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Érika Hilton desfila na Paraíso de Tuiuti representando 1⁠º mulher trans registrada no Brasil: ‘honra’

Considerada a primeira travesti não indígena do país, Xica Manicongo será protagonista do Paraíso do Tuiuti no samba-enredo do Carnaval 2025

A deputada estará na comissão de frente da escola de samba.

O encerramento dos desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, acontece na noite desta terça (4) até a madrugada de quarta-feira (5), com desfiles de Mocidade Independente, Padre Miguel, Acadêmicos do Grande Rio, Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela e Paraíso do Tuiuti, que terá a deputa federal Erika Hilton (PSOL-SP) na comissão de frente representando Xica Manicongo.

Para a Itatiaia, a parlamentar afirmou que é uma “honra” representar a história da primeira mulher trans documentada no Brasil. “Estamos vendo uma leva, em todo mundo, de ódio, de conservadorismo, de preconceito, de intolerância e quando esse enredo entra na avenida, levando e regatando essa história, contando sobre a violência que a primeira travesti com registro no país sofreu, na tentativa de ser ela mesma, é um grito de denúncia e de rebeldia”, descreveu para a reportagem.

Erika conta que ficou “emocionada” quando recebeu o convite da escola, que tem Xica como homenageada no samba enredo deste ano: “Quem tem medo de Xica Manicongo?”.

“Temos muito que lutar porque o Brasil é o país do mundo que mais mata travestis e transexuais, isso é assustador. Então é importante a gente sempre reforçar, não é uma coisa do século XVI, ainda é uma realidade que precisa ser combatida”, declarou a deputada que foi a primeira mulher trans eleita para o Congresso por São Paulo.

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Quem foi Xica Manicongo?

Considerada a primeira travesti não indígena do país, Xica Manicongo será protagonista do Paraíso do Tuiuti no samba-enredo desenvolvido por Jack Vasconcelos.

Xica foi traficada do Congo, região central do continente africano, para a Bahia e trabalhou como sapateira no século XVI.

Veja o samba enredo:

Só não venha me julgar Ô Ô
Pela boca que eu beijo
Pela cor da minha blusa
E a fé que eu professar
Não venha me julgar
Eu conheço o meu desejo
Este dedo que acusa
Não vai me fazer parar
Faz tempo que eu digo não
Ao velho discurso cristão
Sou Manicongo
Há duas cabeças em um coração
São tantas e uma só
Eu sou a transição
Carrego dois mundos no ombro

Vim Da África Mãe Eh Oh
Mas se a vida é vã Eh Oh
Mumunha
Jimbanda me fiz
N Ganga é raiz
Eu pego o touro na unha

A bicha, invertida e vulgar
A voz que calou o “Cis tema”
A bruxa do conservador
O prazer e a dor
Fui pombogirar na Jurema

Chama a Navalha, a da Praia e a Padilha
As perseguidas na parada popular
E a Mavambo reza na mesma cartilha
Pra quem tem medo o meu povo vai gritar

Eu travesti
Estou no cruzo da esquina
Pra enfrentar a chacina
Que assim se faça

Meu Tuiuti
Que o Brasil da terra plana,
Tenha consciência humana
Chica vive na fumaça

Eh! Pajubá!
Acuendá sem xoxá pra fazer fuzuê
É Mojubá
Põe marafo, fubá e dendê (Pra Exu)

Diana Rogers tem 34 anos e é repórter correspondente no Rio de Janeiro. Trabalha como repórter em rádio desde os 21 anos e passou por cinco emissoras no Rio: Globo, CBN, Tupi, Manchete e Mec. Cobriu grandes eventos como sete Carnavais na Sapucaí, bastidores da Copa de 2014 e das Olimpíadas em 2016.
Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, com passagem pela Rádio UFMG Educativa. Na Itatiaia, já foi produtora de programas da grade e repórter da Central de Trânsito Itatiaia Emive.