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Entenda quem é Kat Torres, influenciadora acusada de tráfico de pessoas e trabalho análogo a escravidão

A ex-modelo e ‘guru’ de Instagram é investigada pelo tráfico de ao menos 20 jovens brasileiras aos Estados Unidos; ela foi condenada a oito anos de prisão pelo tráfico de uma das vítimas e condições análogas à escravidão

Kat Torres cumpre pena em Bangu, no Rio de Janeiro

O lançamento do documentário “Do like ao cativeiro: ascensão e queda de uma guru do Instagram”, produzido pela BBC News Brasil, e disponível no YouTube, fez com que a influenciadora e ex-modelo Katiuscia Torres voltasse aos holofotes.

Conhecida como Kat Torres, ou Kat Luz, a influenciadora é investigada pelo tráfico de ao menos 20 jovens brasileiras aos Estados Unidos. Kat ganhava a confiança das vítimas, prometia melhores condições de vida para elas, e as convencia a mudar para a sua casa em Nova York, sob o pretexto que as jovens fossem trabalhar com ela.

Mas ao chegarem na casa da influenciadora, as meninas descobriam que tudo não passava de mentiras e falsas promessas. Elas eram forçadas a trabalhar sem remuneração, ameaçadas e algumas chegaram a se prostituir por obrigação.

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No dia 28 de junho deste ano, a influenciadora foi condenada a oito anos de prisão por submeter uma dessas mulheres a tráfico humano e condições análogas à escravidão. A decisão foi expedida pelo juiz da 10ª Vara Federal fluminense Marcelo Luzio Marques Araújo. Atualmente ela cumpre pena no Complexo Penitenciário Santo Expedito, em Bangu, no Rio de Janeiro.

Quem é Kat Torres?

Nascida em uma família pobre em Belém, no Pará, Katiuscia Torres se mudou ainda na adolescência para o Rio de Janeiro para tentar a carreira de modelo. No exterior, ela chegou a fazer alguns trabalhos para marcas famosas, como: Victoria’s Secret, L'Óreal e Gillette.

Porém, Kat só conquistou o posto de influenciadora após aparecer com Leonardo DiCaprio, um dos maiores astros de Hollywood, e fazer participações em um longa da série “Velozes e Furiosos”.

Ex-modelo ganhou fama após ser flagrada ao lado do ator Leonardo Di Caprio

Mostrando uma vida aparentemente perfeita nas redes sociais, ela se transformou em “life coach”. Ela criou um curso que prometia evolução espiritual, além de sucesso nas finanças e vida amorosa. A ex-modelo também publicou um livro autobiográfico, chamado “A Voz”, no qual afirma ter poderes espirituais e conseguir fazer previsões.

Nas redes sociais, Kat Torres publicava vídeos com conselhos sobre relacionamentos, bem-estar, sucesso nos negócios e espiritualidade, incluindo hipnose, meditação e exercícios. Por US$ 150 adicionais (o equivalente a R$ 817), a influenciadora agendava consultas individuais com os seguidores. Ela afirmava ser capaz de resolver qualquer problema.

“Ela estava em capas de revistas, ela foi vista com pessoas famosas como Leonardo DiCaprio, tudo o que eu vi parecia confiável”, disse Ana, uma das vítimas da influenciadora, à BBC.

Acusação de tráfico de pessoas e escravidão

O sucesso de Kat Torres, no entanto, acabou após ela ser acusada de traficar uma seguidora. Ela começou a ser investigada pelo FBI, em setembro de 2022, após as famílias de duas brasileiras, Desirrê Freitas e Letícia Almeida, denunciarem o desaparecimento das jovens.

Kat Torres (à esquerda), Desirrê (centro) e Letícia (à direita)

As jovens haviam se mudado para a casa de Kat Torres para trabalharem com ela. À BBC, Desirrê afirmou que foi pressionada a trabalhar em clube de strip, e com o passar do tempo a se prostituir. A jovem era ameaçada pela influenciadora e era obrigada a entregar todo o dinheiro que ganhava com os programas sexuais para Kat.

Ainda segundo o documentário, a influenciadora estabelecia uma meta de dinheiro para cada uma das vítimas. Os valores giravam em torno de até US$ 3 mil (R$ 16,35 mil) por dia. Se elas não cumprissem, elas não poderiam dormir em casa naquela noite. “Acabei dormindo várias vezes na rua porque não consegui bater a meta”, diz Desirrê.

Kat nega as acusações

Entrevistada pela BBC, a influenciadora negou as acusações. Atualmente ela cumpre pena por tráfico humano e condições análogas à escravidão no Complexo Penitenciário Santo Expedito, em Bangu, no Rio de Janeiro.

Kat Torres deu entrevista para o documentário de dentro da cadeia

“Eu tive crises e mais crises de riso com tanta mentira que eu escutei. Todo mundo na sala podia ver que as testemunhas estavam mentindo. As pessoas me chamam de guru falsa, mas ao mesmo tempo elas falam: ela é muito perigosa. Cuidado com ela, porque ela pode mudar o que as pessoas pensam”, afirmou à equipe de reportagem.

O advogado dela, Rodrigo Menezes, afirmou à BBC que recorreu da decisão e que ela é inocente. Uma outra investigação baseada em denúncias de outras mulheres está em curso no Brasil.


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Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.