repasse mais justo, e é garantir um quadro de RH que seja compatível com as normas estabelecidas pela lei. Então, a gente quer muito que seja implementado o plano de reordenamento, mas desde que seja observado os princípios básicos para poder garantir os direitos da criança e do adolescente. É lógico que nós não gostaríamos que a nossa unidade infantil e que outras unidades de 0 a 6, que trabalham há tantos anos na capital, tivessem suas atividades encerradas. Mas a gente sabe que compete ao município essa decisão”, disse Maria Luiza.

Pelo novo plano da prefeitura, todas as instituições vão passar a acolher um mesmo número de crianças e adolescentes: 12 ao todo. A ideia, segundo o poder público, é individualizar o acolhimento. Com isso, crianças - principalmente entre 0 e 6 anos, estão sendo transferidas entre as unidades -, diante, segundo a prefeitura, da necessidade de atender a um aumento do público maior de 12 anos.

De acordo com Maria Luiza, um dos grandes problemas tem sido a forma como essa realocação tem ocorrido: “algumas transferências já aconteceram. No nosso caso, não foi algo que a nossa equipe formada por psicólogo, assistente social, pedagogos julgou correto porque foram transferências que aconteceram de uma forma um pouco brusca sem a nossa participação. As crianças que estão aqui hoje devem continuar porque nós recebemos uma liminar onde suspende por noventa dias o reordenamento”.

Thamer Ferreira, diretor da casa de caridade Herdeiros de Jesus, que coordena três lares de acolhimento em BH, também reclama da forma como o diálogo se deu entre o poder público e as instituições:

“Quando vieram trazer as propostas para gente, ela já veio definida o que já deve ser feito. Na prática, a prefeitura já tem feito esse processo em algumas instituições: já fechou algumas e tirou crianças de algumas instituições antes mesmo de sentar e negociar de uma forma mais clara para todos nós”, afirmou Thamer

O diretor de proteção social especial da PBH, Marcel Belarmino, nega os atropelos alegados pelos diretores das instituições:

“Todo esse processo de qualificação da rede socioassistencial de acolhimento de crianças e adolescentes foi realizado a partir de um constante diálogo com as organizações da sociedade civil a partir de critérios técnicos. Foi necessário nesse processo de qualificação a finalização de algumas parcerias com organizações da sociedade civil com o objetivo de readequar a rede e garantir mais proteção para crianças e os adolescentes. Todas as eventuais transferências e remanejamentos de crianças e adolescentes entre serviços de acolhimento tem sido feito a partir de um diálogo muito próximo com as unidades”, disse.

Valores

Outra queixa das instituições é em relação aos valores repassados para a manutenção dos espaços, que são custeados unicamente com a verba pública. Segundo eles, o recurso é insuficiente, e mesmo o aumento de 25%, que elevaria a soma para mais de R$ 30 milhões neste ano, ficaria aquém do necessário.

Segundo Marcel Belarmino, o cálculo dos repasses considera uma série de fatores da realidade do serviço prestado: "é realizada a partir de um estudo de custos que leva em consideração as diversas despesas relacionadas com a manutenção de uma unidade. Como, por exemplo, o pagamento de recursos humanos, despejos com aluguel, com pagamento de energia elétrica e as diversas outras despesas relacionadas com a manutenção dessa unidade”.

Sem a liminar, a previsão era de que as mudanças fossem concluídas nesta sexta-feira, incluindo o encerramento dos contratos. Agora, a questão ainda deve ser discutida em duas audiências públicas agendadas para a semana que vem na câmara municipal e na assembleia legislativa.

Sobre a decisão judicial, a prefeitura disse em nota que ainda não foi intimada da decisão. Assim que for comunicada, a Procuradoria-Geral do Município analisará a liminar.

Ana Luiza Bongiovani é jornalista e também graduada em direito. É repórter da Itatiaia.