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Ex-funcionário da Voepass revela que avião que caiu em 2024 teve falha um dia antes da queda

Em entrevista ao g1, o ex-funcionário, que não foi identificado, contou que a falha foi ignorada pela manutenção

Um ex-funcionário da Voepass revelou que a aeronave que caiu no ano passado em Vinhedo (SP) teve uma falha um dia antes do acidente, que foi reportada pelo piloto, mas ignorada pela manutenção. A informação foi dada ao g1.

O ex-auxiliar de manutenção da companhia relatou que o piloto que utilizou o ATR 72-500 na noite anterior relatou à equipe de manutenção que havia enfrentado problemas o sistema de degelo do avião. A falha deveria impedir que a aeronave decolasse no dia seguinte para Cascavel (PR), mas foi omitida do diário de bordo técnico, o livro que registra as principais ocorrências mecânicas a bordo de uma aeronave. Por isso, ela foi ignorada pela manutenção.

“Essa aeronave nunca tinha apresentado esse tipo de falha, né? Só que no dia do acidente, quando essa aeronave chegou de Guarulhos para Ribeirão, ela foi reportada verbalmente pelo comandante que trouxe ela. Foi alegado que ela tinha apresentado o airframe [fault] durante o voo. E ela estava desarmando sozinha. Ele acionava [o sistema] e ela desarmava. Coisa que não poderia acontecer.”

Vale lembrar que o pleno funcionamento do sistema de degelo é uma condição obrigatória para voos com destinos a regiões com previsão de formação de gelo. Esse era o caso do trajeto do voo 2283.

O voo que teve problemas foi o 2293, operado pela mesma aeronave que caiu em Vinhedo. O avião fez o trajeto de Guarulhos a Ribeirão Preto - onde ocorreu a reclamação - até 1h, ficou parado no hangar para manutenção de 1h às 5h30, decolou de Ribeirão a Guarulhos às 5h32, pousou às 6h35, voou de Guarulhos a Cascavel às 8h30, retornou de Cascavel a Guarulhos às 11h56 e caiu às 13h22 em Vinhedo. Tudo isso no dia 9 de agosto do ano passado.

O ex-funcionário contou que a decisão do piloto de não reportar a falha formalmente ocorreu devido à pressão que a diretoria da empresa fazia aos funcionários. A empresa supostamente orientava que eles evitassem que as aeronaves ficassem paradas para manutenção. O tempo para avaliar os aviões também era curto.

O líder do turno foi informado do alerta do piloto, mas, ao saber que não havia nada no livro de bordo, a decisão foi de ignorar o problema.

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Segundo informações contidas na caixa-preta, o botão de airframe de-icing, do sistema de degelo, foi acionado três vezes durante o voo de Cascavel até a queda em vinhedo. Provavelmente, segundo especialistas, ele não funcionou.

Para o ex-funcionário, se o problema fosse reportado, a tragédia teria sido evitada. “Se o piloto reporta, essa aeronave tinha ficado aqui [em Ribeirão Preto] ou ela não teria ido para o destino final que ela foi. Então, assim, com certeza um acidente poderia ter sido evitado.”, disse.

O caso ainda é investigado.

A Voepass não comentou sobre os problemas alegados pela testemunha, mas reiterou, em nota, que tem atuado de forma transparente junto às autoridades. “Seguimos colaborando com as investigações em andamento, reafirmando nosso compromisso com a apuração dos fatos e contribuindo com a melhoria contínua nos processos de segurança da operação aérea. Continuamos caminhando com responsabilidade, humanidade e empatia. Nossa solidariedade permanece firme — com os familiares das vítimas, com toda sociedade brasileira”, dizia a nota.

Relembre

Uma aeronave da Voepass caiu em 9 de agosto do ano passado em um condomínio residencial em Vinhedo, no interior de São Paulo. A aeronave do modelo ATR-72 decolou de Cascavel, no Paraná, com destino ao Aeroporto de Guarulhos, com 57 passageiros e quatro tripulantes a bordo. Não houve sobreviventes.

A Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros foram acionados por volta das 13h28. Sete equipes dos bombeiros foram mobilizadas ao local do acidente.

Em vídeos enviados à Itatiaia por moradores da região, era possível ver um corpo projetado para fora da aeronave, além de itens e pertences que estavam no interior do avião. Vídeos divulgados nas redes sociais também mostram o momento exato da queda.

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