Fechar as portas. Este é um dos grandes temores de quem tem um estabelecimento comercial. Com as restrições de circulação e a crise econômica causadas pela pandemia de Covid-19, muitos empreendedores viram os clientes sumirem e, com isso, presenciaram esse medo se concretizar. Mas se a porta da loja física teve que se fechar, uma grande janela de oportunidades se abriu com o mercado digital. É o que aconteceu com o negócio de Cristiane Belo, que fechou a loja física de roupas, acessórios e produtos infantis, para focar nas vendas pela internet.
“A pandemia me afetou com aquele lockdown. Eu venho de uma loja física. Então eu tive que fechá-la e optei por uma loja 100% online, justamente por causa das restrições”, explica. Com isso, o negócio dela se aproximou dos clientes e se livrou de grandes despesas, como o aluguel. Hoje, as vendas são feitas pelo Instagram.
“As despesas são muito caras, tem aluguel, funcionários, imposto, etc. Então, eu tinha uma despesa fixa de mais ou menos R$ 16.000. Com a pandemia, observei que a minha venda pelo Instagram era maior do que na loja física, que servia muito mais de suporte, onde as pessoas iam para fazer a retirada dos produtos”, relembra.
Quem tem na veia o espírito empreendedor, também consegue perceber o surgimento de oportunidades em momentos de crise. É o caso de Rafaela Alcântara, que começou vendendo roupas em lives e, diante da demanda, passou a facilitar esse tipo de transmissão ao vivo para outros empreendedores.
“Eu sou empresária há 20 anos do Comércio Varejista, e a pandemia me afeta demais, principalmente com as lojas fechadas, né? Então, criei as lives de vendas, que era um modelo onde eu vendia direto pelas transmissões ao vivo do Instagram. Isso virou um novo negócio, então hoje presto consultorias para outras empresas e ensino a fazer as lives de vendas”, detalha.
Ela também comemora a redução de despesas com aluguel e impostos, ao migrar totalmente para o mercado digital.
“A despesa de uma loja física é muito grande, principalmente com o aluguel, funcionário e os impostos, que são muitos, como a taxa de placa, taxa de fiscalização de bombeiro, ICMS, entre outros. Migrando para o digital, eu cortei esses custos de uma forma super significativa e a minha renda aumentou consideravelmente”, celebra.
Os desafios surgidos com a pandemia aceleraram o aumento da presença digital dos negócios, pois provocaram uma mudança nos hábitos de consumo, como explica a analista de Inovação do SEBRAE, Carla Goob.
“De acordo com a pesquisa realizada pelo Sebrae, seis em cada dez empreendedores divulgam ou vendem pela internet, enquanto dois em cada dez realizam essas atividades exclusivamente nos meios digitais. A pandemia acelerou o processo de digitalização das empresas, e por conta das medidas de isolamento social em 2020 e 2021, estabelecimentos precisaram ficar fechados por um longo período e o digital acabou sendo a única possibilidade para muitos continuarem conversando e tendo um relacionamento com o cliente”, pontua.
A Analista do Sebrae alerta, no entanto, que, mesmo quem migrou totalmente para o digital também precisa ficar atento às despesas fixas do seu negócio.
“Depende muito do modelo de negócio, mas eles precisam estar preparados para lidar com despesas com funcionário, aluguel, manutenção de espaço físico, mesmo em um ambiente digital. Deve ser claro quais são as despesas fixas que não dá para fugir”, esclarece.
Nesse novo ambiente de vendas, a analista explica que conhecer o cliente é fundamental para alcançar o sucesso.
“A partir disso, é possível definir os canais e as estratégias mais assertivas. Existem outras possibilidades, como os marketplaces. Além de ser importante buscar a capacitação, é participar de cursos, oficinas, eventos, conversar com outros empreendedores e observar o mercado, e saber o que está acontecendo, o que as outras empresas estão fazendo”.
As duas empreendedoras também dão dicas para quem quer vender mais no digital. Cristiane Belo sugere o constante aprendizado.
“Sou super a favor desse mundo digital. Acho que o mundo é esse mesmo, não tem como mudar. Vamos estudar, porque hoje a gente vende de um jeito, amanhã vendemos de outro”, diz.
Já Rafaela Alcantâra conta que o sucesso está interligado à persistência.
“Assim como tem que ter persistência numa loja física, em uma digital também. Além de lembrar todos os dia que as pessoas precisam te conhecer e confiar em você", conclui.