O juiz do trabalho, de 41 anos, contou em entrevista exclusiva à Itatiaia, concedida nesta quarta-feira (5), como conseguiu escapar dos golpes
O juiz é lotado na Terceira Vara do Trabalho de Betim, na Grande BH. Ele contou que estava levando a motocicleta para uma oficina e que a esposa e o filho, de 4 anos, seguiam em um veículo logo atrás.
“De repente, me deparei com uma pessoa vindo até mim com uma faca nas mãos, tentando me esfaquear. Acho que foi Deus ou o reflexo, porque fui agraciado nesse momento e consegui me desvencilhar. Consegui saltar da moto por reflexo e fugir dos golpes. E ele, com uma arma parecida com um soco inglês, parecida com aquelas facas de combate, desferindo golpes e me cercando. Minha moto caiu no chão porque soltei dela. E a minha esposa atrás e o meu filho vendo tudo. De repente, ele começa a chutar minha moto e pisar nela. Foi quando consegui correr”, disse o magistrado.
O juiz contou que o sargento foi atrás dele com a faca (tipo karambit, muito usada em combate pessoal), dizendo que ia matá-lo. “Por sorte, tinha uma base móvel da Polícia Militar a uns 50 metros, e eu gritei: ‘Socorro! Socorro!’. E os policiais vieram e agiram, apontaram a arma para ele e pediram para soltar a faca. Inclusive, no primeiro momento, ele não queria soltar. E o policial ameaçou, falou que poderia atirar. Aí ele soltou a arma e foi contido pelos policiais”, detalhou o magistrado.
Injustificável
O juiz contou ainda não ter ocorrido nenhuma batida ou discussão no trânsito com o militar. “Nunca vi a pessoa, não conheço a pessoa, não tava entendendo o motivo do ocorrido. Me parecia que era uma pessoa que estava em surto. Foi o que eu imaginei. O sujeito surtou ou, talvez, me confundiu com outra pessoa. Era a única explicação, porque ele falava coisas assim desconexas. Eu não conseguia entender, acho que pelo momento também. E ele falava que iria me matar”, disse o juiz.
Após ser detido, o sargento alegou aos militares que o juiz tinha esbarrado com a moto no retrovisor do carro.
“Não esbarrei em nenhum retrovisor. Minha moto é até uma moto mais alta, né? Eu não vi o carro dele, mas me disseram que era um carro Ônix. Inclusive, o guidão da minha moto é mais alto do que o retrovisor do carro”, acrescentou.
Trauma
O juiz contou que a esposa e o filho acompanharam tudo. “Minha esposa aos prantos com meu filho, porque viram eu sendo perseguido com uma faca na mão na rua. No momento em que os policiais o contiveram e pegaram a arma, eu dei voz de prisão e pedi pros policiais apreenderem a arma dele”, disse. “Muito traumatizante. E isso faz a gente repensar os nossos caminhos, as nossas escolhas e valorizar a família, que vem à cabeça.”
A esposa do suspeito disse aos policiais que o marido está afastado da função e foi reformado por problemas de ordem psicológica, em função de um acidente de trabalho. O juiz explicou que a esposa do militar chegou à delegacia.
“Em prantos, me pediu desculpas. Falou que ele (o militar) não me conhece, que não tem nada contra a minha pessoa, que está com um problema psiquiátrico grave, que gerou a aposentadoria dele na polícia por invalidez. Disse que ele sofreu um acidente, teria perdido parte da massa encefálica. Ela chegou com atestado. Eu nem li, não entrei em detalhes, mas foi o que ela disse”, concluiu.
Flagrante
Procurada pela Itatiaia, a Polícia Civil confirmou a prisão em flagrante do militar. “O suspeito, um homem de 51 anos, foi conduzido e ouvido por meio da 2ª Central Estadual do Plantão Digital, onde teve a prisão em flagrante ratificada por homicídio na modalidade tentada. Após os procedimentos de polícia judiciária, ele foi encaminhado ao sistema prisional, ficando à disposição da justiça. As investigações prosseguem visando elucidar os fatos”.