Vítimas denunciam abuso, tortura e extorsão em terreiro de BH: ‘Manchando a religião’

Pai de santo e mãe pequena foram presos preventivamente pela Polícia Civil de Minas Gerais e são investigados

Vítimas denunciam abuso, tortura e extorsão em terreiro de BH: ‘Manchando a religião’

Mulheres que denunciam o pai de santo Henrique Vorcaro Garcia por abusos cometidos no terreiro de umbanda Omolokô Ilê Axé Guian, no bairro Santa Efigênia, na Região Leste de Belo Horizonte, detalharam, nesta quarta-feira (26), as violências sofridas.

No final de setembro, a Justiça de Minas determinou medidas cautelares contra Vorcaro. Ele foi proibido de se aproximar das vítimas por uma distância mínima de 300 metros e de manter comunicação com elas. Além disso, foi afastado do terreiro e teve o porte de arma de fogo suspenso. Ele é investigador da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG).

O pai de santo e uma assiste, que atuava como “mãe pequena” no terreiro, estão presos preventivamente desde a última quarta-feira (19).

A Itatiaia entrevistou três mulheres, que não serão identificadas, que denunciam abusos sofridos no terreiro de umbanda Omolokô Ilê Axé Guian. Abaixo, confira o relato delas.

Abuso sexual

O primeiro relato é de uma mulher de 46 anos. Ela denuncia que, após pedir para sair do terreiro, foi submetida a um trabalho chamado de “firmeza”, que, segundo o pai de santo, seria a “cura” para os problemas dela.

“Ele falou que a partir desses trabalhos, eu teria a vida aberta, a saúde emocional de volta e sairia da depressão. Falou que eu precisava fazer uma lixeira espiritual e que seriam com esses trabalhos. Esses trabalhos são violação sexual. São de abuso sexual”, relata.

A vítima conta que Henrique mantinha uma arma de fogo na sala dele.

Ela chamou o terreiro de “ambiente adoecido onde as pessoas estão adoecendo” e disse que membros são submetidos a diversas violências como gritos, humilhações, xingos e violência emocional.

Tortura

Uma segunda mulher relata que foi torturada pelo pai de santo. “Ele veio na minha direção com fogo, jogando fogo. Ele jogava um líquido e logo, em seguida, ateava fogo”, detalha. “A intenção dele era machucar”, afirma.

Após a agressão, a vítima foi levada para uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e recebeu atendimento médico.

A denunciante começou a frequentar o terreiro como visitante em setembro de 2022 e entrou como médium em setembro de 2023. Ela permaneceu por cinco meses e saiu.

‘Estão manchando a religião’

Uma terceira mulher conta, em entrevista à Itatiaia, que foi vítima de golpes no terreiro comandado por Henrique Vorcaro Garcia: “Ali presenciei muita coisa. Passei pela extorsão financeira. Psicológico. O meu emocional ficou muito abalado”.

“Estão manchando a religião. E não é isso que a gente quer”, diz. “Com a prisão deles, a gente fica um pouco mais aliviado, m gente ainda quer justiça, porque lá ainda está aberto”, acrescenta.

Quem é Henrique Vorcaro Garcia?

Além de líder religioso, Henrique é investigador da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) e primo do banqueiro Daniel Vorcaro, investigado por crimes financeiros e preso preventivamente pela Polícia Federal.

Advogados se posicionam

Em nota enviada à Itatiaia, a defesa do pai de santo se posicionou. Abaixo, leia na íntegra:

O advogado Adinan Quintão, responsável pela defesa de Henrique Vorcaro Garcia, informa que o caso segue em regular tramitação e que todas as medidas jurídicas cabíveis estão sendo adotadas para garantir o pleno respeito aos direitos e garantias constitucionais do investigado.

Esclarece-se que, neste momento, não serão fornecidos detalhes adicionais, seja para preservar a integridade da investigação, seja para resguardar a imagem e a privacidade das partes envolvidas.

A defesa reafirma seu compromisso com a verdade dos fatos, com o devido processo legal e com a transparência, manifestando-se sempre que houver novidades relevantes e oficialmente documentadas no processo”.

PCMG se posiciona

Em nota, a Polícia Civil afirmou que investiga a suposta prática dos crimes de violação sexual mediante fraude, importunação sexual, extorsão, ameaça, lesão corporal, entre outros delitos.

“A PCMG reafirma seu compromisso com a lisura, a transparência e a responsabilização de seus integrantes, assegurando a continuidade das apurações e o respeito ao devido processo legal. Mais informações somente poderão ser divulgadas ao final da investigação”, disse.

Saiba como denunciar

Denúncia de abusos podem ser registradas presencialmente em uma unidade policial ou denunciados via disques 100 e 181. A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) garante anonimato e sigilo aos denunciantes. Em casos de emergências, os números a serem acionados são o 190 (Polícia Militar), 193 (Corpo de Bombeiros) e 197 (Polícia Civil).

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Jornalista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Itatiaia, escreve para Cidades, Brasil e Mundo. Apaixonado por boas histórias e música brasileira.
Formado em jornalismo pela PUC Minas, foi produtor do Itatiaia Patrulha e hoje é repórter policial e de cidades na Itatiaia. Também passou pelo caderno de política e economia do Jornal Estado de Minas.

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