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Justiça absolve Júlio Cocielo das acusações de racismo em rede social

Juiz federal considerou que, apesar de mensagens serem de “alto teor irônico e de gosto discutível”, não há a presença de suposto crime apontado pelo MPF. Magistrado também cita que influenciador tem parentes negros

Processo de racismo contra Júlio Cocielo está pronto para ser julgado pela 1ª Vara Federal de Osasco (SP)

A 1ª Vara Federal de Osasco (SP) negou, nesta segunda-feira (20), um pedido do Ministério Público Federal e absolveu Júlio Cocielo da acusação de incitação ao racismo. O MPF queria a condenação do influenciador digital pela publicação de mensagens consideradas racistas em seu perfil no antigo Twitter (atual X).

O caso está relacionado a mensagens como “o brasil seria mais lindo se não houvesse frescura com piadas racistas, mas já que é proibido, a única solução é exterminar os negros”, “nada contra os negros, tirando a melanina…” e “Mbappé conseguiria fazer uns arrastão top na praia hein” (em alusão à velocidade do jogador francês afrodescendente Kylian Mbappé, publicada em junho de 2018). Em meio à repercussão negativa, Cocielo apagou mais de 50 mil mensagens e pediu desculpas.

Ao analisar o caso, o juiz federal Rodiner Roncada comentou que as publicações de Cocielo eram de “alto teor irônico e de gosto discutível”, mas que não enxergava o suposto delito apontado pelo MPF.

O magistrado lembrou que a discriminação racial (prevista na Lei do Racismo – 7.716/89) tem como objetivo anular ou restringir os direitos humanos e as liberdades fundamentais de determinados grupos, mas que isso não ficou demonstrado no caso de Julio Cocielo.

“Assim sendo, a ocorrência do crime depende da prova inequívoca de ter o agente, com vontade consciente, praticado, induzido ou incitado o preconceito ou discriminação racial, sabendo que seu comportamento - baseado em uma conduta discriminatória, motivada pelo próprio preconceito, com ideias de superioridade de um determinado grupo/raça sobre outro - restringe, limita, exclui, dificulta, separa, cria preferências, priva alguém de direitos ou concorre perigosamente para essa privação”, destacou o juiz.

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Além disso, Roncado destacou o depoimento do influenciador. Em interrogatório, Cocielo afirmou que não teve a intenção de ofender qualquer raça ou etnia, “mas apenas desejava ser engraçado e entreter sua plateia em seu palco”.

“As testemunhas confirmaram que o acusado nunca demonstrou comportamento ou atitude racista, sendo que as postagens eram sabidamente voltadas para o humor, segmento profissional do réu. Cabe ressaltar que não houve notícias, durante a fase investigativa ou em juízo, de que o réu tenha tido uma conduta social discriminatória ao longo de sua vida, com episódios envolvendo a prática de racismo.”

O juiz destacou que Júlio Cocielo tem parentes negros. “Não há nada nos autos que denote que o acusado, cuja família é afrodescendente, tenha tido a intenção de fazer piada com o intuito deliberado de atingir a comunidade negra (da qual faz parte, inclusive), a fim de incitar comportamentos racistas”, disse Roncado, completando:

“De fato, os elementos de prova não são aptos a evidenciar, de forma satisfatória, que o réu tenha agido com consciência e vontade de incitar a prática de preconceito e incentivar a segregação ou impedir o acesso a direitos pelas pessoas de cor preta em geral, com potencialidade mínima a dar causa a tais resultados.”

Cabe recurso.


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É jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Cearense criado na capital federal, tem passagens pelo Poder360, Metrópoles e O Globo. Em São Paulo, foi trainee de O Estado de S. Paulo, produtor do Jornal da Record, da TV Record, e repórter da Consultor Jurídico. Está na Itatiaia desde novembro de 2023.