A moda original de Minas tem de tudo: ousadia, luxo, política, cor, organização, quebra de rótulos.
A primeira mulher considerada estilista no Brasil nasceu e fez seus primeiros desfiles em Belo Horizonte. Também foi na capital que a primeira versão do que o Brasil entende como calendário de moda começou a tomar forma.
Conheça alguns artistas e movimentos criados originalmente em Minas, e que passaram a ocupar espaço para além do nosso estado.
Grupo Mineiro de Moda (GMM)
Antes do GMM, o conceito de marcas reunidas para lançamentos e showroom para vendas não era tão popular assim em termos de negócios.
Nos anos 1980, a cultura de Belo Horizonte passou a respirar inspirada em cortes, linhas e costura. O Grupo Mineiro de Moda foi uma resposta de 10 marcas de Minas que queriam provar que o cenário de moda no Brasil não estava restrito só a São Paulo e Rio de Janeiro.
As marcas que deram início ao coletivo do Grupo Mineiro de Moda foram: Allegra, Art Man, Barbara Bela, Comédia, Eliana Queiroz, Frizon, Mabel Magalhães, Patachou, Renato Loureiro e Sonia Pinto – cada uma com seu devido estilista representante.
A ideia do coletivo criativo era fazer lançamentos de moda de forma conjunta, mas de maneira a ainda preservar a autenticidade de cada marca.
O resultado movimentou a cultura do estado, e chamou a atenção da imprensa nacional também.
Desfiles exuberantes
Outra ocasião marcante foi o desfile das 10 marcas realizado na Praça da Estação, bem no centro da capital.
Como se o evento cheio de marcas locais não pudesse ser mais mineiro, um trem passou ao fundo, na estação ferroviária. Ao invés de interromper o desfile, foi praticamente integrado à ele.
O último desfile realizado pelo Grupo foi em 1994, no pátio da Igreja São Francisco, em
Calendário da cidade
Os desfiles e lançamentos de coleção do GMM passaram a movimentar o calendário da cidade. Os desfiles e coquetéis marcavam o início da temporada de lançamentos, e as visitas aos showrooms de estilistas passaram a significar negócios fechados.
Esse conceito de comercialização de peças via showroom é atribuído ao Grupo Mineiro de Moda. E é a partir disso que um dos eventos mais importantes da moda mineira teve início.
Minas Trend Preview (MTP)
A convenção, que surgiu há 16 anos como uma consequência indireta da organização iniciada pelo Grupo Mineiro de Moda, passou a integrar o calendário de moda como o maior salão de negócios do setor da América Latina.
Todo ano, além de desfiles das marcas de maior destaque do momento, o MTP também promove oportunidades de negócios no showroom das marcas.
Embora o
Não apenas por compradores terem acesso mais direto às marcas e produtos, mas porque é também pelo Minas Trend que várias marcas de Minas, hoje já consolidadas, começaram a ganhar importância nacional – como a LED e NotEqual.
Destaques da moda mineira: segmento de luxo
Veja as marcas fashion de Minas e como as peças criadas repercutem Brasil (e mundo) afora.
Patrícia Bonaldi
A estilista navegou do mercado de festa, com vestidos elegantes e bordados, para a moda mais casual.
São 20 anos de marca e vendas em mais de 20 países.
Recentemente, PatBo recebeu atenção mundial por ter criado peças exclusivas para Beyoncé, usadas pela cantora durante a
Bianza
O destaque da marca são as peças de alfaiataria e a atenção aos detalhes.
O resultado são peças delicadas e com acabamento impecável. Recentemente, a marca abriu uma loja física no Itaim Bibi (bairro de luxo em São Paulo).
Gustavo Lins
Nascido em Belo Horizonte, Gustavo é o único integrante latino americano da Fédération de la Haute Couture et de la Mode – o órgão regulador da indústria da moda francesa, responsável por promover a moda francesa, bem como regular e proteger a alta costura.
Sua marca existe desde 2004 e seu ateliê está em Paris. O estilista já trabalhou como modelista para marcas de renome mundial como John Galliano, Kenzo e Louis Vuitton.
Moda mineira: versão casual wear
O público mineiro também está bem servido quando se trata de roupas mais casuais.
Conheça algumas marcas que nasceram em Minas, feitas por mineiros, e que ganharam repercussão no país.
NotEqual
Uma marca baseada em roupas criadas sem gênero – que possam ser usadas tanto por mulheres, quanto por homens.
O trabalho é marcado por modelagem oversized e amarrações.
Chico Rei
Empresa que começou nos corredores da Faculdade de Artes de Juiz de Fora.
A Chico Rei se consolidou com camisetas de estampas inusitadas, muitas vezes fazendo referência a elementos da cultura mineira e brasileira.
Têm grande compromisso com impacto social e anunciam isso como parte do DNA da marca.
Nephew
Criada por Vitor Sobrinho, DJ de BH, a Nephew tem mais de 10 anos de existência. Já criou coleções colaborativas com grandes marcas como Redley. Traz um visual bem urbano, inspirado no estilo hip hop.
LED
As roupas são baseadas em questionar o que é feminino e masculino. No desfile, elementos dados como femininos são apresentados por modelos homens.
Além de participar de desfiles na São Paulo Fashion Week e MTP, a LED já vestiu artistas de renome nacional como Liniker, Ludmilla,
A moda de Minas conta histórias: Ronaldo Fraga e Zuzu Angel
Falar de moda de Minas Gerais e não lembrar desses dois nomes é deixar de lado uma parte importante da cultura mineira.
Zuzu Angel foi considerada a primeira estilista brasileira. Durante os anos 1960, suas roupas eram usadas pela alta sociedade carioca e tinha como clientela figuras de alto-nível – como a então primeira-dama Sarah Kubitschek.
Além da qualidade do seu trabalho, Zuzu usou seus desfiles para fazer denúncias contra assassinatos cometidos na ditadura – sendo seu filho, Stuart, uma das vítimas. Após alguns anos de mistério por trás da morte da estilista, confirmou-se décadas mais tarde que, assim como seu filho, ela também foi uma vítima da ditadura.
Ronaldo Fraga usa o seu trabalho como estilista para representar o Brasil como um todo. Com mais de 30 anos de carreira formando sua bagagem, o estilista lançou várias coleções, participou de diversas edições do São Paulo Fashion Week, Minas Trend Preview, e mostrou um pouquinho do Brasil em desfiles fora do país também – como Japão, México, Espanha e Chile.
O estilo de Ronaldo Fraga traz cor, mistura, diversidade – elementos que ele mesmo considera como básicos do Brasil. A utilização de materiais e tecidos típicos do Brasil também faz parte da sua assinatura criativa.
