O jornal foi criado por ele e outros jornalistas e cartunistas como Jaguar (Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe), Henfil (Henrique de Souza Filho) e Millôr Fernandes. O periódico, que tecia críticas à ditadura,
A Biblioteca Nacional Digital, BNDigital, que busca preservar a memória documental brasileira, traz relatos de Ziraldo sobre este período.
“A gente tinha, na época do Pasquim, época da ditadura, quer dizer, todo mundo silenciado, e nós todos tivemos o privilégio de não ficar calado. Quer dizer, de não engolir o que os caras queriam enfiar pela garganta da gente. E isso é muito salutar, entendeu? Então as pessoas que foram para o Pasquim, foram porque acharam um espaço para poder desenvolver a sua indignação”, relembrou o cartunista.
O cartunista contou, ainda, que o Pasquim foi “um privilégio”, tendo em vista os “anos de chumbo” que precisou atravessar em sua vida. “Eu pude atravessar a ditadura toda no Pasquim — em vez de ficar em casa chorando as mágoas, usamos as páginas do jornal para enfrentar a ditadura. Simultaneamente ao Pasquim, que não rendia dinheiro pra gente, fui um dos primeiros profissionais brasileiros a assinar peças publicitárias”, detalhou.
Em 2008, ele chegou a receber indenização de mais de R$ 1 milhão do Estado por causa da repressão que sofreu neste período.
Prisão
Ziraldo também falou sobre o período em que esteve preso, no qual ele teve uma “crise de choro”. Ele desmentiu que havia sido detido por causa de “um balãozinho em D. Pedro com a frase: ‘Eu quero é mocotó’, na cópia do quadro de Pedro Américo sobre a proclamação da Independência”.
Segundo Ziraldo, não havia um motivo determinado. “Primeiro eles nos prenderam, depois foram pesquisar o jornal para encontrar uma justificativa para cada prisão”, recordou.
Na prisão, conforme o cartunista, eles tomavam “banho de lua” no período da noite enquanto eram vigiados por “caras com metralhadoras”.
Menino Maluquinho
O personagem “O Menino Maluquinho” foi criado por ele na década de 80, “quando a ditadura voltou para os quartéis e o Pasquim perdeu o vigor”.
“O livro fez tanto sucesso que eu virei autor para criança e sobrevivo hoje como autor para criança”, comentou.
Morte
O cartunista Ziraldo Alves Pinto, de 91 anos, morreu neste sábado (6). O escritor estava em seu apartamento, no bairro da Lagoa, no Rio de Janeiro, quando veio a óbito.
Ziraldo nasceu em Caratinga, no Vale do Rio Doce, no dia 24 de outubro de 1932.
O mineiro atuava como cartunista desde o início da década de 1950. Paralelamente à carreira artística, se graduou em Direito na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1957.
Além de “O Menino Maluquinho”, que, de livro, foi transformado em livro e série televisiva, o desenhista se notabilizou, por exemplo, pela revista em quadrinhos “A Turma do Pererê”, que também ganhou adaptação audiovisual.
O primeiro livro do mineiro, “Flicts”, foi lançado em 1969. A obra conta a história de Flicts, um tom do bege que se sente isolado por não conseguir se encaixar nas cores do arco-íris.
O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro (RJ) expõe, atualmente, a mostra interativa “Mundo Zira”, que conta a trajetória artística do cartunista.
Com informações de Guilherme Peixoto