O petisco consumido por Mallu - cadelinha que morreu no dia 6 deste mês - estava contaminado com monoetilenoglicol. A reportagem da Itatiaia teve acesso com exclusividade a um laudo do Instituto de Criminalística da Polícia Civil nesta terça-feira (27), que confirma a hipótese de Amanda Carmo, tutora da cachorrinha, que ainda vive o luto pela morte do animal.
Mallu consumiu o petisco Everyday - sabor carne e bacon - da Bassar Pet Food. A tutora, que mora em Belo Horizonte, agora espera que a justiça seja feita e os responsáveis identificados.
“As análises realizadas no material descrito detectaram a presença de monoetilenoglicol, conforme relatório de análise instrumental”, diz parte do laudo da Polícia Civil. Além disso, no documento, a instituição explica que o produto “químico é utilizado como anticongelante automotivo”.
De acordo com a polícia, se o produto for inalado pode causar irritação no aparelho respiratório, se ele for ingerido pode “causar sintomas que vão de náuseas, vômito, dor abdominal, fraqueza, sensibilidade muscular, insuficiência respiratória, convulsões, colapso pulmonar até uma acidose metabólica grave”.
Caso o animal não for tratado, “a morte pode ocorrer dentro de 08 a 24 horas”. Os peritos Paulo Eduardo Nunes Andrade Barbosa, Renata Fontes Prado Faraco e Washington Xavier de Paula foram os responsáveis pelas análises solicitadas pela delegada Danubia Quadros, da Delegacia Especializada de Defesa do Consumidor.
Morte
Mallu morreu por volta das 4h35 do dia 6 de setembro. Ela, que completaria 6 anos no próximo mês, começou a passar mal após comer dois snacks Everyday - fabricados pela empresa. Ela teve vômitos, diarreia e convulsões, sintomas que outros cachorros que morreram por suspeita de intoxicação também tiveram.
Segundo Amanda Carmo, tutora de Mallu, a cadelinha estava internada desde o fim de agosto em uma clínica veterinária no bairro Prado, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. No entanto, devido à gravidade da intoxicação, ela não pôde fazer todos os tratamentos disponíveis porque não resistiria.
“Ela não pode fazer hemodiálise, porque ela não resistiria. Também não pode tomar uma dosagem maior de remédio, porque ela não sobreviveria”, contou a tutora na ocasião. Mallu teve rins, pâncreas e o fígado afetados. A tutora fez de tudo para manter Mallu viva. À Itatiaia, ela contou que os gastos superaram R$ 10 mil.
Entenda
A investigação teve início após tutores desconfiarem da morte de dois cães e levarem corpos para serem periciados pela Escola Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Conforme laudo de necropsia, os animais morreram por “lesões renais graves” em decorrência de consumo de etilenoglicol. Na ocasião, os donos suspeitaram que a substância estava em petiscos.
No dia 2 de setembro, a Polícia Civil divulgou dados que confirmam a presença de monoetilenoglicol - mesmo que etilenoglicol - em um petisco recebido pela instituição de um dos tutores que registrou denúncia.
Conforme a perita criminal Renata Fontes, três produtos diferentes da Bassar passaram por processamento. Todos eles foram entregues pelos tutores. “Recebemos desde o início da semana materiais que foram encaminhados pela delegacia do consumidor para análise”, destacou em coletiva.
“Nós identificamos a presença do monoetilenoglicol em um dos produtos que foram encaminhados à perícia. Praticamente todos que foram encaminhados foram processados”, detalhou a perita.
Ainda no mesmo dia, o Mapa determinou o recolhimento de todos os lotes de produtos da empresa Bassar Indústria e Comércio Ltda - a Bassar Pet Food - responsável pela fabricação de petiscos. No dia 7, a empresa informou estar fazendo um recall de todos os seus produtos.
No entanto, posteriormente, o Mapa divulgou que lotes de propilenoglicol da Tecno Clean Industrial Ltda estariam adulterados com monoetilenoglicol. O propilenoglicol é usado na alimentação humana e animal. Após identificar o composto, outras marcas também precisaram fazer o recall de produtos.
No último dia 21, o Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), determinou o recolhimento de Bifinhos, snacks, petiscos e produtos mastigáveis da marca Petitos Indústria e Comércio de Alimentos.
A decisão ocorre, segundo o Mapa, considerando os desdobramentos das investigações da Polícia Civil e da própria pasta, que identificou monoetilenoglicol em dois lotes da matéria-prima propilenoglicol: AD5035C22 e AD4055C21. Os compostos foram adquiridos da empresa Tecno Clean Industrial Ltda, que afirmou em nota que só revende a substância.
A reportagem procurou a A&D Química Comércio Eireli, empresa que a Tecno Clean adquiriu o composto, mas não conseguiu contato telefônico. O espaço segue à disposição para que a empresa possa se manifestar.