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Ziraldo era um ‘vulcão de criatividade’, diz diretor de ‘O Menino Maluquinho’ nos cinemas

Helvécio Ratton trabalhou com o cartunista na montagem do roteiro de filme de 1996

‘O Menino Maluquinho’ marcou gerações e rendeu, além de livros, filmes e uma série televisiva

Sem conseguir contar “carneirinhos” e tampouco “coelhinhos, que são mais rápidos”, Maluquinho (Samuel Costa) resolve ficar perto do avô, recostado na rede de sua fazenda. Instantes depois, percebe que Hortêncio (Luiz Carlos Arutin), morreu dormindo. É assim que “O Menino Maluquinho”, o filme dirigido por Helvécio Ratton em 1996, conta a história do “Vô Passarinho”.

Ziraldo, o pai de Maluquinho, também morreu dormindo, neste sábado (6), no Rio de Janeiro, aos 91 anos. Triste com a morte do cartunista, Ratton vê, no legado do quadrinista, um alento à notícia. Mineiro como Ziraldo, Helvécio chama o multiartista de “vulcão de criatividade”.

“Foi um prazer trabalhar com ele. Ao mesmo tempo em que tinha posições muito firmes, sabia ouvir”, diz, à Itatiaia, ao relembrar a parceria com o quadrinista para tirar do papel o filme de 1996.

O cineasta e o cartunista escreveram, juntos, o roteiro do filme. O longa retrata as peripécias de um menino sem nome civil divulgado — mas com uma panela na cabeça — pelas ruas do Bairro Santo Antônio. No filme, assim como nas versões impressas e na série televisiva exibida pela “TV Brasil” nos anos 2000, Maluquinho é ladeado por fiéis escudeiros, como Julieta, Bocão, Junin e Lúcio.

“O Menino Maluquinho, o livro, não conta uma história. Ele cria um personagem. A partir desse personagem, trabalhamos para contar uma história”, explica Helvécio.

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Ziraldo nasceu em Caratinga, no Leste mineiro; Helvécio, em Divinópolis, no Centro-Oeste. Ainda menino, o cineasta conheceu as histórias do cartunista — por meio, sobretudo, das edições da revista em quadrinhos “A Turma do Pererê”.

“Por um lado, fico triste com a notícia da partida dele. Mas, por outro lado, sei que ele deixou uma obra maravilhosa. Minha relação com Ziraldo começou na infância, quando comecei a ler o Pererê, revista com personagens ‘superbrasileiros’. Ziraldo trazia, às crianças, a cultura brasileira. Em um momento que tínhamos as histórias da Disney, Ziraldo trouxe uma coisa muito brasileira”, aponta.

Nas telonas, em 1998, a história ganhou uma segunda parte nas telonas. “O Menino Maluquinho 2 - Aventura”, passado na fazenda do outro avô de Maluquinho, Tonico.

‘O Pasquim’ e os dribles na repressão

A inspiração dada por Ziraldo a Helvécio Ratton vai além das histórias ficcionais. Isso porque a atuação do cartunista em “O Pasquim”, jornal que dava voz a críticos da ditadura militar, ajudou o cineasta a forjar sua arte.

“Você lia, nas entrelinhas, a crítica que ele estava fazendo. O Pasquim teve papel fundamental. Era um respiro que tínhamos”, diz Ratton, enaltecendo os dribles que a caneta de Ziraldo dava na censura imposta pelo regime militar.

Formado em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ziraldo exercitava a veia política com os trabalhos em “O Pasquim”

“Nos dava um certo alento. Me inspirou, sim, o fato de perceber que você podia usar sua criatividade a qualquer momento. Mesmo sob a censura que vivemos na ditadura, ele mostrava para a gente que era possível criar”, emenda Ratton.


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Graduado em Jornalismo, é repórter de Política na Itatiaia. Antes, foi repórter especial do Estado de Minas e participante do podcast de Política do Portal Uai. Tem passagem, também, pelo Superesportes.