A escritora Camila Panizzi Luz foi retirada das atividades do Festival Literário Internacional, em Poços de Caldas, no interior de Minas Gerais, após a organização do evento considerar falas dela durante uma mesa como de “cunho racista”. Seus livros ainda foram recolhidos da atração.
“O Flipoços 2025 repudia veementemente qualquer ato de racismo, discriminação ou preconceito. Nosso evento tem como pilares a diversidade, a inclusão e a valorização de todas as vozes, especialmente aquelas que historicamente foram silenciadas. Durante uma das mesas do Festival, um dos integrantes do Movimento Neomarginal foi alvo de um episódio lamentável de cunho racista”, diz o festival em nota publicada nas redes sociais.
Em sua apresentação no evento, Camila associou a literatura marginal à prisão, falas que o também escritor Wesley Barbosa, integrante do Coletivo Neomarginais, reconheceu como racistas. O escritor divulgava a obra “Viela Ensanguentada” no Festival.
Durante a conversa, a escritora perguntou a Wesley como poderia se tornar uma neomarginal. O autor rebateu dizendo que bastava ela ser “ela mesma”, mas Camila emendou: “eu quero ser uma neomarginal, gente. Olha que tudo. Camila Luz Neomarginal. Nunca fui presa, mas agora sou da sociedade, né?”.
Em entrevista após o evento, Wesley afirmou que se sentiu ofendido pelo comentário. “Literatura marginal é um movimento literário. Ela falou que agora ela vai ser uma neomarginal, mas ela nunca foi presa. Então, ela não tem cultura, ela não sabe o que é esse movimento marginal. Eu me senti indignado, me senti atacado. Eu senti que eu sofri racismo ali porque isso daí foi me associar a um criminoso. Eu não sou criminoso, eu sou um escritor, eu sou um autor independente”, desabafou.
Diante das falas da autora, a Flipoços decidiu por “romper vínculos entre a autora e sua programação”, além de “retirar seus livros da Feira e cancelar todas as demais atividades em que a autora estaria vinculada neste e em outras realizações do Festival”.
“Visando preservar o respeito e a escuta mútua nas próximas edições, o evento se compromete à abertura de uma convocatória de escuta para fortalecer a curadoria, que sempre esteve aberta a todos as formas de pensamentos enaltecendo a diversidade, representatividade e a pluralidade de vozes”, diz a organização também em nota.
Em comunicado, Camila reconhece que houve “uma fala infeliz” e diz que pode ter sido mal interpretada. “Lamentamos profundamente se alguém se sentiu ofendido”, pontua.