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Cegueira por metanol: por que a intoxicação pode causar perda de visão?

Casos de contaminação associados ao consumo da substância em bebidas alcoólicas chamam atenção para seus riscos

Sintomas por intoxicação costumam surgir entre 12 e 48 horas após a exposição

Entre os casos de intoxicação por metanol, suspeitos ou confirmados, a perda de visão – que pode ser total, parcial ou temporária – tem sido um dos sintomas mais relatados pelas vítimas.

Até o momento, o Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) do Ministério da Saúde recebeu notificações de 59 casos de intoxicação por metanol, sendo 53 em São Paulo — 11 confirmados e 42 em investigação —, 5 em investigação em Pernambuco e um em Brasília, o cantor Hungria. Há ainda um óbito confirmado e sete em investigação.

Segundo a médica oftalmologista e membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), Nicole Ciotto, as manifestações visuais são, em regra, os primeiros sinais de que algo está errado. “A pessoa passa a perceber a visão borrada, como se estivesse olhando por um vidro embaçado ou por uma névoa. Alguns relatam a presença de ‘flocos de neve’ ou manchas escuras que dificultam a leitura”, afirmou a especialista em entrevista à Itatiaia.

É comum que o paciente apresente:

  • Visão borrada e embaçada;
  • Perda da nitidez das cores;
  • Fotofobia (aumento da sensibilidade à luz);
  • Redução da visão central, essencial para reconhecer rostos e ler.

A médica também informou que esses sintomas costumam afetar os dois olhos ao mesmo tempo e devem ser um sinal de alerta imediato, especialmente se houver histórico de ingestão de álcool de origem duvidosa.

O grande risco da intoxicação reside no ácido fórmico, um metabólito extremamente tóxico produzido no fígado a partir do metanol.

“O perigo maior não está no metanol em si, mas no que o organismo faz com ele”, explicou Ciotto. O ácido fórmico ataca células que consomem muita energia, como as do nervo óptico. Ele age bloqueando o funcionamento das mitocôndrias, as organelas responsáveis pela produção de energia celular.

“Sem energia, as fibras nervosas deixam de funcionar e começam a morrer. Esse processo leva à falência do nervo óptico e, consequentemente, à perda visual”, disse a médica oftalmologista. A ação do ácido fórmico também gera uma acidose metabólica, um desequilíbrio que agrava os danos ao tecido nervoso.

Tempo de reação é crucial para evitar a cegueira

Os sintomas por intoxicação costumam surgir entre 12 e 48 horas após a exposição, podendo demorar mais se o metanol for consumido junto com o etanol (álcool comum).

“O etanol compete com o metanol no metabolismo, retardando a formação do ácido fórmico. Esse intervalo pode confundir o paciente, que inicialmente se sente bem, mas depois evolui de forma abrupta para perda visual”, alertou a médica.

A médica enfatizou que a rapidez no socorro é determinante. “A cegueira não é necessariamente irreversível. Se o atendimento médico ocorre de forma precoce, existe chance de recuperação parcial ou até total da visão, já que o tratamento pode interromper a ação tóxica sobre o nervo óptico”, explicou.

No entanto, em casos de demora, o dano se torna permanente. “Como as células do nervo óptico não se regeneram, o dano se torna permanente, resultando em cegueira irreversível”, concluiu a especialista.

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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde
Izabella Gomes é estudante de Jornalismo na PUC Minas e estagiária na Itatiaia. Atua como repórter no jornalismo digital, com foco nas editorias de Cidades, Brasil e Mundo.