Sem conseguir contar “carneirinhos” e tampouco “coelhinhos, que são mais rápidos”, Maluquinho (Samuel Costa) resolve ficar perto do avô, recostado na rede de sua fazenda. Instantes depois, percebe que Hortêncio (Luiz Carlos Arutin), morreu dormindo. É assim que “O Menino Maluquinho”, o filme
Ziraldo, o pai de Maluquinho, também morreu dormindo,
“Foi um prazer trabalhar com ele. Ao mesmo tempo em que tinha posições muito firmes, sabia ouvir”, diz, à Itatiaia, ao relembrar a parceria com o quadrinista para tirar do papel o filme de 1996.
O cineasta e o cartunista escreveram, juntos,
“O Menino Maluquinho, o livro, não conta uma história. Ele cria um personagem. A partir desse personagem, trabalhamos para contar uma história”, explica Helvécio.
Ziraldo nasceu em Caratinga, no Leste mineiro; Helvécio, em Divinópolis, no Centro-Oeste. Ainda menino, o cineasta conheceu as histórias do cartunista — por meio, sobretudo, das edições da revista em quadrinhos “A Turma do Pererê”.
“Por um lado, fico triste com a notícia da partida dele. Mas, por outro lado, sei que ele deixou uma obra maravilhosa. Minha relação com Ziraldo começou na infância, quando comecei a ler o Pererê, revista com personagens ‘superbrasileiros’. Ziraldo trazia, às crianças, a cultura brasileira. Em um momento que tínhamos as histórias da Disney, Ziraldo trouxe uma coisa muito brasileira”, aponta.
Nas telonas, em 1998, a história ganhou uma segunda parte nas telonas. “O Menino Maluquinho 2 - Aventura”, passado na fazenda do outro avô de Maluquinho, Tonico.
‘O Pasquim’ e os dribles na repressão
A inspiração dada por Ziraldo a Helvécio Ratton vai além das histórias ficcionais. Isso
“Você lia, nas entrelinhas, a crítica que ele estava fazendo. O Pasquim teve papel fundamental. Era um respiro que tínhamos”, diz Ratton, enaltecendo os dribles que a caneta de Ziraldo dava na censura imposta pelo regime militar.
Formado em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ziraldo exercitava a veia política com os trabalhos em “O Pasquim”
“Nos dava um certo alento. Me inspirou, sim, o fato de perceber que você podia usar sua criatividade a qualquer momento. Mesmo sob a censura que vivemos na ditadura, ele mostrava para a gente que era possível criar”, emenda Ratton.